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Hugo Studart lança livro sobre a Guerrilha do Araguaia sob protestos

Por Rafael Brito em 15/08/2018 às 10:50:21

Durante lançamento do livro, manifestantes protestaram contra a ditadura (Foro: Rafael Brito)

Noite movimentada na pacata livraria Argumento, recanto do Baixo Leblon, na Zona Sul do Rio. Enquanto lá dentro acontecia o lançamento nacional do livro "Borboletas e Lobisomens: vida, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia", autoria do jornalista e historiador Hugo Studart, do lado de fora, cerca de 50 manifestantes do Grupo Tortura Nunca Mais promoveram um ato de repúdio a obra.

Para o autor do livro, a maior polêmica que inflama os opositores é o que na obra está descrita como "Operação Mortos-Vivos", na qual ele revela que sete guerrilheiros fizeram "delação premiada" para escapar da morte e ganhar nova identidade no programa de proteção a testemunhas do regime militar.

Dentre os guerrilheiros delatores, Studart cita René Silveira, o Duda, irmão de Elizabeth Silveira e Silva, membra do Tortura Nunca Mais. Segundo o autor, a indignação é seletiva: "o que está em jogo são as indenizações pagas às vítimas da ditadura militar e a suas famílias", opina Hugo Studart.

"Afirmar que alguém saiu vivo da Guerrilha e não apresentar documentos e provas da afirmação, além de ser cruel com os familiares, é continuar torturando quem eles torturaram todos esses anos", desabafa Elizabeth Silveira, presente no ato de repúdio ao lançamento do livro. Ela diz que o movimento questiona a veracidade dos documentos que serviram de base para as afirmações do historiador.

Elizabeth nega que a questão das indenizações seja o motivador dos protestos "anti-Studart" e dispara: "esse posicionamento dele é para desqualificar a nossa preocupação com a veracidade dos fatos. É um livro para justificar a violência que foi cometida e está servindo aos torturadores".

Em frente à Argumento, além de apitaço, gritos de ordem como "pela vida, pela paz, tortura nunca mais!" e "Fascitas não passarão!" eram ouvidos. Os manifestante vaiavam e chamavam de fascista a cada pessoa que saía ou entrava na livraria. Em um dos cartazes lia-se "Francisco Alves edita fakenews", em alusão à editora do livro.


Episódios obscuros da ditadura militar são revelados em livro

Com um pré-lançamento em Brasília, no mês passado, o livro "Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia" é a tese de doutorado do jornalista e historiador Hugo Studart e grande divisor de opiniões em torno dos obscuros fatos da ditadura militar. Nesta terça, 14, o lançamento nacional foi no Rio de Janeiro tumultuado por manifestantes militantes dos Direitos Humanos que contestam a obra.

Ao portal "Eu, Rio!", Hugo Studart disponibilizou o capítulo que ele considera o grande motivador da oposição a sua obra. Nele é revelado detalhes da "Operação Morto-Vivo", da qual sete guerrilheiros tiveram as vidas poupadas:

"Esses guerrilheiros, que passaram a ser chamados de "mortos-vivos" pelos militares, teriam feito acordo (hoje chamado de delação premiada) e recebido novas identidades.

Tal qual ocorre nos decantados programas de proteção às testemunhas dos Estados Unidos, pelo acerto, não poderiam sequer procurar suas famílias. Teriam que "morrer" da antiga vida e "renascer" com outra história. Alguns seguiram a ordem com rigor, como Hélio Luiz.

A Operação Mortos-Vivos encontra-se nas categorias dos chamados "segredos de Polichinelo", inclusive com alguns dos nomes dos sobreviventes conhecidos há quatro décadas por grande parte dos antigos militares da repressão, e há mais de 20 anos pelos militantes dos Direitos Humanos.

O ex-ministro Jarbas Passarinho já revelou, reafirmou e confirmou em entrevistas à imprensa a existência dos "mortos-vivos"; contou ainda que empregou dois deles no Ministério da Educação e Cultura, MEC, quando era o titular da pasta no governo de Emílio Médici.", afirma Studard na página 162 de sua obra.

Apêndice 1

A partir da página 510 em um apêndice de 26 páginas, o autor disserta sobre suas fundamentações teóricas e metodologia da pesquisa. Na páginas 517 é possível ler as seguintes ponderações do historiador:

"Ao longo de toda a narrativa, procurei analisar os eventos com distanciamento crítico.(...) Isto posto, esclareço que há muito o episódio histórico, a Guerrilha do Araguaia, me desperta inquietações pessoais. Venho trabalhando com o tema há mais de duas décadas, de início como jornalista, minha primeira carreira profissional; agora como historiador.(...)

Em 2005, defendi a dissertação, sob o título "O imaginário dos militares na Guerrilha do Araguaia (1972-1974)." O objeto daquela primeira pesquisa foi, tão somente, buscar analisar a guerrilha sob o ponto de vista dos militares."


Veracidade dos fatos questionada

Militantes de movimentos em defesa dos direitos humanos, como o Grupo Tortura Nunca Mais, contestam as narrativas de Hugo Studart, afirmando que a obra não tem documentos ou provas para sustentar as afirmações, além de desrespeitar a memória dos mortos, seus familiares e traz insinuações misóginas, ofensivas e caluniosas.

Para o grupo, as guerrilheiras são apresentadas como mulheres frágeis, delatoras e amantes dos seus algozes.


Eles destacam ainda que o autor é filho do tenente-coronel-aviador Jonas Alves Corrêa que "era o de chefe da Seção de Operações do CISA em Brasília durante a repressão no Araguaia. A partir de 1968, passou a organizar as redes de informantes, treinou civis e militares em operações de inteligência. Era especialista em recrutar militantes das organizações de luta armada, para infiltrar agentes, principalmente na região Centro-Oeste.", conforme se lê na página 628 do livro.

Às críticas, Studart responde: "a metodologia de pesquisa foi validada em sabatina de sete horas por sete doutores de quatro universidades, ganhou prêmio UnB de teses e foi finalista prêmio capes. A metodologia é válida para desvendar as circunstâncias do desaparecimento de 59 guerrilheiros, sendo 22 executados. É válida para fazer verbetes sobre mais 50 lugares, numa lista no qual Curió é o 38º na cadeia de comando só não é válida para informar que o irmão de Elizabeth não foi executado, mas fez acordo de delação e trocou de identidade"

Fotos: Rafael Brito

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