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Claudio Lyra ressalta o autoconhecimento e reflete sobre a luta para manutenção da sanidade em "Vale da Realidade". O artista procura seu lugar de fala tendo que aprender a conviver com os próprios fantasmas no terceiro single que tem a produção de Jr Tostói e precede o álbum "Lyra", previsto para o primeiro semestre de 2021. O lançamento é pelo selo Caravela Records, com distribuição da Warner Music Brasil.
Após trazer à tona a relação entre o homem e a tecnologia em "Não Tenho Mais Créditos" e as bifurcações que a vida oferece para as escolhas de rumo em "Deixa Eu Falar II", chegou a vez de Lyra questionar o seu lugar de fala em um mundo tão avesso ao que é de fato real, muito mais surpreendente que a ficção. "Minhas canções costumam ter essa pegada existencial, de questionar o meu lugar no mundo, de procurar o meu lugar de fala. Afinal de contas sou branco, hétero e classe média de Copacabana. Sempre questionei sobre qual seria o meu lugar de fala, mesmo antes de saber que a expressão existia", revela.
Segundo Lyra, a canção tem pelo menos três significados distintos. "O primeiro é o Vale como metáfora para o meu ponto de vista, o lugar de onde observo e tento entender a realidade que me cerca. O segundo é o vale no sentido de estar valendo, a vida real. E o terceiro é uma referência ao Marcos Valle, que é um dos meus heróis na música", pontua.
O cenário do mundo contemporâneo serviu de combustível para a decisão de Lyra em lançar "Vale da Realidade", música que - embora pareça ter sido composta na atualidade - já existe há muito tempo. Tudo começou no ano de 2018, num quarto de hotel. A melodia e o título surgiram primeiro, depois de um show com Carlos Lyra, Marcos Valle e Patrícia Alvi, em uma praça pública na cidade de Sorocaba, em São Paulo. A letra foi escrita meses depois, a partir de conversas que teve com amigos que passavam por dilemas parecidos, sobre os desafios que sua geração encarava como o cenário político e econômico da época. "Somos os dinossauros do milênio passado, os últimos que vão lembrar como era paquerar sem rede social, sobre como era a realidade antes da uberização das relações afetivas e de trabalho. Somos as cobaias desse momento de transição da humanidade", afirma.
Assim como os outros clipes deste disco, "Vale da Realidade" foi feito com baixíssimo orçamento, porém com muita criatividade e vontade. "Chamei um amigo fotógrafo para filmar, o Reynaldo Dias, e a Aline Vivas para direção do clipe. Transformamos o salão de festas do play do meu prédio em um estúdio de filmagem, com aquele fundo verde e fizemos algumas imagens minhas. A ideia do clipe é como se estivesse passando o filme da vida, as imagens sendo metáforas dos momentos bons e ruins, belos e tristes, que acontecem durante a nossa jornada neste planeta. Procurei por vídeos na internet que tivessem direitos liberados e acabou que o clipe ganhou essa dimensão de exposição de obras de artistas do mundo inteiro. México, Inglaterra, Brasil, Japão, Itália, Estados Unidos estão representados", lembra o artista. Segundo Aline Vivas, a concepção do clipe busca exteriorizar as questões que passam intimamente pela mente quando se olha para dentro de si.
Depois de dois discos com sonoridade analógica ("Em Paz Com os Meus", de 2008, e "Autobiografia Não Autorizada", de 2017) , Cláudio está finalizando Lyra, seu terceiro disco, produzido em parceria com Jr Tostoi, onde os sintetizadores ganham um lugar de destaque nos arranjos e nas canções.