Primeiro título em português sobre o tema, "Amores Internacionais: casei com um estrangeiro, e agora?", da jornalista Liliana Tinoco Bäckert, foi lançado dia 19 de novembro na internet, pela editora Inverso.
Basta abrir o Instagram para se deparar com mulheres brasileiras em fotos de paisagens estupendas ou em seus cotidianos fascinantes de casadas com estrangeiros pelo mundo. Essas histórias até poderiam soar como um conto de fadas moderno, se não fosse o lado B da realidade de lidar com o exótico dentro de casa. Tem glamour, mas também tem saudade, dor de ir embora, dificuldade de se comunicar com alguém que não fala seu idioma nas questões mais íntimas, entre outros desafios.
Com mestrado em Comunicação Intercultural pela Universidade da Suíça Italiana, Liliana Bäckert se baseia na sua experiência de casamento de 16 anos com um alemão na Suíça, em seus estudos sobre migração e em entrevistas com mais de 50 brasileiras e especialistas interdisciplinares, como psicólogos, psicanalista, sexólogo, estudiosos da Comunicação Intercultural, antropólogo e cientista social. O resultado é um retrato das uniões entre brasileiras e homens de outros países e as inúmeras relações sociais construídas a partir desses encontros.
Foto: Divulgação
Ineditismo
O casamento entre pessoas de diferentes culturas não é assunto novo, mas essa é a primeira vez que a realidade brasileira é retratada em material não acadêmico. Existe literatura vasta sobre o assunto em inglês, com casos de populações diversas da nossa.
O livro é uma mescla de histórias, nas quais a jornalista intercala sua própria experiência, com pesquisas sobre o assunto e o relato – ora dramático, ora cômico – de mulheres que têm relacionamento com homens oriundos de 18 países diferentes. O material demorou quase três anos para ser escrito.
- Eu queria dividir com os leitores as situações surreais que uma brasileira pode vivenciar ao se casar com alguém de uma outra cultura. Precisava contar que a vida se torna, no mínimo, mais complexa. Tenho certeza de que muita menina desconhece que precisará negociar valores importantíssimos para ela, mas considerados absurdos em outra cultura, como uma simples festa de aniversário de criança, por exemplo.
Ao retratar essas exóticas construções amorosas, o material aborda temas como racismo, feminismo, migração, adaptação a uma nova sociedade, reações familiares, vulnerabilidades femininas, criação de filhos no exterior, abusos psicológicos, tráfico de seres humanos, reinserção no mercado de trabalho, divórcio, guarda de menores, códigos de conduta e uma série de outros assuntos.
Sem pretensão de ser acadêmico
"Amores internacionais" se encaixa na categoria livro-reportagem. O material não é e nem pretende ser um trabalho acadêmico, com resultados de pesquisa científica. Trata-se de um panorama sobre as diferentes realidades dessas brasileiras e as consequências desses casamentos.
O livro foi pensado para mulheres que tenham uma relação com alguém de outra nação: namoradas, noivas e esposas. Pode ser estendido a mães e pais de um dos envolvidos, maridos estrangeiros que leiam em português, amigos, familiares.
Ajuda para lidar com estrangeiro
A autora parte do princípio de que uma pessoa de outro país pode mudar a dinâmica de encontros familiares e, inclusive, aumentar a quantidade de gafes em potencial. "Família brasileira quer mais contato, às vezes todo fim de semana, podendo passar por intrusiva, dependendo da cultura de onde vem o marido. E isso, acreditem, traz problema na relação. Acho fundamental que os parentes entendam que esse novo integrante tem expectativas e costumes distintos", explica a jornalista.
O material fala de migração, mas também traz questões que incluem a vida desse casal no Brasil. Aborda a reação dos amigos da noiva quando sabem que a amiga irá se unir a um estrangeiro. Algumas relatam que sofreram preconceito, inveja de pessoas próximas.
Formato
O livro foi escrito de maneira informal, em formato de contação de histórias. A autora decidiu não dividir em capítulos, mas em narrativas que dão sequências a assuntos importantes naquela construção temática. Quando se aborda a história de uma brasileira negra, por exemplo, que se casou com um alemão branco, os textos que se seguem falam sobre racismo, solidão da mulher negra e outros tópicos relacionados.
Com foco na brasileira, o livro traz análise de gênero, social e econômica, como integrantes de um processo no contexto do casamento intercultural.
Entrevistas de histórias de vida:
* Cerca de 60 brasileiras casadas com estrangeiros, três brasileiros com estrangeiras, e um suíço - no total de 19 nacionalidades diferentes: sérvia, francesa, suíça, nigeriana, polonesa, alemã, italiana, inglesa, iraquiana, portuguesa, chilena, irlandesa, tailandesa, mexicana, taiwanesa, norte-americana, eslovaca e norueguesa
* 35 histórias contadas
* As idades dos entrevistados variaram de 24 a 55 anos