Finalmente, com meses de atraso, correndo o risco de manchar a nossa reputação em imunização no mundo, e lutando contra os negacionistas, a Anvisa autorizou o uso emergencial das vacinas de Oxford e CoronaVac. O primeiro passo foi dado em São Paulo, nessa luta insana do presidente Bolsonaro e seus apoiadores contra a vacina e contra o governador de São Paulo. Mas como a guerra ainda não está vencida, temos apenas para comemorar que o pontapé inicial foi dado. Como se não bastassem todos os problemas envolvendo a imunização nacional, precisamos conviver com o incômodo de um presidente que, desde o início da Covid-19, esteve contra a vacinação e ainda quer procrastinar o possível.
Agora que perdeu essa luta, Bolsonaro vai para o segundo round, dizendo que ele quem optou pela vacina. Inacreditável. Depois de aparecer em lives, dizendo que a vacina não tem comprovação científica, que o melhor era aplicar cloroquina, o ministro da saúde Pazuello retrucou: “sabia que tudo o que foi comprado pelo Butantan foi com recurso do SUS? Todas as vacinas. Não foi com um centavo de São Paulo, (Tudo) autorizado por mim”. Mesmo com a luta em que o governador de São Paulo Dória esteve envolvido pela vacina e ser o primeiro estado a cuidar de seu povo, ele ainda não pode se considerar vencedor. Ué, o presidente não falou que não ia dar um centavo? São Paulo, desde o início, comprou com seus recursos, usou o Instituto Butantan, esteve à frente das tratativas com o laboratório chinês e produziu mesmo com a Anvisa procrastinando o possível.
Finalmente estamos prontos para virar jacaré. Evidentemente que, se houvesse um plano nacional de vacinação, se houvesse vontade política e responsabilidade com a população, não estaríamos debatendo e sim aguardando a vez para vacinar. O presidente é contra a vacina e se houvesse vacinação não seria por um laboratório chinês. O que representa isso? Não houve plano para imunização, a indústria até o momento estava sem insumos, esperava que a vacina da Inglaterra ficasse pronta primeiro, ou seja, erro atrás de erro que não se encerra por aqui. Pelo contrário: teremos muitas dificuldades pela frente. Demos início à campanha sem ter vacinas para todos. O que temos cobrirá 20% do grupo prioritário. Houve o fiasco da "Operação Índia", que já avisou que não pode enviar insumos para o Brasil nesse momento. O país está no fim da fila. Precisamos de mais de 300 milhões de doses para acabar com a pandemia e temos, atualmente, perto de seis milhões.
O ministro Pazuello, que reclamou de marketing do Governador Dória, iniciou a distribuição da Coronavac, resolveu fazer seu lançamento simbólico, já que não temos doses suficientes para todos. Além de marketing, o Ministro da Saúde deu um péssimo exemplo. Reuniu-se com aglomeração, com algumas pessoas sem máscaras, sem nenhuma informação relevante. Apenas tentando colar para si o fato que está fazendo algo para se livrar de responsabilidades futuras. Foi preciso chegar a marca de 210 mil vidas? Ou será que o início da vacinação foi apenas política? O clã Bolsonaro está nesse momento tentando reverter a situação dizendo que o presidente está empenhado na vacinação. Triste é ser um seguidor do "mito", pois você defende a cloroquina e a Anvisa, os cientistas e os pesquisadores dizem que não é recomendado. O presidente fez campanha contra a vacinação. Agora, tem de fazer a favor.
Por fim, fico com a frase da primeira enfermeira vacinada, Monica Calazans: "A vacina fará finalmente o Brasil sair das trevas”.