Já na 43ª DP, o acusado confessou que foi o responsável pelo acidente. Uma testemunha que viu a batida também reconheceu Marcelo. O ajudante de ferro-velho disse que, no dia 10, por volta das 13h, foi procurado por um miliciano de nome Kako — que atuaria em Curicica — para que ele levasse o veículo, que era roubado e clonado. O carro seria entregue para outro paramilitar de Santa Cruz.
— No dia do acidente, por volta das 19h30, ele colocou os dois filhos, de 5 e 10 anos, além da esposa, e foram entregar o carro. Quando chegaram em Guaratiba, para fugir do trânsito, ele entrou na calha do BRT. Quando ele viu o articulado, tentou sair, mas já era tarde — afirma a delegada Márcia Julião, titular da 43ªDP.
A delegada ainda afirma que ele nem verificou se algum ônibus do BRT estava chegando no corredor naquele momento.
— Ele assumiu o risco total do acidente. Ele nem olhou se vinha ou não BRT. O dolo eventual é porque ele assumiu o risco de matar. Olha o tamanho dessa irresponsabilidade. Acima de tudo, o poderoso - para ganhar R$ 200 - fez isso tudo daí. Ele não poupou nem os filhos.
Ainda segundo o depoimento de Marcelo, para não ser “linchado”, ele tirou a família e pediu carona para um motorista que passava no local. O ajudante de ferro-velho contou ainda que acredita que o condutor tenha pensado que ele era uma das vítimas do acidente. Marcelo foi deixado junto com a esposa e os dois filhos perto da casa onde moram.
Com cicatrizes nos dois joelhos, o suspeito foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) para fazer corpo de delito. No local, o exame foi realizado pelo mesmo legista que periciou o corpo de Eliana Almeida de Carvalho, de 57, que morreu no acidente.
— O legista falou para ele que era o mesmo que periciou a Eliana. Ele não teve reação. Só abaixou a cabeça e ficou calado — disse a delegada Márcia Helena Julião.
Após com a confissão do homem, Márcia Julião representou pelo pedido de prisão. Durante a madrugada desta sexta-feira, a juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do plantão judiciário, concedeu a sua detenção temporária de 30 dias. Marcelo foi indiciado por homicídio doloso — com intenção de matar —, lesão corporal dolosa trinta vezes e receptação.
Já o carro que ele dirigia era clonado, tinha placa de São Paulo e havia sido roubado dias antes do acidente. A Polícia Civil informou que o acusado possui oito anotações criminais, entre elas roubo, estelionato e receptação de veículos.
— Em nenhum momento ele se arrependeu de nada. A preocupação dele era fugir, porque ele sabia o tamanho do estrago que ele tinha feito — completou Márcia Julião.