Eva Wilma nasceu em 14 de dezembro de 1933, na cidade de São Paulo. “Meu pai contava que queria fazer a América. Eu brincava: o senhor fez foi eu, né?”. Em 1955, ao se casar com o ator John Herbert, acrescentou o Buckup ao sobrenome. A carreira artística tomou forma em 1953, aos 19 anos. Mas, três meses depois do início dos ensaios do Ballet do IV Centenário de São Paulo, Vivinha foi convidada para trabalhar como atriz no Teatro de Arena.
Paralelamente, um segundo convite, desta vez para ser estrela do programa Alô Doçura, da TV Tupi. Incentivada pelo então namorado, John Herbert, e com o aval do pai, aceitou. “Deixar o balé foi uma decisão difícil. Sofri feito um cão”, conta. Alô Doçura, de Cassiano Gabus Mendes, foi um marco na TV brasileira. O seriado ficou dez anos no ar. Eva dividia a atração com John Herbert – o casal mais badalado da TV, na época. “O texto era ótimo, um gênero precursor do que hoje chamamos de sitcom”, diz. A atriz foi a grande estrela da TV Tupi.
Durante os anos 1970, protagonizou novelas de impacto, muitas delas escritas por Ivani Ribeiro, como Meu Pé de Laranja Lima (1971) e a primeira versão de Mulheres de Areia (1973), no qual interpretava as irmãs gêmeas Ruth e Raquel. “O resultado das gêmeas era surpreendente, mesmo sem os recursos de hoje. Os fãs faziam excursão para acompanhar as gravações na praia, em Itanhaém, litoral de São Paulo”. Nesta novela, contracenou com Carlos Zara, com quem se casaria poucos anos depois. Os dois ficaram juntos de 1979 até 2002, quando o ator morreu.
Com o fechamento da TV Tupi, em 1980, foi contratada pela Globo. E o seu lado cômico veio à tona em uma série de divertidas personagens. A estreia foi em Plumas e Paetês (1980), de Cassiano Gabus Mendes e Silvio de Abreu. Vivia Rebeca, dona de uma confecção que se apaixonava pelo segurança da fábrica, o italiano Gino (Paulo Goulart), ao mesmo tempo em que era disputada pelo gerente Márcio (John Herbert).
Seis anos depois, em De Quina Para a Lua, a atriz viveu Angelina, uma mãe de família, que parte em uma busca desesperada pelo bilhete premiado que seu marido escondeu antes de morrer. Já em Sassaricando (1987), também de Silvio de Abreu, um talentoso e inesquecível quarteto arrebatou o público das sete horas. Na trama, viveu a Penélope Bacellar, que, ao lado de Rebeca Rocha (Tônia Carrero) e Leonora Lammar (Irene Ravache), inventava mil e um ardis na tentativa de conquistar o viúvo Aparício Varella (Paulo Autran).
Outro grande sucesso da trajetória da atriz foi a vilã Altiva, de A Indomada (1997), de Aguinaldo Silva. Ambiciosa, encontrava no deputado Pitágoras (Ary Fontoura), um parceiro de golpes e armações. Algumas expressões características da personagem – como “Well!”, que ela usava a cada frase, “Oxente, my God!” e “Tudo all right” – conquistaram o público e eram repetidas nas ruas. Eva Wilma conta que estava inspirada quando aceitou dar vida à Maria Altiva Pedreira de Mendonça e Albuquerque. Por sua atuação no papel de Altiva, Eva Wilma recebeu diversos prêmios, entre os quais o de Melhor Atriz da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
“Ela era uma personagem que me deu chance de vale-tudo. É o que a gente chama de personagens de olé – de tourada. Porque eu podia fazer as cenas de um jeito inusitado – e eu adorava imaginá-las. Altiva era uma mulher cheia de vivências, traumas e loucuras”.
Na Globo, a atriz também pôde exercitar sua verve dramática em papéis densos, como a transtornada e doce Laura, de Ciranda de Pedra (1981), de Teixeira Filho. Já em Pedra sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva, interpretou a sofredora Hilda. Apaixonada por Murilo Pontes (Lima Duarte) desde jovem, amargava a submissão ao marido, que a tratava por “minha filha”. Logo em seguida, participou da primeira fase da novela O Rei do Gado (1996), de Benedito Ruy Barbosa, como Marieta Berdinazi, esposa de Giuseppe Berdinazi, vivido por Tarcísio Meira.
Outro marco da carreira de Eva Wilma foi a Dra. Martha do seriado Mulher (1998/1999), uma ideia original de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. O programa utilizava o ambiente de uma clínica especializada no atendimento a mulheres para narrar aventuras e desventuras do universo feminino. Ela lembra que foi um desafio interpretar a Dra. Martha.
“Na primeira gravação dentro do estúdio, de uma UTI, eu passei o dia inteiro repetindo uma fala muito científica. Quando sentei na UTI, parecia que era a primeira vez que eu ia representar. O Daniel [Filho] começou a rir, porque eu gaguejava! Foi muito difícil”. Mulher recebeu o prêmio da APCA como o Melhor Programa de TV no ano de 1998. O seriado também foi especial por outro motivo: foi a última vez em que contracenou com seu marido, Carlos Zara.
Sua próxima vilã entrou em cena quase dez anos depois, na novela Começar de Novo (2004), de Antonio Calmon e Elizabeth Jhin. Ali, Eva Wilma interpretou a manipuladora Lucrécia Borges, que fez de tudo para separar sua filha Letícia (Natália do Vale) do grande amor, Miguel Arcanjo (Marcos Paulo). Em sua opinião, as vilãs são personagens mais intensas, que propiciam ao ator uma experiência de profundidade.
“O público tem de se ligar nos vilões, porque eles são o pivô da trama. O público tenta compreender os motivos daquelas maldades. E aguarda o castigo deles – porque têm de ser castigados.”
Em 2011, Eva Wilma viveu Íris, em Fina Estampa, também de Aguinaldo Silva, autor de A Indomada. Ao longo da trama, várias referências conectam a personagem à Maria Altiva, como o resgate de bordões em inglês. Na trama, Íris tinha uma relação misteriosa com Alice (Thaís de Campos), que deixava a sugestão de que fossem mais do que amigas, mas um casal. A novela foi reprisada em 2020, durante a pandemia de Covid-19, que levou a Globo a interromper a gravação de novelas e programas de entretenimento.
Antes disso, a atriz pôde se divertir com as loucuras de Dona Maria, rainha do decadente império português, na minissérie O Quinto dos Infernos (2002), trama reconstituiu os bastidores políticos da independência do Brasil.
Mais de uma década depois, em 2015, Eva Wilma também deu à Dona Fábia um tom de loucura, na novela Verdades Secretas, de Walcyr Carrasco. Alcoólatra, amargurada e aproveitadora, a mãe de Anthony (Reinaldo Gianechini) extorque dinheiro do filho para comprar bebida, enquanto destila seu veneno em todos à volta. O trabalho foi um grande desafio para a atriz que, na época, completava 50 anos de carreira.
Seu último papel na Globo foi em uma participação na novela O Tempo Não Para (2018), de Mario Teixeira. Dra. Petra era uma médica geneticista que descongelava os protagonistas da novela.
Ao completar 85 anos, 65 dos quais dedicados à arte, a atriz foi homenageada pela televisão, veículo que a levou ao estrelado. No dia 14 de dezembro, data de seu aniversário, o Jornal GloboNews, Edição das 10, exibiu uma matéria sobre sua carreira. Dois anos depois, foi homenageada pelo Prêmio Cesgranrio de Teatro.
TEATRO E CINEMA
Apesar da sua atuação contínua na TV, a atriz nunca abandonou o teatro. Entre 1994 e 1996, trabalhou ao lado de Eliane Giardini na peça Querida Mamãe, de Maria Adelaide Amaral, com direção de José Wilker, que lhe rendeu os prêmios Molière e Sharp, em 1994, e o Prêmio Shell, em 1995. Em 2000, recebeu a Medalha Machado de Assis, conferida pela Academia Brasileira de Letras por serviços prestados à Cultura Brasileira.
No cinema, se destacou no papel de Luciana em São Paulo S.A. (1965), de Luiz Sérgio Person, um marco da cinematografia brasileira. No final dos anos 1960, ela foi a Hollywood fazer um teste para o filme Topázio, de Alfred Hitchcock, mas o papel acabou ficando com a alemã Karin Dor.
Para ela, um espetáculo sempre pode se manter vivo. “O público é diferente, mas se a proposta de ser ator é sincera, se mantém o lúdico, estamos sempre descobrindo e mergulhando mais fundo nesse tratado que é o texto.”