A Editora Fiocruz e o Observatório Covid-19 Fiocruz acabam de lançar o livro em formato e-book “Os impactos sociais da Covid-19 no Brasil: populações vulnerabilizadas e respostas à pandemia”. Na obra, são abordados diversos efeitos de cunho social decorrentes da pandemia de covid-19 sobre os grupos populacionais mais expostos à propagação do vírus.
Para falar sobre o lançamento, o programa “Boletim Ciência”, apresentado pela jornalista Bárbara Pereira e transmitido ao vivo pelo Canal Saúde no YouTube, conversou nesta segunda-feira (24) com o psicólogo e professor de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jean Segata.
“O projeto desse e-book partiu do Observatório da Covid-19 Fiocruz, em parceria com a Rede Covid-19 Humanidades. A ideia apareceu ainda em setembro de 2020, para reunir um conjunto de pesquisadores de todo o Brasil e apresentar o que seriam os seis primeiros meses da pandemia no país”, conta Jean. “A ideia é que fosse tanto para o público acadêmico quanto em geral. Além da pandemia de covid-19, temos vivido uma de informação não verdadeira. A gente quis produzir um material com informação segura e acessível que tenha a maior audiência possível”.
O pesquisador destacou a variedade de grupos sociais entrevistados para a publicação.
“A gente tem pouca oportunidade de dar ouvidos às vozes que vêm da população, ou seja, aquelas pessoas que estão vivendo nas suas experiências esse evento crítico que é a pandemia. A gente quis trazer os diferentes relevos de como a pandemia se estabelece, então buscamos as experiências das comunidades vulneráveis: populações indígenas, negra, quilombola, trabalhadores de muitos setores, interseções de gênero e raça.
“O vírus é o mesmo, mas a maneira como certas populações estão expostas é muito distinta”, acrescentou ele, que é mestre e doutor em Antropologia Social (UFSC). “Muitas vezes se falou que o distanciamento social atrapalharia a economia, quando, na verdade, é uma economia ruim que atrapalha o distanciamento social. O que a gente nota é que essas populações que chama de vulneráveis não podem sequer praticar o distanciamento social. Porque foram obrigadas a voltar ao trabalho, não têm direitos trabalhistas nem infraestrutura para fazer atividades remotas sem ter seus salários descontados”.
Jean comentou um desafio à parte: a ausência de participação popular e da comunidade acadêmica nos comitês de gestão da pandemia organizados pelos governos nos níveis municipal, estadual e federal.
“Se a gente está decidindo a vida dos trabalhadores, por que está trazendo voz para os representantes das corporações? O livro tem esse propósito: é produzido quase todo a partir das narrativas das pessoas, com elas. Essas populações também são protagonistas da ciência da covid-19 no Brasil”, relatou ele. “Outra questão que aparece é o número de pessoas que relatam ansiedade, sofrimento emocional, psíquico, afinal é uma situação de insegurança o tempo todo. É um ambiente de muita dor, que muitas vezes não pode ser vivida no seu sentido pleno”.
O professor da UFRGS também lamentou uma decisão difícil que acomete milhões de brasileiras e brasileiros, nesses 14 meses de pandemia.
“As pessoas precisam escolher entre trabalhar ou morrer de vírus”, finalizou ele.
A Rede Covid-19 Humanidades é formada por diversas instituições de ensino superior e financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sob a liderança do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS (PPGAS) e coordenada pelo próprio Jean.
A obra é o segundo volume da série “Informação para Ação na Covid-19”, fruto de parceria entre a Editora Fiocruz e o Observatório Covid-19 Fiocruz. É gratuita e está disponível na íntegra (clique aqui para acessá-la). O programa vai ser exibido pelo Canal Saúde na televisão às 19h30 desta segunda.