Manter uma alimentação balanceada - rica em carboidratos integrais, proteínas com poucas quilocalorias, verduras, hortaliças, frutas e gorduras boas - é um hábito que faz bem aos olhos. Isso porque um maior consumo diário de nutrientes com vitaminas A, C, E, zinco, selênio e ácidos graxos ômega 3 e 6 reduz o risco ou retarda a evolução de problemas como, por exemplo, olho seco, dificuldade de enxergar à noite e outros graves, que podem causar perda de visão a partir da meia idade, especificamente a degeneração macular relacionada à idade (alteração que destrói a mácula, a área nobre da retina) e a catarata (a opacidade do cristalino, a lente natural), a causa número um de cegueira reversível. Sendo assim, vale aproveitar o momento de cozinhar e preparar receitas com ingredientes e produtos que contribuem para preservar a ótima saúde ocular.
De acordo o documento "As Condições da Saúde Ocular no Brasil", publicado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO, 2019), a prevalência da cegueira - de diferentes formas - na população brasileira (208.494.900, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE) é estimada em 1.577.016 (somando crianças, adolescentes e adultos), sendo 859.416 nas classes B e C, 543.600 na faixa mais pobre e o menor índice, 174.000, no grupo rico. Contudo, a maioria dos casos poderiam ter sido evitados com a prevenção no pré-natal, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado com oftalmologista.
Na lista de nutrientes essenciais para conservar a visão temos as vitaminas A ou retinol (encontrada em maior quantidade no fígado, nas gemas de ovos e no leite integral e nos seus derivados), C (frutas cítricas, pimentão, tomate e brócolis, entre outros vegetais) e E (ocorre naturalmente em vegetais, principalmente verde-escuros, nas sementes oleaginosas, azeite de oliva e no gérmen de trigo, abacate, gemas de ovos e fígado).
Além dessas vitaminas, oftalmologistas orientam comer alimentos com alto teor de substâncias antioxidantes (defendem as células contra a oxidação causada por moléculas radicais livres, ou seja, o envelhecimento precoce). E nesse grupo eles apontam como relevantes a luteína (carotenoide de cor amarelo-limão, presente em maior quantidade na rúcula, no espinafre, na couve-flor, na ervilha, no brócolis, na laranja, no mamão, no pêssego, na manga, no kiwi e nas gemas de ovos) e a zeaxantina (outro carotenoide que dá o pigmento alaranjado e amarelo a alimentos, principalmente vegetais). Tanto a luteína quanto à zeaxantina estão na mácula da retina, a estrutura do olho que transforma o estímulo luminoso em nervoso para formar as imagens no cérebro. Essas duas substâncias protegem contra a radiação ultravioleta emitida pelo Sol e a luz azul de telas de aparelhos eletrônicos.
Os oftalmologistas recomendam ainda incluir na alimentação o zinco (legumes, sementes, cereais integrais, carnes, lácteos e ovos, como maiores fontes), selênio (carnes, lácteos, ovos, castanhas e cereais, de preferência integrais porque são de digestão lenta e não elevam muito o açúcar no sangue) e gorduras benéficas, especialmente os ácidos graxos ômega 3 - existente em peixes de águas frias (como salmão, sardinha e atum), oleaginosas e abacate - e ômega 6 (óleos vegetais, basicamente).
"Como qualquer outro tecido ou órgão humano, se os olhos acumulam radicais livres - moléculas reativas e instáveis, liberadas no trabalho das células -, eles ficam vulneráveis a doenças degenerativas. O maior consumo diário de comidas saudáveis, com vitaminas e antioxidantes, retarda o envelhecimento de estruturas nobres da visão, sobretudo a retina. Daí a importância de ter uma nutrição balanceada desde os primeiros anos de vida", enfatiza a oftalmologista Tathiana Aline Lopes Silva, especialista em retina e coordenadora médica do Centro Oftalmológico Dr. Vis (do grupo Opty), no Rio.
"A vitamina A e o zinco são imprescindíveis porque previnem a xeroftalmia (o olho seco) e a cegueira noturna, doença prevalente em populações pobres. O cobre (fígado, castanhas, sementes, vegetais verde-escuros, entre outros) também é bom para retina, comenta.
Ouça no podcast do Eu, Rio! (eurio.com.br) o alerta da coordenadora médica do Centro Oftalmológico Dr, Vis, Tathiana Aline Lopes Silva, sobre a necessidade de prevenir abusos na dieta e buscar orientação especializada logo que possível para preservar a saúde e a longevidade, inclusive da visão.
Quanto aos suplementos alimentares para prevenir ou evitar o agravamento de problemas de visão, vendidos livremente sem receita do oftalmologista, a dra. Tathiana afirma que não dá para ter certeza se eles cumprem o que prometem nos rótulos ou na publicidade que fazem.
"Não devemos incentivar o consumo desses produtos e qualquer outro comprados sem orientação ou prescrição do oftalmologista. Alguns não passam por um controle rígido dos órgãos fiscalizadores ou de vigilância sanitária. Então não temos como garantir que evitam doenças oculares, sobretudo as mais graves, como a retinopatia diabética e DRMI. Para a DRMI existe um complexo vitamínico, indicado em certos casos moderados ou avançados. Há pacientes inclusive que têm contraindicação para esses suplementos, como fumantes ou pessoas com história de câncer de pulmão", adverte a oftalmologista.
Ademais, a alimentação balanceada desde o nascimento é um hábito decisivo para manter o peso saudável, um fator de prevenção do diabetes tipo 2, associado à obesidade e ao sedentarismo. O diabetes, sem tratamento, causa danos à retina (a retinopatia diabética). Nos exames em consultório, seu oftalmologista poderá indicar, se necessário, análises laboratoriais e indicar acompanhamento com nutricionista para tratar possíveis carências nutricionais que podem ameaçar sua saúde ocular.