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Casal sofre abordagem "constrangedora" em supermercado de Realengo

Caso ocorreu na quinta-feira (29), durante revista para a qual seguranças não apresentaram justificativa

Por Anderson Madeira em 30/07/2021 às 22:10:33

O vendedor Leonardo Nunes, revistado sem motivo. Image: Reprodução/YouTube

O que seria mais uma tarde de compras no mercado, se transformou em um pesadelo para o vendedor Leonardo Nunes, 31, que estava com a namorada Kimberly da Silva, no Supermercado Prezunic, localizado na Avenida Marechal Fontenelle, no bairro de Realengo, na Zona Oeste do Rio. Ele foi acusado por seguranças do estabelecimento de ter furtado uma mercadoria da unidade. Após a abordagem, que ele classificou de "constrangedora", foi comprovado que não houve furto. O supermercado se desculpou pelo ocorrido, considerando que foi um "evento mal interpretado" por membros da equipe da empresa. O caso aconteceu por volta das 16h45 da última quinta-feira, 29.

Segundo Leonardo, a suspeita dos seguranças teria começado quando ele estava com a namorada na seção de leite condensado e abriu a mochila para pegar o telefone celular. A ideia era usar o aplicativo do próprio mercado, que dá desconto aos clientes. Em seguida, eles foram ao caixa e pagaram as compras, no valor total de R$ 156,43 e saíram normalmente. Até Leonardo ser abordado ao passar pela porta.

"Eles não fizeram a abordagem correta. Me pararam do lado de fora, colocaram a mão no meu peito e pediram para eu entrar novamente, sem qualquer alegação, isso foi o mais constrangedor. Os outros clientes ficaram me olhando como se eu realmente tivesse roubado", contou o vendedor.

Os seguranças conduziram Nunes até um balcão vazio dentro do estabelecimento e começaram a revistar sua mochila, mesmo ele negando o furto de qualquer mercadoria e mostrando a nota fiscal da compra. Após a revista e constatado que o cliente nada tinha furtado, os seguranças ficaram sem reação e o liberaram.

Leonardo acredita ter sido vítima de preconceito racial. "Não sei se era por causa da minha roupa ou até mesmo minha cor. Mas não esperava passar por isso. Ainda mais em um local que já até trabalhei como meu primeiro emprego. Acredito que fui vítima de preconceito sim, me taxaram como suspeito pela roupa, mochila e cor", aponta o vendedor.

Toda a ação foi filmada por Kimberly em seu celular. Ela postou o vídeo e a denúncia nas redes sociais. "Espero que isso não passe em vão, para não acontecer mais. Que os envolvidos sejam punidos", disse ele. O caso foi registrado na 33ª DP (Sulacap), que está investigando o fato. A vítima acrescentou que vai solicitar ao mercado o nome dos seguranças envolvidos para processá-los.

Procurada pela reportagem, a rede de supermercados divulgou a seguinte nota:

"O Prezunic pede desculpas pelo constrangimento causado aos clientes em nossa loja Realengo diante de um evento mal interpretado por pessoas de nossa equipe. Não é a nossa intenção nem orientação causar qualquer tipo de mal estar a quem visita nossas unidades. Reforçamos que os procedimentos visam a segurança e o bem estar de todos. Prezamos por manter o respeito às pessoas, cumprindo rigorosamente as leis e normativas legais que visam garantir a integridade e o conforto de todos que nos visitam".

Três anos atrás, outro caso na mesma rede

Esse não é o primeiro caso de preconceito racial envolvendo o Prezunic. Em 3 de dezembro de 2018, Leandro Leal postou em rede social uma série de vídeos denunciando caso de racismo cometido por seguranças de uma unidade da rede na Rua Dias da Cruz, no bairro do Méier, na Zona Norte do Rio. Segundo Leal contou em vídeos, começou a ser perseguido por um dos funcionários logo que entrou na loja.

"Fui no supermercado para comprar algumas coisas e percebi que estava sendo perseguido por um segurança branco. Para não ter dúvidas, eu comecei a circular pelos corredores e tive a certeza que o problema era comigo. Eu driblei ele em alguns momentos, parei em alguns lugares e, inclusive, tirei fotos de sua ação. Ao todo, ele ficou 24 minutos me seguindo, passando por mim, me olhando e conversando pelo rádio", conta Leandro, que questionou o funcionário sobre a atitude e chamou o chefe do setor. "Perguntei o motivo por eu ser perseguido e ele disse que estava fazendo o trabalho dele. Foi quando eu chamei o gerente da segurança".

A discussão piorou quando o chefe da segurança chegou ao local. “Para minha ingrata surpresa o Luiz era negro, assim como eu. Eu expliquei o que estava sentindo e disse ao Luiz que, provavelmente, ele já havia passado pelo mesmo que eu, pois são coisas que acontecem todos os dias. Foi quando ele me disse que o fato era uma prática comum com negros, pobres e pessoas mal vestidas”, descreveu Leandro na filmagem.

No contexto da Constituição de 1988, o racismo se tornou crime inafiançável e imprescritível um ano depois, com a aprovação da Lei 7.716 (conhecida como "Lei Caó"). O Código Penal também passou a tipificar o crime de injúria racial, quando alguém usa de palavras depreciativas em relação à etnia ou cor de outra pessoa, com o objetivo de ofendê-la. A penalidade máxima neste caso é de três anos.

Clique no vídeo abaixo para assistir ao momento em que o casal de namorados é abordado; na sequência, ele fala sobre o registro da ocorrência na delegacia de Sulacap.


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