Uma grande rede de apoio e solidariedade à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) se formou em decorrência da tramitação do Projeto de Lei nº 4.673/21, que propõe a extinção da instituição e a transferência do seu patrimônio e alunos para a iniciativa privada. A proposta foi publicada na última quinta-feira (19), no Diário Oficial.
Em manifesto divulgado nesta segunda (23), as instituições públicas de ensino e pesquisa do Estado lembram que a “Uerj ocupa um lugar de destaque na educação de jovens e na produção científica nacional, tendo sido pioneira na introdução do sistema de cotas entre as universidades brasileiras, o que contribuiu para a aceleração do processo de inclusão no ambiente universitário”.
Acrescentam que a proposta chega em contexto de uma guerra cultural, constituindo-se em um ataque não só à Uerj, mas a toda a comunidade acadêmica e científica do Rio de Janeiro. E que esta, no entanto, já se encontra mobilizada para a defesa da “Universidade pública, gratuita, referenciada socialmente e de excelência”.
A Uerj está presente em sete municípios, além do Rio de Janeiro: Teresópolis, Petrópolis, Nova Friburgo, São Gonçalo, Angra dos Reis, Duque de Caxias e Resende, ajudando no desenvolvimento local, com ênfase no ensino, extensão e pesquisa.
A universidade é pioneira quanto à adoção do sistema de cotas no vestibular, do ensino noturno e da implantação de uma Ouvidoria, posicionando-se sempre à frente das políticas afirmativas e inclusivas.São mais de 90 cursos de graduação, 60 de mestrado e 40 de doutorado, além da educação básica promovida pelo Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) e dos cursos a distância, disponíveis por meio da sua integração ao Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cederj).
Atuante nos processos de transformação da realidade brasileira, a Uerj vem se posicionando como referência na área da saúde. Um exemplo recente tem sido o papel desempenhado no combate à Covid-19, seja na área assistencial, com o Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe); seja na realização de testagem, com a Policlínica Piquet Carneiro (PPC); ou mesmo nas inúmeras pesquisas e estudos desenvolvidos pelas diversas áreas do saber.
No campo da extensão e cultura, a Uerj se destaca por abrigar importante equipamento cultural na zona norte da cidade, com dois teatros - entre eles o Teatro Odylo Costa, filho, segundo maior do Rio de Janeiro -, três galerias de arte, uma concha acústica, bem como o Ecomuseu Ilha Grande, que guarda as memórias do ex-presídio de segurança máxima, Instituto Cândido Mendes, em Vila Dois Rios.
Ouça no podcast do Eu, Rio! o agradecimento do reitor, professor Ricardo Lodi, às instituições e pesquisadores que se mobilizam em favor da UERJ.
Em nota emitida na sexta-feira (20), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) afirma que o PL é inconstitucional e que a universidade é peça fundamental para a recuperação e o desenvolvimento do Estado. Lembra ainda que, além da qualidade dos cursos, a Uerj foi a primeira instituição de ensino superior a implantar, no Brasil, políticas de ação afirmativa, proporcionando a estudantes historicamente discriminados o acesso à educação de qualidade.
Também em nota, o Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação das Instituições de Ensino Superior Brasileiras (Foprop) ressaltou que “o projeto de desmantelamento deste patrimônio da Sociedade Fluminense e Brasileira é uma proposta por demais estapafúrdia”. E afirmou que a Uerj figura como a única universidade estadual fora de São Paulo na lista das instituições que mais produzem ciência no país. O texto conclui dizendo esperar que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) não permita o prosseguimento do PL.
Eis a íntegra do documento, assinado por reitores e diretores de dez instituições estaduais e federais de ensino no Rio de Janeiro, além da própria UERJ:
MANIFESTO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PESQUISA DO RIO DE JANEIRO EM DEFESA DA UERJ
Manifestamos nosso total e irrestrito apoio e solidariedade à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) diante da publicação em diário oficial do Projeto de Lei nº 4.673/21 que propõe a extinção da Uerj e a transferência do seu patrimônio e alunos para a iniciativa privada.
A UERJ ocupa um lugar de destaque na educação de jovens e na produção científica nacional, tendo sido pioneira na introdução do sistema de cotas entre as universidades brasileiras, o que contribuiu para a aceleração do processo de inclusão no ambiente universitário.
A proposta vem no contexto de uma guerra cultural contra as Universidades e a Ciência, constituindo-se em um ataque não só à UERJ, mas a toda comunidade acadêmica e científica do Estado do Rio de Janeiro, que está mobilizada para a defesa da Universidade pública, gratuita, referenciada socialmente e de excelência.
Estamos confiantes que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro não chancelará tal iniciativa, cuja aprovação constituiria grave prejuízo para a educação, a ciência, a tecnologia, o desenvolvimento econômico e a inclusão social em nosso Estado e nosso País.
Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2021.
Antonio Claudio Lucas da Nóbrega (Reitor - UFF)
Denise Pires de Carvalho (Reitora - UFRJ)
Jefferson Manhães de Azevedo (Reitor - IFF)
Luanda Moraes (Reitora -UEZO)
Maurício Saldanha Motta (Diretor Geral - CEFET)
Oscar Halac (Reitor - Colégio Pedro II)
Rafael Barreto Almada (Reitor - IFRJ)
Raul Ernesto Lopez Palacio (Reitor - UENF)
Ricardo Lodi Ribeiro (Reitor - UERJ)
Ricardo Silva Cardoso (Reitor - UNIRIO)
Roberto de Souza Rodrigues (Reitor - UFRRJ)