O relator da CPI da Intolerância Religiosa, na Assembleia Legislativa do Rio, deputado Átila Nunes ( MDB ) entrou com uma representação no Ministério Público Federal pedindo o cancelamento da licitação aberta pela Fundação Cultural Palmares. Segundo o parlamentar, o presidente da instituição, Sérgio Camargo, quer trocar a identidade visual da Fundação Palmares porque a atual remete a um machado do orixá Xangô.
Não apoiamos a troca de identidade visual movida por racismo religioso
As entidades que assinam essa nota, repudiam a ação de Sérgio Camargo, atual presidente da Fundação Cultural Palmares, pelo lançamento do edital nº 02/2021 para criação de nova identidade visual da instituição sob o pretexto de que a marca fere os direitos do Estado brasileiro laico por ser inspirada no machado de Xangô, uma das divindades (Orixás) que são cultuadas em religiões de matriz africana.
A Fundação Cultural Palmares é uma instituição representativa negra e não há justificativa válida
para que sua marca não possa representar elementos da cultura afro-brasileira.
A Fundação Cultural Palmares é um patrimônio nacional, conquista da qual todos os brasileiros que respeitam e celebram a cultura afro-brasileira têm orgulho. Desse modo, este grupo não compactua com a gestão atual, Iiderada por Sérgio Camargo, que executa um projeto de desmonte da fundação, visando apagar a grande conquista que essa fundação representa para a comunidade negra brasileira, e caminhado em sentido contrário ao que deveria ser sua missão: promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
Nós não esqueceremos do trabalho realizado pelo designer e professor baiano Beto Cerqueira, que em 2010 - ainda na presidência do Zulu Araújo - criou a marca que homenageia Xangô, considerado o Rei da justiça.
A instituição foi fundada em decorrência de diversas mobilizações dos movimentos negros, grupos como Memorial Zumbi e Comissão para o Centenário da Abolição da Escravatura, e de figuras como Abdias Nascimento, Benedita da Silva, Paulo Paim, Lélia Gonzales, Edmilson Valentim, Carlos Alberto Caó, Carlos Moura, dentre outros.
O referido edital, que cita que a marca: “obrigatoriamente, terá que conter formas e cores que conter formas e cores que remetam única e exclusivamente à nação brasileira”, não recebe nosso endosso, por ser uma proposta motivada por racismo religioso e desrespeito cultural. Tecnicamente o documento também é inconsistente, não estabelecendo critérios bem definidos sobre o concurso, não identificando quem serão os avaliadores de “reputação ilibada”, e no uso confuso e errôneo dos termos técnicos.
Ouça no Podcast Eu, Rio! o deputado estadual Átila Nunes sobre o caso.