O mês de novembro é destinado a, entre outros temas, homenagear símbolos que lutaram em defesa da inclusão racial já que o dia 20 é a data onde se celebra o Dia da Consciência Negra. Por isso, o Sesc Copacabana apresenta nesta sexta-feira (5) ao público a exposição "Mercedes Baptista: a dama negra da dança", que mostra parte da trajetória da rimeira bailarina preta do Theatro Municipal do Rio de Janeiro a integrar o Corpo de Baile. Além disso, a exposição é uma homenagem aos 100 anos que a bailarina completaria se fosse viva em 2021.
Com curadoria do professor e pesquisador da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa Paulo Melgaço, autor da biografia "Mercedes Baptista: a criação da identidade negra na dança" (2007) e um defensor de causas em favor dos pretos, a exposição faz parte de uma série de atividades que vai homenagear um dos maiores símbolos da luta antirracista no Brasil.
"Este ano estamos comemorando o centenário de Mercedes Baptista. Celebrar a vida e obra de Mercedes é celebrar a luta antirracista na dança, no ballet clássico e no Theatro Municipal. A exposição vai mostrar para as novas gerações a caminhada da menina pobre, da menina negra, que sonhou um dia em ser artista e venceu muitos obstáculos para isso. Ela foi a primeira negra a ingressar no corpo de baile do Theatro Municipal e que contribuiu de maneira ímpar na cultura afro-brasileira sendo criadora da dança afro- brasileira. Mercedes deixa um legado imenso para todos os brasileiros” - ressalta o curador Paulo Melgaço.
A exposição apresentará seis módulos que contarão sobre a vida, obra e a contribuição de Mercedes Baptista para a dança brasileira e o fortalecimento da identidade preta no Brasil.
Nascida em 20 de maio de 1941 em Campos do Goytacazes, no Norte Fluminense, Mercedes Ignácia da Silva (nome de registro) também foi a primeira preta a realizar a prova para integrar o corpo de bailarinos do Municipal. Antes disso, trabalhou em uma gráfica, em uma fábrica de chapéus, foi empregada doméstica e também trabalhou em uma bilheteria de cinema.
Mercedes recebeu a formação em balé clássico e dança folclórica pela bailarina Eros Volúsia, especialista em cultura brasileira. Na década de 1960, Mercedes uniu sua formação erudita com a valorização da cultura negra, lançando o balé afro, voltado para o estudo dos movimentos ritualísticos do candomblé e das danças folclóricas. Suas criações coreográficas permanecem até hoje identificadas como repertório gestual da dança afro.
Em 1963, Mercedes idealizou a coreografia da comissão de frente do desfile da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, que venceu o Carnaval daquele ano. Entre outras realizações, Mercedes ministrou cursos fora do Brasil – Nova York e Califórnia.
Mercedes foi casada por cinquenta anos com Paulo Krieger, falecido em 2002 e com quem teve um filho em 1966, morto após contrair tétano neonatal. No final dos anos 90, Batista sofreu a primeira de três isquemias que prejudicaram a saúde. Ela faleceu no Rio de Janeiro, em 18 de agosto de 2014, aos 93 anos de idade.