O Leblon tem alta qualidade de vida, uma bela praia, comércio diversificado e lojas sofisticadas. Área nobre, tem um dos IPTUs mais caros da cidade e moradores com bom padrão de vida. Porém, quem reside no bairro, principalmente da terceira idade, lida com obstáculos enquanto anda pelas ruas: calçadas esburacadas em diversos trechos. São frequentes os casos de idosos que se acidentam ao caminhar no passeio público, popularmente conhecido como calçada. Outros bairros registram o mesmo problema.
Nesta semana, o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto lembrou que o pianista Nelson Freire, falecido no último dia 1º, caiu em um buraco no calçadão, na Barra da Tijuca, em 2019, e pediu ao ex-prefeito Marcelo Crivella para cobrir os buracos da cidade. "Para quem tem mais de 60 anos, tapar buracos é tão importante quanto a vacina”, disse o produtor, 93.
Na altura do 556 da Avenida Ataulfo de Paiva, uma das principais vias do bairro, há uma cratera no meio da calçada. Foi o que levou o perfil do Instagram "Calçadas Do Rio Desumanas", do Instagram, a fazer vídeo do local. "Eu presenciei uma moça cair. Sorte que ela teve um bom reflexo e protegeu o rosto. Que susto. Muito triste", comenta a pessoa responsável pelo perfil. O homem, identificado como Sérgio Nogueira, fez outro registro do Leblon, na Rua Humberto de Campos, entre a Bartolomeu Mitre e a João Lira. "Os restaurantes cercam as árvores, parecendo que estão protegendo. A verdade é que eles fazem uns bancos e ali colocam mesas. Fica um corredor como passagem, que, por sinal, é muito mal-cuidado", afirma.
Na Rua Almirante Guilhem, 208, um edifício escancara a calçada toda quebrada. "Tenho certeza que está desta forma pela falta de preocupação com o próximo e descaso dos moradores. Uma sociedade assim é muito triste. Não pensam no mal que podem causar a um deficiente visual, a um idoso, a um cadeirante ou mesmo a você que está lendo essa mensagem", diz outra colaboradora do perfil.
"Infelizmente, a Prefeitura do Rio não tem mais um trabalho de fiscalização que multa, como já foi feito em outras épocas", lamenta Thatiana Murilo, do movimento Caminha Rio, que defende os direitos dos pedestres na cidade.
Na Gávea, foram registradas calçadas quebradas também. "Na Rua Major Rubens Vaz, na altura do número 151, esquina com Quintino Cunha na Gávea, a calçada está esburacada. Não é nada diferente de várias outras aqui na cidade do Rio. Quantos tombos já aconteceram aqui. É muito triste o descaso", conta Sérgio Nogueira, morador da região, que filmou o trecho danificado.
"Em Copacabana, uma conhecida morreu em decorrência de queda em uma calçada esburacada. No dia seguinte ao acidente, o síndico do prédio providenciou o conserto. Os proprietários de condomínios têm obrigação legal de consertar as calçadas em frente. Como vivemos em um país onde o senso do coletivo não existe, os acidentes vão continuar", conta Sônia Tucherman, moradora do Leblon, sobre a Lei 15.442/2011.
Nas ruas Capitão Couto Menezes (altura do número 16) e Maria José (próximo ao 451), em Madureira, na zona norte, a reportagem também registrou calçadas com buracos e quebradas, forçando os pedestres a se desviarem.
Procurada, a Secretaria Municipal de Conservação (Seconserva) informou que realiza vistorias periódicas por meio das Gerências Regionais. O órgão da Prefeitura também destacou que sempre que localiza uma calçada com viabilidade técnica para construir rampa de acessibilidade para cadeirantes, o serviço é programado e executado.
Com relação às calçadas, a Secretaria explica que, por lei, a responsabilidade pela manutenção e pelo conserto do passeio público é do proprietário ou inquilino, condomínio residencial ou estabelecimento comercial. Cabe à Conservação executar os reparos em calçadas que ficam diante de prédios públicos, na orla ou no entorno de áreas de uso comum, como praças e parques. Desde janeiro de 2021, quando Eduardo Paes (PSD) reassumiu a Prefeitura, a Seconserva já recuperou a pavimentação de mais de 49,8 mil metros quadrados de calçadas em todo o Rio.
Com relação aos problemas no Leblon, Gávea e Madureira, a Secretaria Municipal prometeu que uma equipe do órgão vai visitar e vistoriar os locais citados nos próximos dias. Para assistir aos vídeos no Instagram, clique aqui.
Crescimento da população idosa
Entre os moradores da cidade, 1,5 milhão de pessoas têm 60 anos ou mais, o que representa 22% da população municipal e supera o grupo de zero a 19 anos, com 21% (1,4 milhão). Os números são da consultoria SeniorLab, com base nos dados mais atuais do IBGE. O mesmo estudo mostra que, em 2010 (ano do último Censo), o percentual de idosos na população do Rio era de 16% — aumento de 47,5% em uma década, enquanto a proporção de crianças e jovens entre e 0 e 19 anos teve redução de 15,3%.
Veja, na Galeria de Fotos, outros registros feitos pelo repórter no bairro de Madureira.