Em meio a polêmica provocada pela aprovação da ANVISA para a vacinação de crianças contra a covid-19, a comunidade científica internacional segue o caminho contrário. O aumento de casos neste grupo etário faz com que as agências sanitárias de diversos países liberem a imunização de menores de idade.
A Organização Mundial da Saúde, OMS, afirma que os imunizantes que receberam liberação de rigorosas autoridades regulatórias são seguros e eficazes na redução da carga de doenças nesses grupos etários.
No entanto, a agência da ONU pede cautela no assunto e segue reforçando que vacinar globalmente e de forma uniforme 70% da população adulta até meados de 2022 deve ser a principal ação para conter a pandemia.
Ainda assim, a agência publicou informações sobre a situação de estudos de eficácia e segurança de algumas fabricantes.
Transmissão entre gerações
De acordo com a OMS, a redução da transmissão intergeracional é um importante objetivo adicional de saúde pública ao vacinar crianças e adolescentes.
No entanto, a vacinação de menores não exclui a necessidade de imunizar professores, familiares e outros contatos adultos do grupo.
Assim, a agência considera que a vacinação de crianças e adolescentes pode proteger a educação, uma prioridade importante durante a pandemia. A imunização pode ajudar a minimizar as interrupções e reduzir o número de infecções nas escolas.
O benefício da vacinação de crianças e adolescentes pode ser menor em locais com altas taxas de casos positivos nessa faixa etária. No entanto, são necessários mais estudos sobre a proporção de casos em crianças em idade escolar.
No último mês, diversas agências sanitárias nacionais liberaram a vacinação para crianças a partir de 5 anos, principalmente com versões do imunizante da BioNTech/Pfizer.
No Brasil e em Portugal, por exemplo, autoridades aprovam o uso da vacina da farmacêutica americana para maiores de cinco anos, em dosagens inferiores as utilizadas em grupo com mais de 12 anos. A aplicação em espaço de três semanas para a segunda dose permanecem iguais.
Quatro entre as 10 fabricantes com imunizantes aprovados pela OMS estão estudando dados sobre segurança e eficácia para menores e sendo gradativamente inseridas no leque de opções em alguns países. Além da Pfizer, é o caso da Moderna, Coronavac e Covaxin.
Em outubro de 2021, o Comitê Consultivo Global sobre Segurança de Vacinas concluiu que, em todas as faixas etárias, os benefícios das vacinas mRNA na redução de hospitalizações e mortes devido ao coronavírus superam os riscos da doença.
Eficácia das vacinas
De acordo com a OMS, nos ensaios preliminares para as vacinas de mRNA, a eficácia e a capacidade de resposta foram semelhantes ou superiores em comparação com os adultos.
Os perfis de segurança e as reações adversas em adolescentes também foram parecidas aos dos adultos jovens.
Casos raros de miocardite ou pericardite foram relatados com as vacinas de mRNA contra a Covid-19, observados com mais frequência em homens mais jovens, entre 16 e 24 anos de idade, e após a segunda dose da vacina, normalmente alguns dias após a vacinação.
Segundo a OMS, os dados disponíveis sugerem que os casos são geralmente leves e respondem ao tratamento conservador, sendo menos graves do que a miocardite clássica ou que os efeitos da Covid-19.
O risco de trombose após vacinas de vetores adenovirais, embora baixo em geral, foi maior em adultos mais jovens do que em adultos mais velhos, mas não há dados disponíveis sobre o risco com idade inferior a 18 anos.
A OMS avalia os benefícios do início da vacinação de menores, mas afirma que antes da implementação da imunização em adolescentes e crianças, é necessário ampliar a cobertura primária.
A agência defende que doses de reforço, conforme necessárias e com base na evidência de redução e otimização do impacto da vacinação em subgrupos de maior risco, como adultos mais velhos, também devem ser priorizadas.
Em geral, a OMS explica que há proporcionalmente menos infecções sintomáticas e casos com doença grave e mortes por Covid-19 em crianças e adolescentes, em comparação com grupos de idade mais avançada.
Crianças e jovens representam uma parcela muito pequena de casos. O grupo entre cinco e 14 anos é responsável por 7% dos casos e 0,1% das mortes relatadas.
Já adolescentes mais velhos e adultos jovens, entre 15 e 24 anos, representam 15% dos casos e 0,4% das mortes. Casos fatais abaixo de 25 anos somam menos de 0,5%.
OMS