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'Não quero te levar preso. Meu bagulho é dinheiro. Quero R$ 50 mil para te soltar'

Frase é de policial civil para vítima de sequestro no Rio

Por Mario Hugo Monken em 20/10/2018 às 11:18:22

"Não quero te levar preso, meu bagulho é dinheiro, só quero dinheiro, quero cinquenta mil, quando o dinheiro chegar na minha mão eu vou te soltar". Foi com essa frase que o policial civil Leonardo Amaral ameaçou Carlos Vinícius de Lima Araújo, o Orelhae seus familiares.

Suspeito de tráfico e com mandado de prisão, Orelha fora preso e sequestrado por policiais civis que faziam parte do Bonde dos Coroas, quadrilha formada na 53ª DP, em Mesquita, na Baixada Fluminense, que possuía dois delegados e foi desarticulada essa semana pela Corregedoria da corporação. Oito foram denunciados no total pelo Ministério Público.

Orelha foi rendido no dia 31 de maio de 2017. Os agentes invadiram a sua casa e pediram R$ 50 mil para não levá-lo preso. Como não tinha o dinheiro, foi levado para a 53ª DP.

Após manter Orelha na delegacia por algumas horas, os policiais suspeitos desconfiaram que estava chegando alguém que poderia comprometê-los.Desta forma, colocaram a vítima mais uma vez na viatura e ficaram rodando de carro até que a situação na delegacia se normalizasse.

A mãe daOrelha conseguiu arrecadar apenas R$10 mil, o que foi aceito pelospoliciais para soltarem Carlos Vinícius, mas com a condição de que ele trouxesse o restante do dinheiro posteriormente, sob pena de ser vítima de um novo sequestro.

A extorsão foi feita sob ciência e anuênciado delegado Leonardo Grivot, que também fazia parte do Bonde dos Coroas, uma vez que homens de sua confiança comandaramas negociações para liberação de Orelha.

Além de terem sequestrado Carlos Vinicius, os agentes suspeitos subtraíram da sua casaalguns pertences, como um relógio da marca Invicta e R$ 150, mediante a graves ameaças já que portavam armas de fogo, inclusive fuzis.

R$1 mil para não ir preso

Em outra empreitada criminosa, no dia 27 de outubro de 2016, por volta das 18:30 hrs, no interior da 53º DP, demais policiais envolvidos com a quadrilha exigiram o pagamento de R$ 500das vítimas Eliete Matias Aranda e Gabriel dos Santos Moraes, como condição para que este não fosse preso.

Gabriel havia agredido sua companheira, razão pela qual aPM foi acionada e ambos foram levados inicialmente para a 57ªDP (Nilópolis). Diante da situação de flagrante de violência doméstica, ambos foram encaminhados para a delegacia de Mesquita,unidade que ficaria responsável pelo auto de prisão em flagrante.

Ao chegarem no local, opolicial Carlos Falcão iniciou o atendimento de Eliete e, estranhamente, liberou os policiais militares que acompanhavam o casal, apesar da necessidade deles serem ouvidos.

Falcão começou a fazer várias perguntas sobre quem pagava as contas em casa, se imóvel que residia era próprio e outras indagações estranhas ao fato e relacionadas a condição financeira do casal. Não satisfeito, o denunciado exigiu R$ 1 milde Eliete para que Gabriel não fosse preso.

A mulherdisse não estar entendendo, pois ela desejava que o seu companheiro continuasse detido. Diante da sua recusa, opolicial foi conversar com Gabriel e após alguns instantes retornou e exigiu de Elite a entrega de R$ 500, determinando que ela retornasse até sua casa e utilizasse o cartão bancário de Gabriel, tendo inclusive lhe entregue um papel com a senha bancária.

Desconfiada,Eliete indagou a Gabriel sobre esse saque de sua conta, tendo o mesmo lhe dito que o policial estava exigindo a entrega da quantia. Após sacar o valor exigido,a mulherretornou a Delegacia e entregou apenas R$ 400 ao agente suspeito, que sem entregar qualquer recibo ou documento, liberou Gabriel.

Segundo consta na denúncia, o delegado Leonardo Grivot estava presente e assistiu todo e desenrolar da história.

Policiais desistiram da propina ao saber que vítima era funcionário da Justiça

No dia 18 de maio de 2017, por volta das 10 horas da manhã, na Rua Presidente Costa e Silva, Edson Passos, em Mesquita, quatro policiais denunciados constrangeram a vítima Marcos da Cruz Costa, mediante emprego de violência e grave ameaça, a fazer algo que a lei não lhe obrigava, com o intuito de obter vantagem econômica.

Consta nos autos que Marcos foi abordado por quatro homens em uma viatura policial da 53a DP, que apontando armas de fogo, exigiram seus documentos. Após apresentar sua carteira de habilitação, a vítima disse que era funcionário do Tribunal de Justiça, com o objetivo de facilitar a abordagem, uma vez que os policiais estavam muito agressivos.

Um dos denunciados determinou queMarcos apresentasse sua identidade funcional ou contracheque, mas como ele não portava tais documentos, ospoliciais ficaram mais agressivos e começaram a agredir a vítima, sendo empurrado para o banco traseiro da viatura. Durante o percurso até a delegacia, ossuspeitos intimidavam a vítima, afirmando que "iriam embuchar" coisas em cima do depoente.

Ao chegar na unidade policial, a vítima foi levada para uma sala nos fundos da Delegacia e instantes após o delegado Matheus de Almeida ingressar na sala e se surpreender ao avistar o rapaz, chegando a falar para os outros denunciados " ele trabalha, trabalha, trabalha", reconhecendo Marcos da Cruz Costa como funcionário da 1ª Vara Criminal da comarca de Nova Iguaçu.

Avítima foi constrangida a ingressar no veículo com emprego de violência e grave ameaça e durante todo o percurso os denunciados a intimidaram com ameaças de imputação falsa de crimes que não foram cometidos pela vítima, com nítido propósito de cometer uma extorsão. Porém, como Matheus de Almeida reconheceu Marcos da Cruz Costa como servidor do Tribunal de Justiça, ele desistiu voluntariamente de
prosseguir com a execução do crime.

"Cumpre destacar que a organização criminosa foi estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem patrimonial, mediante a prática de diversos crimes, principalmente os crimes de extorsão, concussão, prevaricação, ameaças, entre outros", afirma a denúncia.
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