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Detalhes não tão pequenos

'Roberto Carlos Outra vez' marca última parte da trilogia que Paulo César de Araújo faz sobre o cantor

Dividida em dois volumes, o autor aborda 50 canções para trazer detalhes, alguns inéditos, desde o nascimento do rei até o início dos anos 70


Paulo César de Araújo é autor de três livros sobre Roberto Carlos. Foto: Reprodução/Facebook

“Não adianta nem tentar me esquecer/Durante muito tempo em sua vida, eu vou viver” era o que Roberto Carlos cantava logo no início da música Detalhes, de 1971. E o trecho dessa música talvez seja o que melhor explique uma situação que, por mais que o cantor tente deixar de lado, jamais conseguirá apagar da memória. O fato de ter ficado eternizado em uma biografia, quer fosse da vontade dele ou não.

Seja a tentativa de apagar a obra de suas próprias lembranças, ou das recordações do brasileiro que o acompanha, o fato é que no final de 2006 o artista se tornou objeto de uma biografia. Roberto Carlos em Detalhes, lançado à época pelo jornalista e historiador Paulo César de Araújo. Uma década e meia após uma série de disputas judiciais, que só foram finalizadas com uma decisão unânime do Supremo Tribunal Federal em 2015, o escritor volta à tona com Roberto Carlos Outra Vez – Parte 1 (1941-1970) da Editora Record. E assim como nos versos de Detalhes, o rei sabe que, por mais que quisesse esquecer, terá que conviver durante muito tempo da vida com os questionamentos e abordagens sobre a obra.

Foto: Divulgação

Paulo César recebeu o Portal Eu, Rio para um bate-papo em um local que traz relações diretas com sua pesquisa. O Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense, em Icaraí, na Zona Sul de Niterói. Segundo o autor conta em O Réu e o Rei, lançado em 2014 e que trata do embate dele com Roberto, foi no local que o então aspirante a escritor abordou Chico Buarque, que saía apressado de um evento, para falar sobre a pesquisa que fazia a respeito da Música Popular Brasileira. E no tema constava um estudo sobre Roberto Carlos.

Mas ressalte-se que outros locais que não tinham nenhuma vocação turística também o ajudaram imensamente nessa pesquisa. Um deles foi um orelhão em uma rua no Cubango. Era nele que o então estudante de História da UFF e que também estudava Comunicação Social na PUC na mesma época, mas, naturalmente, em outro horário, marcava as entrevistas com os cantores. Sempre torcendo para o papo ser o mais breve possível para que as fichas telefônicas não caíssem, algo completamente desconhecido pela atual Geração Z.

Após a abordagem e antes de iniciar a gravação, houve uma preocupação do repórter para o vento não prejudicar a qualidade da gravação do áudio. Paulo entendeu perfeitamente a situação e relembrou que passou por algo parecido ao entrevistar Tom Jobim no Jardim Botânico para o mesmo projeto.

Quem lê esta reportagem já deve ter notado um tom diferente, talvez mais próximo do leitor. O autor não fez isso de caso pensado, mas se Roberto Carlos optou por cantar inúmeros momentos de sua vida em canções de forma que muitos poderiam julgar como um processo pouco convencional de composição e o próprio Paulo César de Araújo lidou com inúmeras alterações no rumo da pesquisa enquanto entrevistava os cantores, então por que um repórter não pode agir da mesma forma em uma matéria onde ambos são abordados dentro de um mesmo assunto?

Por isso, faz-necessário fazer uma paráfrase com uma expressão que Machado de Assis usa em inúmeras ocasiões no livro Memórias Póstumas de Brás Cubas. O caro leitor que vai acompanhar este texto há de entender o repórter por esta decisão de escrita.

Voltando ao tema principal, Paulo César explica a principal diferença entre o livro lançado entre o fim de novembro e início de dezembro de 2006 e a obra que foi apresentada ao público justamente 15 anos depois, marcando uma espécie de bodas de cristal literária. Segundo o autor, o primeiro livro é dividido por temas, enquanto o trabalho atual conta a história de Roberto de acordo com as músicas.

“É um livro novo especialmente na forma da narrativa da obra. Já Roberto Carlos em Detalhes era mais temático, ou seja, trabalhando em temas. Exemplo: ‘Roberto Carlos e o amor’ ou ‘Roberto Carlos e o rádio’. Já o trabalho atual foi feito de maneira onde cada capítulo é uma música dele. E a análise é feita por cima, por baixo, do alto e do lado. Como uma canção foi composta, o que o Roberto pensava, qual era o contexto da época em que foi escrita. Por isso que considero um trabalho mais denso, tanto que não coube tudo em um volume só. Nesta primeira parte, falo desde o nascimento dele, em abril de 1941, até 1970, analisando 50 letras. O segundo volume vai analisar outras 50 músicas, da década de 70 até a atualidade”, explica o autor.

Mas Paulo César enfatiza que essa não é a única novidade. Ele conta que desde 2005, quando finalizou o primeiro livro, teve acesso a várias fontes que surgiram justamente quando o trabalho de Roberto Carlos em Detalhes tinha chegado ao fim, como as biografias de Wanderleia, Erasmo Carlos, Maísa e Carlos Imperial

Depoimento e detalhes inéditos na biografia atual

Mas a novidade não fica restrita a apenas novas fontes de consulta. Paulo revela que um depoimento que não tinha julgado como pertinente no primeiro livro entra na obra atual por entender que precisava ser levado ao público. E uma delas fala sobre um período delicado para Roberto, que foi o acidente de trem que o cantor sofreu enquanto criança.

Recordando a entrevista que fez com uma das melhores amigas de infância dele, Eunice Solino, também conhecida como Fifinha, o escritor comenta que ao ouvir o depoimento dela para a obra atual percebeu coisas que não se encontram no primeiro livro

“A Eunice Solino, a Fifinha, praticamente não fala em Roberto Carlos em Detalhes. Dessa vez, ao ouvir novamente o depoimento dela, notei detalhes fundamentais, como a professora de escola dos dois gritando logo após o acidente. Ela também fala da cor da calça dos meninos desfilando e outros detalhes que eu achei bacana trazer a voz dela para o livro atual, coisa que não coloquei no outro”, comenta.

Outros detalhes inéditos que Paulo Cesar conta que o leitor vai encontrar na obra atual são revelações sobre a forma como as gravações aconteciam e até aspectos relativos aos direitos autorais, tema que para alguns é considerado controverso envolvendo Roberto Carlos, já que há muitos comentários sobre possíveis plágios. O jornalista garante que o livro também explica este aspecto, contando como muitas composições chegaram até o cantor.

E ainda a respeito das composições, Paulo garante que vai abordar até mesmo o tão conhecido solo de flauta de Como é grande o meu amor por você, um dos clássicos de Roberto.

Andamento da segunda parte da obra

Como dito anteriormente, Paulo César admite que não conseguiu colocar todo o trabalho em um mesmo volume pela abordagem ser mais densa. Por essa razão, o autor não fala em uma data de lançamento da segunda e última parte da trilogia envolvendo o cantor. Entretanto, garante que o trabalho estará disponível “em breve”.

Promessa de mais livros sobre nomes da MPB

Se alguém pensa que a nova obra sobre o rei encerra o trabalho dele a respeito da MPB, está enganado. O historiador conta que “tem na cabeça” um projeto para falar sobre a história da Música Popular Brasileira moderna. Citando a disciplina da qual dá aulas na PUC a respeito, Paulo César pretende fazer o trabalho parecido com a forma como escreveu seu primeiro livro, Eu Não Sou Cachorro, Não, de 2002. E ele garante que tem material de sobra para isso.

“Tenho até hoje guardadas as entrevistas que fiz com Tom Jobim, Caetano Veloso, João Gilberto, Bethânia e Gal Costa, por exemplo. O que usei em todos os meus livros foi só uma parte desse material, pois 90% ainda está guardado. Tem muita coisa inédita. O foco será a MPB, destacando debates, mitos, versões, contradições e polêmicas. Vou falar da geração pós-Bossa Nova, dos anos 60 em diante”, explica Paulo, que garante ter a pesquisa "bem detalhada”.

Outros detalhes nem tão pequenos assim...

Muitos temas foram citados no bate-papo. Como seria impossível transcrever tudo para um texto e, ao mesmo tempo, seria cansativo para o leitor, logo abaixo se encontra uma reportagem especial feito com o áudio da entrevista. A qualidade não se encontra a mais adequada pelo fato de repórter e entrevistado estarem em um ambiente externo. Mas nada que prejudique a compreensão de quem deseja saber mais os detalhes nem tão pequenos envolvendo o trabalho do biógrafo de Roberto Carlos. Para ouvir, é só clicar no play logo abaixo.




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