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Diversidade racial em falta

Levantamento mostra que negros não chegam nem a 20% nos principais jornais do Brasil

Pesquisa realizada pela Gemma identificou que 84% dos profissionais do meio se declararam como brancos


Maju Coutinho fazendo o gesto do filme "Pantera Negra". Pesquisa mostra que percentual de pretos no jornalismo ainda é muito baixo. Foto: Reprodução/TV Globo

Desde que a rede de lojas Magazine Luíza lançou, em 2020, um programa de treinamento e contratação voltada exclusivamente para pessoas negras que o país tem discutido inúmeras iniciativas voltadas para a diversidade racial. No jornalismo não é diferente, mas um levantamento atual mostra que ainda há muito trabalho a ser feito nas redações. Segundo pesquisa no fim do ano passado pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemma), 84% dos jornalistas que trabalham nos três principais jornais impressos do país se declaravam como brancos.

O levantamento foi um trabalho feito em parceria entre o Gemma e a Rede Jornalistas Pretos, também conhecida como Rede JP. A análise foi realizada entre 1193 jornalistas que atuam nos seguintes veículos: O Globo, Folha e O Estado de São Paulo. O resultado mostra uma quantidade quase duas vezes superior ao percentual da população branca brasileira de acordo com dados de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). À época, o estudo mostrava que o Brasil tinha 43% de brancos e 56% de pretos e pardos.

Em conversa com o Portal Eu, Rio, a pesquisadora responsável pelo projeto, Poema Portela, explicou que todo o trabalho de pesquisa durou seis meses, mas que ainda há outros dados que devem ser atualizados no levantamento ainda no primeiro semestre deste ano.

"Entre a primeira conversa que fizemos com o pessoal da Rede Jornalistas Pretos e a publicação desses primeiros resultados foram 6 meses de planejamento, coleta de dados, análise e produção do infográfico. Mas a pesquisa não está encerrada ainda, estamos trabalhando em outros dados, que devem ser lançados ainda este semestre", conta.

Poema também justifica que a escolha pelos três veículos em questão se deve ao fato de serem os de "maior circulação no país" e também por uma "questão metodológica", pois para conseguir o resultado final era necessário ter uma edição fechada para ter um sorteio da amostra que seria analisada. Além disso, a responsável pelo estudo também salienta que o jornal impresso ainda é visto como um conteúdo com mais credibilidade se comparado à mídia digital. Ou seja, esse foi outro fator que a pesquisa levou em conta.

Poucas mudanças vistas

Ela explica ter ficado surpresa ao perceber que pouca coisa mudou do levantamento feito há cinco pelo Gemma comparado ao atual. Uma delas é a distribuição quase igual entre pretos e descendente de asiáticos nas redações.

" É chocante, por exemplo, verificar que em algumas dessas redações tem tantas pessoas pretas quanto amarelas (de origem asiática), considerando a proporção de cada um desses grupos na população brasileira. A conversão disso em resultados efetivos ainda é muito tímida. Considerando que políticas de ação afirmativa ampliaram o acesso de um grande número de pessoas às universidades, formando profissionais altamente qualificados, não existe outra justificativa para a falta de diversidade que não seja baseada no racismo estrutural", explica.

De tudo o que foi analisado, o jornal considerado mais desigual na distribuição de vagas entre pretos foi o O Estado de São Paulo, com apenas 1% de afrodescendentes na redação. A pesquisa completa pode ser acessada aqui:

Fundadora da Rede JP, a jornalista Marcelle Chagas do Monte Gontijo comentou que o trabalho é fruto de uma iniciativa voltada para ampliar o estudo sobre a diversidade no jornalismo. Ela também pontua que o resultado mostra o direcionamento do que é feito nas redações do Brasil.

"A Rede JP tem tem se especializado na realização de pesquisas sobre a diversidade na comunicação que é o nosso foco. A pesquisa "Jornalismo Brasileiro: raça e gênero de quem escreve nos principais jornais do país" que fizemos em parceria com a equipe do GEMMA/UERJ e a pesquisa "Perfil Racial da Imprensa" que fizemos ao lado do Jornalistas&Cia, Instituto Corda e parceiros, apresentam dados muito importantes sobre o direcionamento do jornalismo produzido no Brasil e o direcionamento do pensamento crítico da nossa população", comentou Marcelle.

Poema explica que o levantamento atual só foi possível graças à procura feita por Marcelle no intuito de construir dados mais recentes sobre o tema. E adianta que foi importante esse trabalho para analisar outros assuntos que muitas vezes não são percebidos pelos próprios jornalistas, como a hierarquização de pautas.

"Ter o suporte de profissionais que vivem diretamente o processo de exclusão desses espaços foi fundamental para definirmos o que seria observado. Por exemplo, em uma próxima publicação vamos falar das temáticas e cadernos em que tais profissionais escrevem, pois as jornalistas da Rede nos alertaram para uma possível hierarquia temática", detalha Poema.

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