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Entre fios, linhas e memórias: a história de uma das maiores indústrias têxteis do país

Altenburg vem construindo sua história no mundo ao exportar para mais de 30 países nas últimas três décadas

Por Portal Eu, Rio! em 01/03/2022 às 12:13:21

Fábrica da Altenburg em Blumenau/SC. Foto: Mariana Finta

Uma empresa de tradição familiar, que vem investindo em novos processos para ampliar mercado. Genuinamente brasileira e fundada por descendentes de imigrantes europeus, a Altenburg vem construindo sua história no mundo, ao exportar para mais de 30 países nas últimas três décadas.

É uma história de empreendedorismo, que nasceu da necessidade para o sustento de uma família. Em 1922, Johanna Altenburg, viúva, iniciava em sua residência, na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, a produção artesanal de acolchoados. Das mãos de uma mãe batalhadora nasceu os primeiros acolchoados e travesseiros confeccionados com algodão, lã de carneiro e penas de ganso. Atendendo a pequenas encomendas, o zelo de Johanna conquistou a comunidade do entorno. A qualidade dos acolchoados persistiu ao pós-guerra, quando a pequena fábrica fundada em Blumenau ganhou um novo impulso. Em 1946, seu filho Arno assumiu o empreendimento, ao lado de sua esposa Anna. Com o objetivo de impulsionar o crescimento da empresa, que ganhava espaço no sul e sudeste do país, o jovem casal realizou as primeiras ampliações do parque fabril, adquiriu maquinário especializado e, em 1969 inaugurou a primeira loja, anexa ao parque fabril existente na época.

A partir de 1970, Rui Altenburg, o filho mais jovem de Arno e Anna, iniciou a jornada de ampliar o negócio e perenizar o legado de sua família. O empresário, hoje com seus cabelos brancos, e com uma experiência ímpar conquistada ao longo de meio século de trabalho, reconhece o grande desafio que viveu ao assumir a gestão da empresa e ter impacto direto na vida de milhares de pessoas.


Rui Altenburg. Foto: Divulgação

A inovação e a busca por novos produtos sempre foram predominantes em sua gestão. Rui relembra que a Altenburg foi a primeira empresa a trazer ao Brasil roupas de cama com tratamento easy care, que dispensam a utilização do ferro de passar. A empresa também foi ganhadora de um importante prêmio nacional de sustentabilidade em 2010 com o lançamento do travesseiro Ecofriendly, com recheio de fibras derivadas de garrafas PET. Atualmente se utiliza mais de 150 milhões de garrafas PET na produção de travesseiros, edredons e também na fabricação de painéis termo acústicos, produtos importantes para inovação e sustentabilidade das construções. Neste ramo de construção civil o grupo atua com a marca Ecofiber, que também atende o mercado moveleiro. Pioneirismo está no DNA da empresa, que também trouxe para o segmento de cama a marca Tencel (Lenzing), cuja fibra celulósica que compõe o tecido é de qualidade superior ao algodão e extraído da madeira Eucalipto reflorestado, fonte renovável. Foi a primeira no Brasil ao produzir roupas de cama com atributos sustentáveis como, por exemplo, o tecido de malha purgada, que é produzido com redução de 20% no consumo de energia e a MalhaPET com poliéster reciclado.

A persistência e o desprendimento para ousar sempre foram os combustíveis que moveram as ações do presidente da empresa. “Um conselho para quem está começando: é preciso ser criativo, insistente e persistente. Estagnação e medo de dar novos passos não nos fazem sair do lugar, da nossa zona de conforto”, comenta Rui Altenburg. E foi assim que o neto de Johanna enfrentou diversas crises e planos econômicos desde que assumiu a administração do negócio. Contrariando todos os movimentos do mercado, a Altenburg modernizou a linha de produção e diversificou o portfólio de produtos. Esse investimento assertivo teve como primeiro grande marco a aquisição de duas novas Unidades, instaladas às margens da BR 470, na cidade de Blumenau. A Unidade I foi adquirida em 1986 e a Unidade II, que concentra em seu espaço o primeiro Outlet da marca, entrou em operação no ano de 2002.

Ao olhar para o passado, Rui Altenburg reconhece o esforço e propósito traçado pelos pais na continuidade do negócio. “Era o sustento deles e da família. Meu pai cuidava da parte comercial e técnica de equipamentos e a minha mãe cuidava da área de criação e produção. Ela gerenciava a empresa e abria a fábrica às 5h da manhã. A minha mãe Anna, foi realmente uma guerreira, uma pessoa determinada, muito correta e, também, exigente. Isso eu acabei herdando como um legado dela”, comenta.

Quando Arno e Anna confiaram a administração da Altenburg à terceira geração da família, Rui somava pouco mais de vinte anos de idade. Apesar de jovem, conhecia o negócio como ninguém, pois cresceu dentro da fábrica. “Inicialmente só fabricávamos acolchoados, que são os edredons de hoje. A produção era muito sazonal no inverno. Lógico que também fabricávamos travesseiros, mas não para comercializar em grande escala. Para conseguir nivelar o faturamento foi preciso investir, inovar, trazer ao mercado colchas e artigos leves que também pudessem ser usados em outras estações do ano. A partir disso, passamos a ter uma fabricação mais intensa de travesseiros. Primeiramente de travesseiros de algodão, depois entramos com o travesseiro de fibras sintéticas e com isso já conseguimos maior equilíbrio. Depois nós iniciamos com as roupas de cama e agora a mais de uma década com a coleção de toalhas de banho também”, destaca.

Semelhante a Rui, seus filhos que representam a quarta geração da família cresceram acompanhando os grandes marcos da fábrica. A criação de uma holding de negócios no ano de 2004 anunciava o início da trajetória profissional constituída por Danielle, Tiago e Gabriel. Tiago assumiu a Área de Projetos em 2007, após conclusão da sua formação em Engenharia Industrial Têxtil no SENAI-Cetiqt (RJ). Em 2009 foi a vez de Danielle, recém-chegada da Itália onde estudou gestão de marcas e moda. A primogênita de Rui dirigiu o projeto de criação da primeira Altenburg Store em São Paulo, iniciando o sonho de ampliar a rede de lojas. Seguindo o caminho traçado pelos irmãos, Gabriel ingressou em um projeto de trainee em 2010, tendo a oportunidade de conhecer de perto e atuar em todos os setores da empresa. Atualmente cuida do programa “Bem mais Sustentável”, projeto que visa agrupar as iniciativas de sustentabilidade da empresa alinhadas ao propósito de ampliar o bem-estar na vida das pessoas. Nestes últimos 15 anos, em que pai e filhos administraram o negócio, a Altenburg deixou de ser somente uma indústria para atuar também no varejo. Atualmente são 14 lojas próprias e a marca está presente em mais de 10 mil pontos de venda por todos os estados brasileiros.

A maior produtora de travesseiros da América Latina conta com quatro plantas no Brasil e uma no Paraguai. Com foco no design, conforto e qualidade, leva ao mercado todos os meses mais de 1,6 milhões de produtos, gerando mais de dois mil postos formais de trabalho. “Eu nunca imaginei que chegaríamos a esta magnitude. Sempre dizia que não gostaria de ultrapassar o número de 500 colaboradores e esse número foi facilmente ultrapassado. Hoje nós empregamos mais de duas mil pessoas e quem sabe até onde vamos? O céu é o limite”.

Rui Altenburg traçou alguns caminhos para garantir a continuidade da marca. Em meados de 2010 aderiu aos conceitos da governança corporativa. O empresário relembra que um “choque de realidade” o fez pensar no futuro da empresa. “Perdi dois amigos em acidentes fatais e a partir daí comecei a pensar no que seria da companhia se algo acontecesse comigo. Alinhamos então, dentre outras iniciativas, a consolidação de um conselho consultivo, da estrutura patrimonial e de um acordo de sócios”.

“Nestes últimos anos o processo decisório foi realinhado dentro da organização. Foram criados vários comitês de trabalho, multissetoriais, subordinados ao comitê executivo, este com a participação do CEO. O propósito é a busca de maior assertividade nas decisões e a criação de novos líderes na organização, a partir do exercício de construir e apresentar propostas. Enquanto desenvolvemos pessoas, decidimos melhor”, destaca Tiago.

A vida organizacional é sempre muito rica, dinâmica e cheia de novidades. O desafio é grande, ainda mais em uma empresa familiar quase centenária. “Tive a grata satisfação de poder preparar um dos meus filhos para dar sequência ao processo de crescimento e desenvolvimento da empresa”, diz Rui.

O neto de Johanna anunciou que já tem o nome do seu sucessor e que já vem o preparando há 15 anos. Tiago Altenburg será o novo presidente da companhia e deve assumir durante o ano de 2022.


Rui com Tiago Altenburg, seu sucessor na empresa. Foto: Divulgação

Com a mudança, Rui passará a presidir o Conselho Consultivo. “A sucessão não é um evento, mas um processo, e tivemos tempo de construir uma relação diferente dentro da empresa. Dentre as prioridades da nova gestão destaca-se: desenvolver novas lideranças, ampliar a automação e digitalização de processos, aumentar a inovação em produtos e ampliar a nossa rede de lojas. Nestes 15 anos de Altenburg aprendi que cada coisa acontece ao seu tempo. Paciência e resiliência são características importantes para ser um continuador e perpetuar o legado do meu pai, avós e bisavó”, diz Tiago.

A família sempre teve um porto forte dentro de casa: Irene Reuter Altenburg, casada com Rui desde 1980, e que acompanhou e orientou cada passo dos filhos e do marido. Hoje, mais do que nunca vibra com cada conquista da família. “Eu estou muito realizada com todo esse momento de reviver a história da Altenburg. Isso é emocionante e eu sou muito grata por ter criado essa família linda ao lado do meu marido, participar da campanha de marketing da nossa nova marca Altenburg Haus, de poder estar vivendo e celebrando o nosso Centenário”, comemora Irene.

Rui reforça as escolhas que direcionaram a construção do seu legado. “Sou um empresário, um gestor, uma pessoa exigente e atenta aos detalhes. Aprendi isso com a minha mãe e com o meu pai. Todo esse cuidado se reflete em todas as conquistas que obtivemos até aqui. E com certeza, vamos além. Quero deixar aos meus filhos esse senso crítico de observação e a busca pela melhoria continua. É a nossa bandeira da busca da excelência”, finaliza.

Mirando no futuro, Tiago avalia com otimismo o cenário atual. “São muitos os desafios e estamos preparados. Acredito firmemente em nosso propósito e sua conexão com o novo consumidor, mais conectado e ávido por produtos que proporcionem experiências positivas; Isso tudo, com respaldo financeiro. Nos últimos anos temos registrado um crescimento na ordem de 10 a 15%, a receita anual do grupo ultrapassou os 610 milhões em 2021. Existe um estudo para ampliação da rede de lojas, bem como trabalhamos num e-commerce B2B, com a solidez de mais de 10 anos da nossa operação do B2C”, comenta. O continuador, como Rui prefere chamar o seu sucessor, diz que o maior desafio será mesclar a avidez da juventude com o legado e sonhos que Rui Altenburg deixará para futuras implementações. “Além disso, a internacionalização da marca, que hoje já exporta para mais de 30 países, é um dos grandes passos em médio prazo”, finaliza Tiago Altenburg.


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