A juíza Tula Corrêa de Mello, do 1º Tribunal do Júri da Capital, ouviu nesta segunda-feira (28/03) o policial militar Rodrigo de Matos Soares, acusado pela morte de Ágatha Felix, então com 8 anos, no dia 20 de setembro de 2019. Esta foi a terceira audiência de instrução e julgamento do processo no qual Soares é réu por homicídio qualificado. O caso aconteceu na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, quando Ágatha, que voltava para casa com a mãe, foi atingida dentro de uma kombi por um tiro de fuzil.
Em seu depoimento, o policial afirmou que não sabe de qual arma saiu o tiro que matou Ágatha e que não chegou a ver a kombi no dia. Soares contou que, por ordens superiores do comando da UPP do local, nenhum policial militar deveria participar da reconstituição dos fatos feita pela Polícia Civil. Entretanto, ele e outros dois colegas de guarnição resolveram participar. Segundo ele, um dos policiais fez, na reencenação, um movimento diferente do que havia feito no dia, durante a suposta troca de tiros com dois homens numa moto.
Ao ser questionado pela juíza Tula o porquê de, no começo de seu depoimento, Soares homenagear um policial que havia morrido no local dias antes da morte de Ágatha, ele afirmou que não havia sentimento de vingança ou raiva que estivesse relacionado aos confrontos do dia 20 de setembro.
Lotado na 1ª UPP da Fazendinha, Rodrigo está afastado da corporação desde o caso. Ele contou que era de praxe que a guarnição deixasse o posto no início da noite, pois era um local perigoso, com risco de ataques. No dia da mortee dia eles receberam uma ordem para permanecer naquela posição, mas começaram a receber ameaças informadas por mototaxistas da comunidade. Soares disse que dois homens numa moto fizeram disparos contra ele e um colega e que após revidarem com três disparos, se abrigaram numa loja de construção até que o confronto cessasse.
Élcio Oliveira, também lotado na UPP, disse, por videoconferência, que não recebeu tiros vindos de mototaxistas e que só soube depois da morte de Ágatha, ainda que não tivesse perguntado quem havia feito o disparo que acertou a kombi.
Ismael, morador da Fazendinha, contou que estava bem próximo ao grupo de policiais de onde partiu o tiro que matou a menina e que não saberia identificar o autor do disparo, mas que ele estava entre os policiais posicionados próximos ao ponto onde a kombi foi alvejada. Segundo ele, não havia nenhum confronto no local.
A testemunha também afirmou que dois homens em uma moto passavam no local e o carona carregava uma esquadria de alumínio debaixo do braço. O morador frisou que nenhum dos homens estava armado e que ouviu dois estampidos logo após os mototaxistas passarem.
Perguntado se os tiros atingiram os ocupantes da moto, a testemunha disse que não e que tampouco os policiais prestaram socorro a menina, mesmo sabendo que ela havia sido baleada.
O sargento Robson, que trabalhava há quatro anos na Fazendinha, não soube responder porque, no dia, não quis saber quem havia disparado em direção à kombi.
Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro