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“Não consigo mais tirar o sustento da minha família", protesta pescador da Baía da Guanabara

Apesar de seguidas denúncias contra a Reduc, Petrobras insiste que não tem responsabilidade por água avermelhada; Inea sustenta que mantém "fiscalizações regularmente"

Por Anderson Madeira em 08/04/2022 às 21:30:00

Destruição da biodiversidade no entorno da Baía é tema de denúncias "há anos" por parte do presidente da Colônia de Pesca de Duque de Caxias. Fotos: Gilciney Lopes Gomes

Pescadores artesanais que trabalham nos rios que cortam a Baixada Fluminense, principalmente o Rio Iguaçu, que atravessa a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, denunciam que está cada vez mais difícil conseguir o sustento diário. Além da poluição, causada por dejetos oriundos da refinaria que têm levado à mortandade de peixes e o mau-cheiro, a água está apresentando coloração avermelhada. A Colônia de Pesca de Duque de Caxias conta que há anos chama a atenção das autoridades para o descaso com a biodiversidade, mas até agora nenhuma medida foi tomada.

“A água do Rio Iguaçu está avermelhada, eu venho mostrando isso há anos. Já enviei ofício para a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e não me responderam. Tem um boletim de ocorrência também na 60ª DP (Campos Elíseos/Duque de Caxias). A água avermelhada vem da Reduc. Não é Coca-Cola ou Pepsi, como algumas autoridades vêm falando, pela péssima fiscalização que o Inea faz lá dentro”, reclamou o pescador Gilciney Lopes Gomes, presidente da Associação Colônia de Pesca de Duque de Caxias e está na profissão há 40 anos.

Em 11 de março, a Associação protocolou pedido na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Proteção Animal de Duque de Caxias (SMMA) para visita técnica do órgão, com fins de verificação do despejo dos rejeitos químicos no Rio Iguaçu e na foz da Baía da Guanabara. “Inúmeras denúncias já foram realizadas na tentativa de sanar o problema, juntando uma série de imagens de registro, principalmente nas redes sociais, mas sem sucesso”, diz um trecho do ofício.

Na justificativa, o texto cita que “o despejo está causando intensa diminuição da biodiversidade local, ocorrendo perda da renda de forma parcial e total das famílias e comunidades locais que vivem da atividade pesqueira”.

Um mês antes, em 15 de fevereiro, a Associação havia pedido à Câmara Municipal, também através de ofício, a realização de audiência pública para discutir o tema, com a presença de representantes da Transpetro, Reduc, Braskem, Inea, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Ministério Público Federal, Biogás Engenharia Ambiental e a empresa J. Malucelli Construtora de Obras. Porém, até hoje, a entidade não teve resposta da Câmara. Atualmente, está em andamento uma ação civil pública na 2ª Vara Federal de Duque de Caxias.

Associação protocolou pedido de audiência pública, na Câmara dos Vereadores

Procurada, a SMMA de Duque de Caxias informou ontem (7) que enviaria uma equipe de profissionais com o objetivo de analisar o local informado pela Associação. Em relação às medidas para sanar o problema, a pasta esclarece que após a realização da vistoria de fiscalização, procederá as/os notificações/embargos pertinentes para adequações necessárias para por fim a eventuais contaminações. Conforme a reportagem apurou, até o dia de hoje a Secretaria não tinha enviado equipe ao local para verificar as denúncias.

“Não consigo mais tirar o sustento da minha família, da pesca, por abandono do poder público. As empresas continuam despejando os seus rejeitos químicos dentro do mangue e na Baía da Guanabara”, acrescenta o pescador.

Também procurada, a Petrobras informou que não há vazamento ou qualquer tipo de despejo pela Reduc em “corpos hídricos” no seu entorno, de acordo com resposta enviada na seguinte nota.

“Todo o efluente é tratado dentro das normas da legislação ambiental, e analisado diariamente. A Reduc realiza o monitoramento da qualidade da água dos rios Iguaçu e Sarapuí”, rebateu.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que vai apurar a denúncia citada pela reportagem. “Cabe ressaltar que o órgão ambiental estadual realiza regularmente fiscalizações na área’, explicou, em nota.

Assista, no vídeo abaixo, à gravação realizada por Gilciney Lopes Gomes na manhã de 4ª feira (6), em que denuncia despejo de produtos tóxicos atribuído à Reduc.


Poluição vai virar documentário

Todo o drama vivido pelos pescadores da região vai virar tema de documentário, produzido pelo canadense Andrew Christian Jonhson. “É um projeto pessoal, totalmente independente e está em produção ainda. Comecei um projeto fotográfico em 2019 e esse documentário faz parte dele. Estou torcendo para fechar a edição até o final do ano. Não tenho como dizer onde vou exibir, mas, pelo menos, será online”, contou.

O trabalho de Andrew foi encomendado por inúmeras agências e publicações, incluindo The Globe and Mail, Toronto Star, O Estado de S.Paulo, Amazon Watch e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), além de ser exibido publicamente tanto no Canadá quanto no Brasil. Fluente em português, foi premiado pelo International Photography Awards, News Photographer's Association of Canada e Loyalist College Photojournalism Program.

Vista panorâmica do espelho d'água em Duque de Caxias

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