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Medo de dirigir afeta 6% dos brasileiros e causa dificuldades na vida pessoal e social

Conhecido como amaxofobia, transtorno causa prejuízos para busca de oportunidades de trabalho, causa baixa autoestima e pode levar à depressão

Por Portal Eu, Rio! em 05/05/2022 às 10:00:00

Rosemayra venceu o medo de dirigir. Foto: Divulgação

Quando a militar do Exército Rosemayra Godim, de 32 anos, aproximava-se do carro, as pernas travavam e ela começava a suar frio imaginando as mais horrendas cenas que poderiam ocorrer caso dirigisse. E foi criando cenas irreais, mas que, na sua mente, realmente existiam, que ficou oito anos sem dirigir após ter tirado a carteira de habilitação.

Rosemayra sofria de amaxofobia, mais conhecida por "medo de dirigir". Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 6% da população brasileira habilitada é afetada pelo transtorno. Além disso, levantamento realizado pela Associação Brasileira de Medicina do Trânsito (Abramet) aponta que 80% das pessoas que não dirigem por medo são mulheres.

De acordo com a psicóloga Salete Coelho Martins, criadora do Método Psicotran para superação dessa fobia, o caso de Rosemayra infelizmente é comum e causa baixa autoestima e desvalorização pessoal, trazendo prejuízos para busca de oportunidades de trabalho, vida social e até financeiramente, porque muitas vezes a pessoa tem o carro, paga IPVA e seguro, mas não consegue usufruir desse bem. “Pessoas que sofrem desse medo escolhem empregos próximos por não terem condições de ir a um trabalho mais longe de carro e pode acarretar até separação pelo fato de que a impossibilidade de dirigir impede a divisão de tarefas corriqueiras do dia a dia, como ir ao supermercado ou buscar o filho na escola”, alerta.


Psicóloga Salete Coelho criou o Método Psicitran. Foto: Divulgação

Pressão social pode levar à depressão

Ao contrário de outros países, no Brasil dirigir é cultural, causando até situações constrangedoras para quem sofre dessa fobia. “As pessoas não entendem como é possível alguém ter medo de dirigir ou ter carteira de motorista, como a Rosemayra, e não assumir o volante. É uma pressão social enorme que essas pessoas sofrem no dia a dia, que pode levar até a um quadro de depressão”, observa a psicóloga especialista em amaxofobia.

Rosemayra tirou a habilitação em 2012 e começou a se afastar do carro ao imaginar situações que nunca tinham acontecido. A situação ficou insustentável quando começou a depender muito das pessoas para ir ao trabalho ou do marido para questões de rotina.

Suor frio, pavor e choro na primeira sessão

Ao começar o tratamento, em julho de 2020, em plena pandemia, foram várias sessões antes de encarar novamente o volante. Rosemayra conta como foi se aproximar do carro depois de oito anos de pânico. “Era apavorante, suava frio, era muito difícil. Cheguei até a chorar, porque você sente vontade de dirigir, mas algo te impede”, relata.

Superar o medo de dirigir foi um divisor de águas na sua vida. Ela conta que não ocorreu do dia para a noite. Salete conta que, assim como Rosemayra, o que acontece é um tratamento e não um treinamento. “Você vai dando informações e subsídios para reformular a mente do paciente para que a fobia não o paralise”, aponta.

Primeira vez que dirigiu até o trabalho foi de nervosismo e emoção

Com Rosemayra foi assim. Salete, que antes ia até a casa da paciente para as sessões de carro, passou a buscá-la na metade do caminho até que ela pudesse ganhar segurança suficiente. Rosemayra conta o momento em que foi sozinha no trabalho. “Lembro até hoje e foi emocionante. No primeiro dia fiquei nervosa, mas consegui ir o caminho todo. Quando cheguei no local, tirei uma foto e foi muito especial ter vencido. Depois daquele dia, eu ia e voltava todos os dias. Hoje olho para trás e me sinto muito mais segura. Claro que ainda dá um friozinho na barriga, mas consegui vencer e virar a chave do medo”, comemora.

Rosemayra tem motivos para comemorar. Depois de todo processo, ela ficou grávida em março de 2021 e hoje leva o filho Arthur, de cinco meses, ao pediatra de carro e a todas as outras ocasiões que precisa ir com ele. “É libertador poder sair e fazer as coisas sem as distorções que eu criava. Mas sem ajuda é bem difícil mesmo”, aconselha.


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