“Esse absurdo que aconteceu em Itaboraí é o reflexo da política do 'terrivelmente evangélico'. Muitos prefeitos pelo país usam recursos públicos para promover shows gospels para atender aos vereadores da bancada religiosa. Assim também tem sido no Congresso e nas assembleias legislativas”, afirma Nunes, que assina a representação junto com o filho, o vereador Átila Alexandre (PSD). O parlamentar também entrou com uma denúncia junto à Delegacia de Crimes Raciais e de Crimes de Intolerância (Decradi) contra Valadão. Em 2021, o parlamentar carioca foi o primeiro secretário municipal de Cidadania, tendo, quatro anos antes, sido nomeado secretário estadual de Direitos Humanos.
“Peço o ressarcimento de R$ 145 mil gastos no show gospel, bem como a condenação do prefeito no mesmo valor a ser destinado às vítimas de intolerância religiosa”, acrescentou Átila. Na tarde desta segunda-feira (23), o deputado se reuniu com o comandante do 35º BPM (Itaboraí), Coronel Luiz Henrique Marinho Pires, solicitando reforço no policiamento nos bairros de Itaboraí com concentração de terreiros de umbanda e candomblé.
Nas representações, o deputado solicita instauração de procedimento administrativo para apurar eventual responsabilidade criminal do pastor; aplicação das penalidades devidas, de acordo com o grau de violação apurado; e notificação da Prefeitura de Itaboraí, bem como da Secretaria de Turismo e Eventos para se manifestar a respeito.
No último dia 20, membros da Comissão de Matrizes Afro Brasileiras de Itaboraí foram até a 71ª DP (Itaboraí) registrar boletim de ocorrência contra o pastor. A denúncia já foi encaminhada para a delegada Débora Rodrigues, titular da Decradi. O pastor é líder da Igreja Batista da Lagoinha de Niterói. A Comissão divulgou na última sexta-feira a seguinte nota de repúdio:
“Em sua fala, o pastor agride de maneira vil, desrespeitosa e ameaçadora à comunidade religiosa do candomblé e da umbanda nesta cidade”, disse em comunicado, que ainda questiona “o motivo de uma manifestação festiva, popular e laica ter em sua programação discursos de cunho religioso". "O Deus que conhecemos não compactua com sua megalomania, loucura e arrogância”, concluiu.
No show em Itaboraí se apresentaram três atrações musicais, todas evangélicas, pelo que a prefeitura pagou R$ 145 mil, segundo o Diário Oficial do Município publicado no último dia 23 de abril. A prefeitura se pronunciou e informou que as declarações dos artistas são de inteira responsabilidade deles. "A Prefeitura destaca ainda que o governo é para todos e reitera que não apoia nenhum tipo de intolerância religiosa", disse, em nota.
Citado
Valadão foi procurado, mas ainda não se manifestou. Em seu perfil numa rede social, declarou: “Não cheguei agora. Não comecei ontem, por isso milhares de pessoas vindo aqui me abençoar e escrever mensagens de carinho. Amamos pessoas e continuaremos [a] amar independente de qualquer classe social, religião, cor, eu não estou nem aí para nada, eu amo as pessoas”.
Apesar do sobrenome em comum, Felippe é cunhado de Ana Paula Valadão, uma das principais cantoras de música gospel do Brasil e também autora de discursos de ódio contra religiões afro-brasileiras. Eis o discurso do pastor durante o show gospel:
“Avisa aí, ó... Esses endemoniados de Itaboraí, o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A Igreja está na rua, a igreja está de pé, a Igreja está de pé. Pode matar galinha, pode fazer farofa, pode fazer o que você quiser. E ainda digo mais, prepara pra ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade. Eu declaro, vem um tempo aí, ó, Deus vai começar a salvar esses pais-de-santo que têm aqui na cidade. Você vai ver coisa que nunca viu na vida. Chegou o tempo, Itaboraí. Aquele espírito maligno de roubalheira na política acabou”.
Assista, no vídeo a seguir, às declarações do pastor Felippe Valadão. As imagens foram postadas no canal do YouTube Historiando Axé com Tom Olooré.