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Segurança hídrica e climática é tema de projeto da UFF

Universidade investirá infraestrutura de grande porte para análise da qualidade ambiental.

Por Portal Eu, Rio! em 01/08/2022 às 09:00:00

Instrumento chamado espectrômetro gama será adquirido para analisar sedimentos aquáticos de um período de até 150 anos. Foto: Divulgação

A vocação da Universidade Federal Fluminense (UFF) para a área de estudos ambientais foi novamente reconhecida através da aprovação de dois projetos no edital de Infraestrutura de Pesquisa em Áreas Prioritárias da agência pública Financiadora de Estudos e Projetos (PROINFRA-FINEP). A iniciativa irá possibilitar a ampliação da capacidade analítica da universidade nas áreas de Física, Geoquímica, Geociências e Ecologia de Ecossistemas. Um dos projetos, intitulado “Espectrômetro gama em unidade de gases ambientais: subsídios da ciência das mudanças globais ao planejamento da segurança hídrica e climática”, é coordenado pelo professor Humberto Marotta, do Departamento de Geografia. O projeto conta com atuação na Unidade Multiusuário de Geoquímica em Gases, Águas e Sedimentos da Universidade Federal Fluminense (GAS-UFF) e na central analítica no Núcleo de Estudos em Biomassa e Gerenciamento de Água (NAB).

A base instrumental do projeto está na utilização do espectrômetro gama, um equipamento de elevado custo que permite identificar as idades dos sedimentos depositados no fundo de ecossistemas aquáticos de menor correnteza, destacando-se lagos, lagoas costeiras, baías, manguezais e outras áreas alagadas. “O objetivo da pesquisa é constituir uma infraestrutura de grande porte, a fim de formar recursos humanos para análises de sedimentos de fundo aquático de alta eficiência, em um período de até 150 anos. A implantação do projeto ampliará a capacidade multiusuária de pesquisa da GAS-UFF, em interface com a sua missão de qualificar estudantes para o mercado de trabalho, subsidiar a tomada de decisão para uso sustentável dos recursos naturais e promover ações extensionistas junto a escolas públicas”, destaca o coordenador da pesquisa.

O professor explica que as mudanças globais são alterações causadas pelas atividades humanas em cada local, cujos efeitos somados podem gerar implicações em escala planetária. A poluição das águas, as alterações no clima, a perda de florestas, o aumento da desigualdade social, entre outros prejuízos que trazem a degradação da biodiversidade, estão na lista dos problemas a serem combatidos. “A datação dos sedimentos aquáticos por espectrometria gama permite identificar consequências de processos naturais e humanos sobre a qualidade ambiental aquática e terrestre. Por exemplo, a poluição por descargas de esgotos industriais e domésticos não tratados se reflete em alterações nos sedimentos aquáticos. Nesse contexto, o espectrômetro gama constitui uma importante ferramenta para avaliar transformações nos ecossistemas, principalmente onde não foram possíveis medidas diretas a partir de monitoramentos para subsidiar ações de planejamento para conservação e recuperação dos recursos naturais”.

O docente destaca também que, embora seja crucial haver ações de planejamento local para segurança hídrica e climática, ainda não há estrutura integrada para estudos mais aprofundados na área. “Levando isso em conta, com o recurso do espectrômetro gama em um amplo conjunto de ecossistemas brasileiros, será possível avaliar o tempo desde a contaminação química até a intensificação do assoreamento. Esses ecossistemas são considerados ‘arquivos da história’, pois acumulam os efeitos de alterações naturais e humanas tanto no entorno quanto dentro de seus limites. A partir da análise de uma variedade de elementos encontrados em pequenas concentrações naturais no ambiente, o espectrômetro gama possibilita datarmos os sedimentos ao longo de uma coluna vertical, cuja profundidade varia entre 0,5 e 1,0 m de profundidade”.

Humberto acrescenta que a segurança hídrica e climática se refere ao acesso da população à água de qualidade e ao clima com menor risco de alterações pelas atividades humanas. O docente aponta ainda que a redução da segurança hídrica e climática é tida como uma das mais prejudiciais mudanças globais na atualidade. “Identificar o histórico e as consequências das intervenções humanas nas águas e seu entorno terrestre, tanto em locais totalmente desprovidos de informação quanto em tempos passados sem práticas de monitoramento, pode colaborar com o reforço da segurança hídrica e climática. Considerando isso, o espectrômetro gama pode ser integrado de maneira pioneira no Brasil a uma consolidada unidade de uso multiusuário para gases ambientais. Portanto, a nova infraestrutura facilitada pelo apoio do edital PROINFRA-FINEP é indispensável para integrar temas de fronteira geoquímica à agenda ambiental brasileira, aliando saúde pública e conservação no planejamento ambiental”.

Por fim, o coordenador explica que os potenciais impactos sociais da pesquisa serão provenientes do melhor entendimento dos processos de poluição e alterações de uso e cobertura da terra, subsidiando inovações no planejamento e na gestão da degradação dos ecossistemas, especialmente para promover a segurança hídrica, o combate às mudanças climáticas e à saúde pública. “O Brasil apresenta grande carência de infraestrutura para subsidiar a segurança hídrica e climática das mudanças globais, cujos efeitos cumulativos alteram o planeta como sistema e causam danos mais intensos às populações vulneráveis. Nesse contexto, esse tipo de abordagem em multiescalas e transdisciplinar é de grande importância”, conclui.


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