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Daniela Soledade lança álbum "Pretty World"

No novo trabalho, cantora traz música inédita de seu pai, Paulinho Soledade, “Circo da Vida”, além de recriar grande sucesso do avô, Paulo Soledade, “Estão voltando as flores”

Por Portal Eu, Rio! em 13/08/2022 às 12:14:09

Daniela Soledade lança álbum "Pretty World". Foto: Divulgação

Daniela Soledade saiu do Brasil adolescente, deixando os estudos de canto, flauta e teoria musical na Escola Villa-Lobos para morar nos Estados Unidos. Lá se formou engenheira, casou, descasou, voltou para os braços da música e casou de novo - com um grande parceiro, o violonista, compositor e produtor americano Nate Najar, apaixonado, como ela, por bossa nova.

Daniela retorna agora ao Brasil para fazer algo inédito em sua carreira: os primeiros shows em solo nacional, em dezembro. “Tall and tan” como a moça da letra de “The Girl From Ipanema”, loura como a garota de Ipanema original (Helô Pinheiro), criada não muito longe dali, em Copacabana, Daniela é uma cantora brasileira, brasileiríssima, com certeza.

Com a delicadeza do canto brasileiro, ela conquistou o respeito da crítica americana de jazz, se apresentando em casas como a Blue Note, de Nova York, e colhendo calorosos elogios da tradicional revista “DownBeat” para seu álbum de estreia, “A Moment of You” (Blue Line Records, 2019).

“Pretty World”, segundo álbum de Daniela, está sendo lançado nas principais plataformas de streaming. Na próxima sexta-feira (19), ela começa a turnê de lançamento do disco no charmoso Palladium Theatre de St. Petersburg, na Flórida/EUA, com participações de Roberto Menescal (que fica com ela para o show no dia seguinte, na cidade de Winter Park, também na Flórida) e Antonio Adolfo.

Em setembro, a cantora segue rumo à Europa, com shows por Itália (duas datas no Blue Note de Milão), França e Reino Unido, com direito a noite no lendário Ronnie Scott’s, o mais tradicional endereço do jazz em Londres, em 3 de outubro.

A faixa-título do álbum, “Pretty World”, que os brasileiros conhecem como “Sá Marina”, já está disponível e traz uma parceria de peso: Antonio Adolfo, um dos autores da música, junto com Tibério Gaspar (1943-2017), é quem acaricia o piano. A canção ressurge intimista, diferente das versões de sucesso registradas por Wilson Simonal, Stevie Wonder e Sergio Mendes & Brasil ‘66. Daniela canta somente em inglês, nos versos recriados pelo casal de hitmakers Alan & Marilyn Bergman.

A segunda faixa é uma bossa clássica, de manual. Mas trata-se de canção inédita, parceria de Roberto Menescal e Daniela: “Como é gostoso sonhar”. Ela canta dolente, sensual sem fazer esforço: “Vivo assim desejando o meu corpo no seu”. O arranjo de Nate Najar valoriza a melodia e abre espaço para um belo show da gaita cromática do americano Patrick Bettison.

A releitura de “Down in Brazil” dá charme e languidez a uma faixa mais conhecida lá fora do que aqui, com uma visão romântica, inocente, quase utópica do Rio de Janeiro. A música foi escrita pelo cantor e compositor americano Michael Franks (expoente do crossover jazz pop que ficou conhecido como “quiet storm”) durante uma estadia memorável no Copacabana Palace nos anos 70.

Se a gravação original tinha João Donato, Hélio Delmiro e um solo inspirado de Larry Carlton, a nova tem Patrick Bettison fazendo bonito com seu piano elétrico ao cair da tarde.

Um dos trunfos de “Pretty World” é a busca por renovação do repertório da bossa, encarada como um gênero vivo: cinco das nove faixas são composições inéditas.

“Beijo no Arpoador”, parceria de Daniela com Nate, é um belo exemplo dessa oxigenação e traz consigo um pouco da história de amor que construiu o álbum. Fala de beijos no Arpoador, biscoitos Globo e outros prazeres cariocas, com direito a um vigoroso solo “luxo só” de Randy Brecker (76 anos, um azougue) ao flugelhorn.

Daniela voltou a abraçar a carreira musical a partir do encontro com Nate. Ela procurava alguém que soubesse tocar bem bossa nova e foi na indicação de um amigo em comum, Phill Fest (filho de Manfredo Fest, pioneiro da bossa que fez carreira nos EUA depois de trabalhar com Sérgio Mendes).

Mas encontrou em Nate um músico que domina completamente o “idioma” do gênero.

“Ele superou todas as expectativas. Fiquei impressionada com a forma como ele tocava as músicas do Tom. A gente começou a trabalhar junto e se apaixonou. Tom Jobim foi nosso cupido”, conta Daniela.

Nate decidiu ser músico profissional, tocando violão, a partir do fascínio pela música brasileira que conheceu nos discos de Charlie Byrd (1925-1999). “Ouvi o álbum ‘Bossa Nova Pelos Pássaros’ e fiquei encantado. Depois fui escutar música brasileira e entendi de onde ele tinha tirado partes específicas dos arranjos. Daí fui ouvir João Gilberto, Baden Powell… Eu tive muita sorte”, conta Nate, que, além do violão virtuoso, toca um cavaquinho refinado.

Além de Randy Brecker e Antonio Adolfo, outro feat de peso é o de Harry Allen, sax tenor fluentíssimo em standards. Ele abrilhanta outra das composições inéditas do disco, “Nothing Compares”, com direito a citação de “Amazonas” na saideira. A música é mais uma inspirada parceria do casal Daniela/Nate, com letra sobre a história de amor deles.

O sobrenome Soledade está no DNA da música popular brasileira, e Daniela faz ótimo uso dessa ancestralidade. “Pretty World” tem o talento de seu pai, Paulinho Soledade, ao contrabaixo, garantindo, ao lado do baterista Cláudio Infante, uma refinada brasilidade “trüe” à seção rítmica - sem falar no meio século de entrosamento telepático.

Paulinho contribui também com uma inédita, parceria bilíngue com Daniela e com Sofia Laura, “Winter Samba”, que pode funcionar como uma sequência romântica (jamais antítese) do “Samba de Verão” de Marcos e Paulo Sérgio Valle.

Também há espaço para um tesouro familiar pescado do fundo do baú: o samba malandreado “Circo da Vida”, uma inédita do avô de Daniela, Paulo Soledade (1919-1999), autor de “Zum-zum” (parceria com Fernando Lobo), parceiro boêmio de Tom e de Vinícius - e peça fundamental para o encontro dos dois.

Outra joia da família, a marcha-rancho “Estão Voltando as Flores”, é recriada de maneira inventiva, fundindo carnavais diversos: começa com uma marcha de New Orleans… e termina assim também. No recheio, bossa nova com o toque de classe da percussão de Duduka da Fonseca e uma linda interpretação de Daniela. E assim se renova um hino de recuperação, de fé na regeneração após perdas, danos, pandemias e escolhas políticas catastróficas.

Daniela Soledade encerra “Pretty World” com um tour de force ao contrário, entoando suavemente à capella “Eu Sei Que Vou Te Amar” até emitir um quase sussurro, “da forma mais honesta e natural”, gravada em um take.

Para deixar claro que, mais que um álbum gerado com amor, é uma obra sobre o amor como força transformadora.

Ouça aqui “Pretty World”: https://orcd.co/prettyworld













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