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Menos da metade dos bebês recebem amamentação exclusiva nos primeiros seis meses de vida

OMS afirma que no Brasil a situação é ainda mais alarmante

Por Robson Machado em 15/12/2018 às 10:10:00

Foto: Pixabay

O Ministério da Saúde confirma: não existe nenhum outro alimento mais eficaz para bebês de até seis meses de idade que o leite materno. Naturalmente produzido pelo organismo da mãe, a substância é tão rica em nutrientes que, servida em demanda livre, faz, inclusive, as funções da água, hidratando a criança. O problema é que 60% dos bebês no mundo não são alimentados exclusivamente com o leite materno durante os primeiros seis meses de vida. Os dados são da OMS, a Organização Mundial da Saúde, e da Unicef. Aqui no Brasil, a situação é um pouco pior. Apenas 39% das crianças recebem da mãe o tão rico maná como fonte exclusiva de alimento até os seis meses de idade.

Amamentar o filho por todo o tempo necessário é vontade da maioria das mães. A rotina, no entanto, nem sempre permite.  As dificuldades são ainda maiores para aquelas que trabalham fora de casa. A licença maternidade não costuma durar 6 meses, tempo recomendado para o aleitamento materno exclusivo.  Além disso, outros entraves também podem surgir.  A nutricionista Giovana Salgado enfrentou alguns:

“Antes dos 6 meses, minha filha ficou internada numa UTI. Ela teve Bronquiolite e não podia sair da incubadora para mamar. Para manter a minha produção, eu ficava me ordenhando, tirando o leite pela sonda. Foi muito difícil. A produção do leite caiu muito”, lamenta Giovana.

Falta de leite ou retorno ao trabalho? Bancos de leite oferecem ajuda

Apesar de todas as dificuldades, Giovana não desistiu de alimentar a filha exclusivamente com o leite materno nos seis primeiros meses de vida da menina. “Eu procurei o Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira. Me ajudou muito, tanto que eu consegui alimentar minha filha exclusivamente com leite materno até os seis meses”, afirma a mamãe Giovana.

A dificuldade mais comum entre as mães que não conseguem oferecer aos filhos o leite materno como exclusiva fonte de alimento, sem dúvida, é o retorno ao trabalho. Em busca de soluções para esse entrave, nossa reportagem consultou o Banco de Leite Humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Enfermeira pediátrica do banco de leite, Maíra Domingues dá boas dicas:

“O retorno ao trabalho ele pode sim atrapalhar, mas a mulher que procura ajuda prévia em bancos de leite em como manter a amamentação exclusiva, mesmo tendo que retornar ao trabalho, isso dá muito certo”, garante a enfermeira, que também ensina: “Quando a mulher vai voltar a trabalhar, o ideal é que 15 dias antes ela possa se planejar, armazenando o seu próprio leite no congelador, já que esse tem validade de 15 dias, quando congelado, e assim ela pode oferecer o seu leite para que quem for ficar com o bebê alimente a criança. É importante destacar que esse leite deve ser armazenado em recipientes de vidro e quando for oferecido ao bebê sempre utilizar copo ou colher, jamais mamadeira”, relatou.

Missão cumprida

Seja com o próprio leite ou com a ajuda recebida dos bancos de leite humano,  constatar que o filho chegou ao sexto mês de vida sendo alimentado exclusivamente com o leite materno é uma espécie de pódio para as mães. Há poucos dias, Jomila Reis Magalhães, mãe do pequeno Samuel, comemorou a marca alcançada:

"Hoje o sentimento é de missão cumprida. Seis meses de aleitamento materno exclusivo em livre demanda. Livre mesmo!  Agradeço a Deus por ter condições de alimentar meu filho. Não me acho melhor mãe que as demais por este motivo. Só quero incentivar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, que mesmo com dores, sacrifício diário e dependência, vale muito a pena", concluiu.

As mamães que precisam de ajuda podem procurar o Banco de Leite Humano do Instituto Fernandes Figueira. O site da instituição é www.iff.fiocruz.br e o telefone é (21) 2554 – 1700. Abaixo, nossa reportagem disponibiliza um guia de informações sobre o aleitamento materno. As informações são do Ministério da Saúde. E vale ressaltar: papais evidentemente não amamentam mas podem e devem ajudar! 

a) Benefícios da amamentação

O leite materno é um alimento completo. Isso significa que, até os 6 meses, o bebê não precisa de nenhum outro alimento (chá, suco, água ou outro leite). Ele é de mais fácil digestão do que qualquer outro leite e funciona como uma vacina*, pois é rico em anticorpos, protegendo a criança de muitas doenças como diarreia, infecções respiratórias, alergias, diminui o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade. Além disso, é limpo, está sempre pronto e quentinho. A amamentação favorece um contato mais íntimo entre a mãe e o bebê. Sugar o peito é um excelente exercício para o desenvolvimento da face da criança, ajuda a ter dentes bonitos, a desenvolver a fala e a ter uma boa respiração.

*O aleitamento materno não exclui a necessidade de cumprimento do calendário de vacinação da criança.

Benefícios para o bebê: O leite materno protege contra diarreias, infecções respiratórias e alergias. Diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes, além de reduzir a chance de desenvolver obesidade. Crianças amamentadas no peito são mais inteligentes, há evidências de que o aleitamento materno contribui para o desenvolvimento cognitivo.

Benefícios para a mãe: Reduz o peso mais rapidamente após o parto. Ajuda o útero a recuperar seu tamanho normal, diminuindo o risco de hemorragia e de anemia após o parto. Reduz o risco de diabetes. Reduz o risco de desenvolvimento de câncer de mama e de ovário. Pode ser um método natural para evitar uma nova gravidez nos primeiros 6 meses desde que a mãe esteja amamentando exclusivamente (a criança não recebe nenhum outro alimento) e em livre demanda (dia e noite, sempre que o bebê quiser) e ainda não tenha menstruado.

Benefícios para a família e para o sistema de saúde: Não amamentar pode significar sacrifícios para uma família com pouca renda. Em 2004, o gasto médio mensal com a compra de leite para alimentar um bebê nos primeiros seis meses de vida no Brasil variou de 38% a 133% do salário-mínimo, dependendo da marca da fórmula infantil. A esse gasto devem-se acrescentar custos com mamadeiras, bicos e gás de cozinha, além de eventuais gastos decorrentes de doenças, que são mais comuns em crianças não amamentadas. Para os serviços de saúde a economia é em um menor número de internações, consultas e medicações. Estima-se que o aleitamento materno poderia evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo por causas evitáveis.

O Pai / Companheiro: O pai tem sido identificado como importante fonte de apoio à amamentação. Ele tem importante papel, não apenas nos cuidados com o bebê, mas também nos cuidados com a mãe. Portanto, cabe ao profissional de saúde dar atenção ao novo pai e estimulá-lo a participar desse período vital para a família.

b) Número e duração das mamadas

Recomenda-se que a criança seja amamentada na hora que quiser e quantas vezes quiser. É o que se chama de amamentação em livre demanda. Nos primeiros meses, é normal que a criança mame com frequência e sem horários regulares. Em geral, um bebê em aleitamento materno exclusivo mama de oito a 12 vezes ao dia. Muitas mães, principalmente as que estão inseguras e as com baixa autoestima, costumam interpretar esse comportamento normal como sinal de fome do bebê, leite fraco ou pouco leite, o que pode resultar na introdução precoce e desnecessária de complementos. A mãe deve deixar o bebê mamar até que fique satisfeito, esperando ele esvaziar a mama para então oferecer a outra, se ele quiser.

O leite do início da mamada tem mais água e mata a sede; e o do fim da mamada tem mais gordura e por isso mata a fome do bebê e faz com que ele ganhe mais peso. No início da mamada o bebê suga com mais força porque está com mais fome e assim esvazia melhor a primeira mama oferecida. Por isso, é bom que a mãe comece cada mamada pelo peito em que o bebê mamou por último na mamada anterior. Assim o bebê tem a oportunidade de esvaziar bem as duas mamas, o que é importante para a mãe ter bastante leite.

O tempo de permanência na mama em cada mamada não deve ser fixado, haja vista que o tempo necessário para esvaziar uma mama varia para cada dupla mãe/bebê e, numa mesma dupla, pode variar dependendo da fome da criança, do intervalo transcorrido desde a última mamada e do volume de leite armazenado na mama, entre outros.

c) Uso de mamadeira

O Ministério da Saúde NÃO recomenda o uso de mamadeiras e chupetas, que devem ser evitadas. Água, chás e principalmente outros leites devem ser evitados, pois há evidências de que o seu uso está associado com desmame precoce e aumento da morbimortalidade infantil. A mamadeira, além de ser uma importante fonte de contaminação, pode influenciar negativamente a amamentação. Observa-se que algumas crianças, depois de experimentarem a mamadeira, passam a apresentar dificuldade quando vão mamar no peito.
Alguns autores denominam essa dificuldade de "confusão de bicos", gerada pela diferença marcante entre a maneira de sugar na mama e na mamadeira.

Nesses casos, é comum o bebê começar a mamar no peito, porém, após alguns segundos, largar a mama e chorar. Como o leite na mamadeira flui abundantemente desde a primeira sucção, a criança pode estranhar a demora de um fluxo maior de leite no peito no início da mamada, pois o reflexo de ejeção do leite leva aproximadamente um minuto para ser desencadeado e algumas crianças podem não tolerar essa espera. Não restam mais dúvidas de que a complementação do leite materno com água ou chás nos primeiros seis meses é desnecessária, mesmo em locais secos e quentes. Mesmo ingerindo pouco colostro nos primeiros dois a três dias de vida, recém-nascidos normais não necessitam de líquidos adicionais além do leite materno, pois nascem com níveis de hidratação tecidual relativamente altos.

d) Uso de chupeta

Atualmente, a chupeta tem sido desaconselhada pela possibilidade de interferir negativamente na duração do aleitamento materno, entre outros motivos. Crianças que chupam chupetas, em geral, são amamentadas com menos frequência, o que pode comprometer a produção de leite. Embora não haja dúvidas de que o desmame precoce ocorre com mais frequência entre as crianças que usam chupeta, ainda não são totalmente conhecidos os mecanismos envolvidos nessa associação.

É possível que o uso da chupeta seja um sinal de que a mãe está tendo dificuldades na amamentação ou de que tem menor disponibilidade para amamentar. Além de interferir no aleitamento materno, o uso de chupeta está associado a uma maior ocorrência de candidíase oral (sapinho), de otite média e de alterações do palato. A comparação de crânios de pessoas que viveram antes da existência dos bicos de borracha com crânios mais modernos sugere o efeito nocivo dos bicos na formação da cavidade oral.

e) Como amamentar
Com alguns cuidados, a amamentação não machuca o peito. A melhor posição para amamentar é aquela em que a mãe e o bebê sintam-se confortáveis. A amamentação deve ser prazerosa tanto para a mãe como para o bebê. O bebê deve estar virado para a mãe, bem junto de seu corpo, bem apoiado e com os braços livres. A cabeça do bebê deve ficar de frente para o peito e o nariz bem na frente do mamilo. Só coloque o bebê para sugar quando ele abrir bem a boca. Quando o bebê pega bem o peito, o queixo encosta na mama, os lábios ficam virados para fora, o nariz fica livre e aparece mais aréola (parte escura em volta do mamilo) na parte de cima da boca do que na de baixo. Cada bebê tem seu próprio ritmo de mamar, o que deve ser respeitado.

Caso a mulher ou família tenha dificuldades na amamentação é importante procurar ajuda de um profissional de saúde e/ou Unidade de Saúde do SUS mais próxima.

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