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Portões fechados

Instituto Juliano Moreira, último manicômio carioca, encerra suas atividades

Ato conclui o processo de desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos na cidade


O fechamento do último manicômio da cidade do Rio foi comemorado. Foto: Edu Kapps/Prefeitura do Rio

Foi com muita emoção e entusiasmo que a artista plástica Patricia Ruth, de 69 anos, ex-interna do Instituto Municipal de Assistência à Saúde (IMAS) Juliano Moreira, fechou o portão do Núcleo Franco da Rocha — o último da antiga colônia a ser desativado – e jogou a chave fora. O ato simbólico marcou o encerramento, nesta quinta-feira (27/10), das atividades de internação na unidade, localizada na região de Jacarepaguá, na Zona Oeste. Com isso, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio) conclui o processo de desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos na cidade, um marco da luta antimanicomial e contra o estigma da loucura no país.

– Eu sou uma sobrevivente. Sofri, chorei, mas estou aqui para o que der e vier. Paraquedas (lençol usado para amarrar usuários) nunca mais. Comida na bandeja nunca mais. Hoje eu moro em uma casinha simples aqui perto, que comprei com o dinheiro da minha arte, mas agora eu sou vista, vivo a minha vida, meu mundo ganhou cor – disse Patricia, que foi internada nos anos 70, aos 16 anos, e chegou a viver sete anos no Franco da Rocha.

Conhecido pelo antigo nome de Colônia Juliano Moreira, o complexo psiquiátrico chegou a abrigar, em seu auge, 5.300 internos em seus 79 hospitais e pavilhões, desativados gradativamente ao longo dos anos. Assim como outros imóveis do antigo hospício municipalizado em 1996, que foram transformados, por exemplo, em unidades municipais de saúde e habitacionais, a Prefeitura do Rio já estuda nova finalidade para o último pavilhão fechado, que deverá abrigar projeto inovador de saúde mental.

A cerimônia de encerramento das atividades de internação do Instituto Juliano Moreira contou com homenagens a funcionários e ex-funcionários da unidade, apresentação de jogral e cortejo do Bloco Império Colonial, formado por ex-internos.

– Não tem como a gente não se emocionar. Eu entrei na Secretaria Municipal de Saúde como subsecretário de Atenção Primária e nunca imaginei que viveríamos o que estamos vivendo aqui hoje. Este é um marco na história da cidade do Rio de Janeiro, é um marco na história da saúde mental do município, do estado e certamente na saúde mental do Brasil – afirmou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.

Reinseridos no território, os moradores continuam recebendo todo o suporte de profissionais da rede, como psicólogos e assistentes sociais vinculados aos CAPS, sempre em busca de atividades terapêuticas que ampliem a sua autonomia e socialização, além de cobertura da estratégia de saúde da família para cuidado clínico. Atualmente, a rede municipal de Atenção Psicossocial é formada por 33 CAPS e 97 residências terapêuticas distribuídas pela cidade, com 546 pessoas vivendo nelas, além de unidades de acolhimento adulto (UAA) e centros de convivência. Para pacientes com quadro agudo, há leitos disponíveis na rede de urgência, em hospitais gerais e no Instituto Philippe Pinel, em Botafogo, onde eles poderão ser cuidados até terem condição de alta.

Bolsa Rio

O município do Rio também comemora, neste ano, os 20 anos da Bolsa Rio (Bolsa Incentivo à Desinstitucionalização), essencial ao suporte para a desinstitucionalização dos pacientes. O benefício pago pela Prefeitura do Rio é de dois salários mínimos mensais para pacientes que retornam ao convívio familiar, e de um salário mínimo para aqueles que ingressam em serviços residenciais terapêuticos.

História e ressignificação do espaço

Inaugurada há 98 anos, em antigas terras coloniais do engenho de cana e fubá, a antiga colônia recebeu em 1935 o nome de seu idealizador, o médico psiquiatra Juliano Moreira, fundador da disciplina de Psiquiatria no Brasil. Ao longo dos anos, com a redução gradativa no número de internos, muitos imóveis do antigo complexo foram transformados em unidades municipais de saúde e de assistência social, entre elas um hospital de clínica médica, clínica da família, CAPS e residência terapêutica de alta complexidade, além de unidades habitacionais e de ensino. Com o crescimento populacional na área, hoje ela é conhecida como o sub-bairro Colônia (Jacarepaguá). Na sede do Instituto Juliano Moreira funciona ainda hoje o Museu Bispo do Rosário, que homenageia um de seus internos mais famosos. Além de obras de arte, estão expostos equipamentos de eletrochoque e de lobotomia e fotografias de época, que rememoram os horrores da estratégia manicomial.

Prefeitura do Rio

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