A um dia do início da Copa do Mundo, no Catar, a torcida carioca não poderá contar com um dos mais tradicionais locais de concentração em jogos da seleção brasileira na cidade do Rio de Janeiro: o Alzirão, espaço montado na esquina das ruas Alzira Brandão e Conde do Bonfim, no bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio. Nas últimas 11 Copas, milhares de torcedores assistiram às partidas no local, com direito a shows musicais e toda uma infraestrutura que incluía banheiros, segurança, bandeirolas, telão, posto médico e barracas com comidas e bebidas. Além da falta de patrocínio, há uma batalha judicial.
Segundo a direção do Alzirão, até o momento, nem a Prefeitura do Rio e nem o Governo do Estado ofereceram algum tipo de patrocínio. Uma cervejaria que apoiou o evento nas copas anteriores também anunciou que não patrocinará mais a festa. Pela primeira vez, em quase 50 anos, há o risco da torcida não poder assistir aos jogos no espaço. A diretoria tenta obter cerca de R$ 500 mil para montar um palco e um telão, além de outros equipamentos, bem como poder colocar bandeirinhas e outros enfeites no local.
Para Guilherme Teixeira, idealizador e organizador de todos os "Alzirões", a falta de eventos no local nada tem a ver com a ausência de patrocínios e sim com uma fraude que teria ocorrido na convocação e na eleição da diretoria da Associação Recreativa e Cultural Turma do Alzirão, associação que foi criada por ele em 2005, quando a festa completava 20 anos de existência.
“Importante lembrar que a mesma não é a titular proprietária da marca 'ALZIRÃO', logo não é dona do evento, que tem mais de 40 anos de existência, e é organizado por mais de 70 voluntários, torcedores apaixonados”, explica Guilherme. De acordo com ele, a associação é composta por um pequeno grupo de apenas dez fundadores, onde somente quatro desses ajudam na organização do evento, sendo um deles o próprio Guilherme.
“Ocorre que quatro dos fundadores dessa pequena Associação, que foram por mim convidados e aceitaram fazer parte da fundação, porém jamais organizaram o evento, só agora decidiram, após 17 anos de completa prostração, fraudar a eleição para diretoria, às vésperas dessa Copa do Mundo. Em desrespeito ao estatuto, e sem competência para tal, convocaram eleição para uma determinada data e local, e realizaram a mesma, às escondidas, em outra data e em outro local, sem a presença dos sócios organizadores. Por fim, registraram essa fraude em forma de ata e flanaram por aí se passando pelos organizadores do evento”, disse o idealizador do Alzirão.
De acordo ainda com ele, há a suspeita de que algum dos fraudadores falsificou também uma petição no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) no dia 14 de setembro passado, onde o autor se passou criminosamente pelo titular da marca, com o objetivo de transferir por fraude a referida marca para a atual diretoria da Associação, o que configura crime de falsidade Ideológica. A tal petição fraudada foi indeferida pelo INPI.
Guilherme ainda entrou com um pedido de liminar na 36ª Vara Cível da capital.
“Temos de restabelecer a diretoria da Associação e impedir que esse grupo, sem nenhuma expertise, tente realizar o evento e, com isso, coloque a população em risco. Chegou a nosso conhecimento que os mesmos solicitaram autorização aos órgãos públicos mentindo que o evento tem um público de apenas 5 mil torcedores, o que demonstra a total irresponsabilidade desse quarteto”, disse Guilherme, acrescentando que eles jamais fizeram o evento. “Culpam a Prefeitura, mas a mesma sempre ajudou o evento”, afirma.
Segundo ainda Guilherme, a falsa convocação dizia que a eleição ocorreria às 18:30h do dia 11 de julho no ? 59 da Rua Alzira Brandão e houve um pleito secreto no dia 18 de julho, em horário ignorado no nº 210 da Rua Alzira Brandão. “Metade dos sócios não compareceram para votar e nem tiveram direito de apresentar chapa. Os golpistas se consideraram eleitos por aclamação em uma chapa única”, reclama o idealizador do Alzirão.
Procurado, o atual presidente do Alzirão, Ronaldo Saliba, não se manifestou até o momento sobre a questão. A festa ainda não obteve o licenciamento da prefeitura. Na Copa de 2018, o Alzirão contou com 120 seguranças particulares, 120 banheiros químicos, 80 grandes grades, 70 grades pequenas, um palco fixo e contêineres para a imprensa. Além do telão, estruturas para os jornalistas e para os policiais militares. O primeiro jogo da seleção será na próxima quinta-feira (24), às 16 horas, contra a Sérvia.
Em nota, o governo do estado disse que “não recebeu nenhuma solicitação de apoio cultural para o evento no Alzirão”. A Prefeitura do Rio informou que iria apurar os fatos.