Os traficantes do Morro da Providência, no Santo Cristo, na Zona Portuária do Rio, usavam um membro da associação de moradores para fazer a mediação a favor deles junto ao Comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade, segundo autos de um processo que tramita na 42ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça.
O membro da associação de moradores citado era presidente do conselho fiscal da entidade e tinha também a função de olheiro da quadrilha informando a localização e incursão de policiais. Não é revelado nos autos se os PMs atendiam às solicitações dos criminosos.
Esse líder comunitário chegou a ser preso por seu suposto envolvimento com o tráfico e apareceu em algumas matérias publicadas no antigo site da UPP demonstrando apoio ao projeto. Procurada, a PM não se pronunciou.
Segundo os autos, os líderes do bando são os irmãos Leonardo Marques da Silva, o Sapinho, atualmente preso, e Evanílson Marques da Silva, o Dão, que está solto.
A quadrilha era responsável pelo abastecimento de drogas nas localidades conhecidas como 60, Morro do Pinto, Barão de São Félix, Central do Brasil, Rua do Monte, Pedra Lisa e Beco 21. O comércio de entorpecentes se espraiava também por outros lugares, como a Rua Senador Pompeu, onde a venda ilegal de cocaína, maconha e crack acontecia em casarões invadidos por moradores de rua e pelos traficantes. O bando também agia no Morro da Conceição e Praça Mauá.
O Disque Denúncia oferece uma recompensa de R$ 5 mil para quem prestar informações que ajudem na captura do traficante Dão da Providência.
Há denúncias de que a quadrilha cobraria taxas de motoristas de Kombis e vans que circulam na região e de comerciantes e vendedores ambulantes dos arredores. Quem não paga corre o risco de não poder circular ou ter suas mercadorias roubadas e lojas saqueadas.
A investigação revelou que o grupo realizava a compra de materiais para a confecção de bombas, semelhantes à granadas, que eram arremessadas contra os policiais nos confrontos, com potencialidade lesiva.
Integrantes da quadrilha presos exigiam que o movimento realizasse 'repasses' da arrecadação do tráfico dentro do sistema prisional.
Os bandidos faziam o transporte de drogas para os redutos do grupo em Kombis.
O grupo tinha um químico que ficava encarregado de misturar substâncias na cocaína pura,
Depoimentos de PMs nos autos indicam que, no início da UPP na comunidade, em 2010, o tráfico trabalhava com pequenas quantidades, escondidos, não havia resistência; que conforme foi passando o tempo eles começaram a usar emprego de armas de fogo, armas pequenas que disparam rajadas semelhantes a submetralhadoras, granadas, bombas caseiras com pregos, parafusam que aumentavam o poder de destruição.
"O tráfico da região é muito beligerante, muito violento, conta com extenso armamento, de grosso calibre, armas longas; armas curtas, a maioria equipadas com adaptadores que transformam pistolas em submetralhadoras", diz os autos.
Alguns policiais contaram que, após prestarem depoimento contra os traficantes, passaram a receber ameaças e tiveram que ser transferidos de unidade. Afirmaram também existem projetos sociais na comunidade que só funcionam com a autorização do tráfico.