Submetidos a uma pressão muito forte, os policiais militares doestado do Rio de Janeirosentem-se discriminados e humilhados. Enfrentar isso tem sido uma dificuldade cada vez maior, que requer um equilíbrio muito grande.Além de conviver com a violência diariamente, os policiais - e sua família - convivem com o medo de serem os próximos alvos da guerra civil que assola o estado.As más condições de trabalho vêm causando sofrimento mental. E isso afeta diretamente na saúde destes profissionais. Em estatísticas levantadas pela Fundação Oswaldo Cruz, os PMs também apresentam índices de sobrepeso 32% maiores que a média nacional, um quarto sofre com níveis elevados de colesterol e mais da metade (53,5%) diz ter algum distúrbio de sono, entre outras moléstias. Isso tem motivado policiais a abandonarem a profissão,conforme reportagem publicada pela Eu, Rio! no último dia 22.
Tensão constante afeta o equilíbrio hormonal e emocional
Segundo a Dra. Vannessa Resende, que atuou por dois anos como Psicóloga Oficial da Brigada de Operações Especiais do Exército Brasileiro, atensão e a pressão sofrida pelo sucesso de uma operação também põe em prova a capacidade do policial.
"Nesses momentos, muita memória emocional pode vir à tona sem ele se dar conta. Ficando constantemente nesse estado, ocorre um desequilíbrio hormonal e emocional, e o efeito disso a longo prazo pode ser bem danoso; e dependendodo grau de depressão, há risco de suicídio", diz a doutora, que indica aavaliação constante para saber se o policial tem, e mantem, estrutura interna para lidar com bandidos, e se está realmente consciente de todos as pressões e agressões, inclusive verbais e comportamentais, que a profissão impõe na atual situação do estado.
Ainda de acordo com a psicóloga, é necessário fortalecer a autoestima e a força interior, além de ter uma válvula de escape saudável, com diversão e união familiar, para ficarem mais equilibrados e felizes.
"O profissional da psicologia deveria ter um papel mais atuante no preparo dos militares. Isso evitaria distúrbios futuros e não iria comprometer tanto a saúde do militar e o bem-estar de todos envolvidos com ele de forma direta ou indireta", afirma, ressaltando que os familiares devementender que o militar passa por desafios e precisa de acolhimento e paciência. Além disso, a família precisa estar atenta a uma possível mudança de comportamento do militar, pois qualquer distúrbio emocional é mais fácil de ser solucionado quanto mais cedo for detectado", completa.
Tratamento psicológico para continuar
"Sempre tive orgulho de ser policial, me dediquei muito nesses quase 20 anos de trabalho, mas hoje estou com pavor", conta C.N., Policial Militar do estado do Rio de Janeiro, na ativa, dois casamentos desfeitos, dois filhos -um deles,um rapaz de 20 anos que não gosta nem de ver a arma do pai.C.N. fala com tristeza que "de dóceis nos tornamos agressivos depois de muito tempo aqui dentro desse trabalho", e que hoje sente-se abandonado pela corporação a qual serve.
"Não temos qualquer preparação para lidar com todo esse conflito. Muitas vezes precisamos atirar para nos defender, e ainda temos que voltar para atuar no mesmo bairro ou comunidade no dia seguinte. É muita tensão, medo mesmo", diz ele, que, junto com seus colegas, sentem-se discriminados pela sociedade, pela mídia, por associações e até pela família.
Diagnosticado como depressivo pelo setor médico da própria corporação, ele está em tratamento psicológico "por conta própria" há 5 meses, e comemora quejá evoluiu no seu estado mental.
"Já parei com os tremores, com os remédios controlados, estou mais paciente, mais resiliente e em busca de mais conhecimento pessoal e de mais autovalorização. O tratamento está me ajudando muito", finaliza.