A participante Amanda, do Big Brother Brasil, vem preocupando seus colegas de confinamento, principalmente a "sister" Aline, pois vem apresentando um comportamento inadequado, chegando a arrancar os cabelos, chegando a ferir seu couro cabeludo. Gentilmente, a colega pediu que ela parasse com isso. O vídeo viralizou nas redes e existem muitos questionamentos no campo da psicologia sobre a compulsão, chamada de Tricotilomania. Os sintomas incluem desejo compulsivo de puxar o cabelo e perda de cabelo, com falhas no couro cabeludo.
O Portal Eu, Rio! tentou entender mais sobre a patologia e entrevistou a professora Luísa Araruna Engel, Psicanalista pelo Instituto de Estudos do Psiquismo e Analista Didata em New English Institute Of Psychoanalysis, para esclarecer sobre essa desordem comportamental.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais, em sua quinta edição (DSM-5), a Tricotilomania está alocada dentro do capítulo de transtornos relacionados ao Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), caracterizado por pensamentos obsessivos intrusivos seguidos de compulsões, podendo envolver rituais de organização, simetria, controle ou outros.
“Entretanto, ela pode ter diversas origens. Por isso é necessária uma investigação adequada para o diagnóstico diferencial, já que poderia se manifestar relacionada a um transtorno do neurodesenvolvimento, como uma estereotipia dentro do espectro do autismo ou em um quadro de Tourette. Ou ainda estar ligada a alucinações em um quadro psicótico, por exemplo”, esclareceu Luísa.
Portal Eu, Rio! O indivíduo que arranca os cabelos pode ser considerado ansioso?
Luísa Araruna: Principalmente em se tratando em de um cenário de TOC, podemos sim pensar em ansiedade. Todo excesso revela uma falta e todo ato compulsivo tenta apaziguar nossas angústias sem trazê-la para as nossas palavras. Todos nós passamos por situações traumáticas ou de perdas, vazios e angústias. Quando não conseguimos construir um sentido e uma narrativa para o que estamos sentindo, toda essa dor procura um outro caminho para ser descarregada. Algumas pessoas produzem doenças psicossomáticas, outras produzem atos. A questão é que isso não resolve os problemas. Então, quanto mais eu tento disfarçar ou anestesiar a minha dor, mais ela fica sufocada, mais ela tenta encontrar uma saída e mais atos compulsivos são produzidos. Quando a pessoa se dá conta, ela está presa a uma série de rituais compulsivos que vão desde arrancar os cabelos até comer, comprar ou beber excessivamente.
PER: O que os pacientes relatam sobre suas sensações ao arrancarem os cabelos?
LA: Alguns dizem que, após arrancarem os cabelos, sentem algum tipo de alívio. Mas logo depois são invadidos por culpa e vergonha pela falta de controle e por se sentirem tendo um coportamento tão “esquisito” aos olhos dos outros. Isso acaba trazendo mais ansiedade e o ciclo é retomado. A ação acontece pela tentativa de se anestesiar e não precisar atravessar as suas próprias dores na alma. Então podemos pensar em dois aspectos: por um lado, essa tentativa de anestesiar a alma tenta substituir o “pensar na dor” pelo “ato compulsivo”. Por outro lado, podemos encontrar uma tentativa de substituir a “dor da alma” pela “dor física”. Muitas vezes sentimos que não temos controle e não sabemos o que fazer com a dor emocional, mas quando se trata de uma dor física que eu mesma causo, posso me acalmar com uma fantasia de "estar no controle", e ainda sentir que consigo dar conta, já que posso esfregar a mão onde dói, posso passar uma pomada, ou qualquer outra movimento que traga a ilusão de estar cuidando e resolvendo o problema.
PER: Qual tipo de tratamento para Tricotilomania?
LA: A combinação de psicoterapia e de acompanhamento psiquiátrico é sempre uma excelente pedida nesses casos.
PER: Tem algumas dicas para evitar este tipo de ato?
LA: Devemos evitar de fugir dos nossos "fantasmas", vazios e dores. Por mais que eu acredite que estou fugindo, eles sempre nos encontram com outra roupagem.
PER: Estresses maiores, como um confinamento, podem agravar tal comportamento, como é o caso da participante do BBB 23 Amanda?
LA: Qualquer tipo de situação que traga um grande estresse pode intensificar esse comportamento, visto que a pessoa tende a sempre reagir com os mesmo mecanismos de defesa ou de comportamentos. Então se, por exemplo, a pessoa prefere não falar sobre o que a incomoda, ela pode sempre apresentar sintomas psicossomáticos como gastrite, psoríase e dores crônicas ou pode sempre ter atos-sintomas como as compulsões em geral.