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Prevenção por água abaixo

Manejo inadequado de lixo e chuvas de verão levam a dengue a níveis recordes

Sudeste lidera expansão de casos, e caixas d'água concentram focos do aedes aegypti, vetor da doença


Proliferação do aedes aegypti, em particular nas residências, favoreceu mais que duplicação de casos de dengue no Sudeste, área mais rica do Brasil. Foto: Agência Brasil

Com muita chuva e o descaso da sociedade e dos governos, a proliferação do mosquito transmissor da dengue tem crescido e a doença alcançou 83% dos municípios no país. Com isso, os casos prováveis já ultrapassaram o máximo esperado pelas projeções do Ministério da Saúde para as primeiras 16 semanas do ano e chegam a mais de um milhão ? um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2022. Casos graves e com sinais de alarme já são dez mil e quinhentos.

O Sudeste concentra a maior parte dos casos, com alta de 128% em relação ao mesmo período de 2022. Em Minas Gerais, as notificações registraram um aumento de 469%, com 276 mil casos e ultrapassando São Paulo, estado mais populoso do país, que tem 228 mil casos. Os altos índices podem ser explicados pelas grandes chuvas do verão e o acúmulo de água por falta de atenção nos domicílios, como também por problemas no manejo de resíduos sólidos e sanitários.

Potes e vasos com água parada são alguns dos focos do mosquito Aedes aegypti | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

Com água parada, seja ela limpa ou suja, o Aedes fêmea, vetor também da zika e da chikungunya, encontra o lugar propício para pôr seus ovos, gerar novos mosquitos e aumentar a transmissão da dengue. A doença causa os seguintes sintomas:

Dengue mata

Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) on-line, em 2023, já foram registradas 392 mortes por dengue no Brasil. Casos mais graves, como a dengue hemorrágica, que gera sangramentos em quem está contaminado, podem ser fatais.

“O tipo hemorrágico é mais comum em pacientes infectados mais de uma vez por cepas distintas do vírus da dengue – que vai de 1 a 4. Se não tratado, a taxa de mortalidade da dengue hemorrágica pode chegar a 50%”, alerta Juliana Cortines, professora do Instituto de Microbiologia da UFRJ. “É importante que haja campanhas relembrando as pessoas de que a dengue pode, sim, levar ao óbito”, complementa.

Por causa da mortalidade da doença, os sinais de alarme são importantíssimos para a população saber quando procurar tratamento urgente. Estes são alguns deles:

Enfrentamento

De acordo com o último Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa) ? pesquisa sobre focos de dengue nos estados ?, divulgado pelo Ministério da Saúde em 2022, 42% dos focos de proliferação do mosquito ficam em reservatórios de água para consumo humano, como caixas d’água; 32% em depósitos móveis (como vasos e pratinhos), em depósitos fixos (como tanques, calhas e ralos) e em depósitos naturais de água (como plantas e carcaças de animais); e 25% em depósitos de lixo.

Por isso, é importantíssimo que a população verifique se as caixas d’água estão tampadas, se os sistemas de escoamento não estão obstruídos e se objetos como garrafas, vasilhas de animais e pneus não estão acumulando água. A recomendação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é de verificar em 10 minutos todos os locais da casa e repetir essa ação semanalmente.


Verificar objetos que acumulem água é ação indispensável para não formar criadouros em casa | Foto: Ana Marina Coutinho (SGCOM/UFRJ)

O Centro de Operações de Emergência de Arboviroses recomendou que os estados e municípios intensifiquem as visitas domiciliares por agentes de saúde, realizem mutirões de limpeza, apliquem larvicidas nos depósitos de água para consumo humano e envolvam diversos setores, incluindo a educação, para controlar o vetor da dengue, conforme nota técnica.

Além da responsabilidade individual, o Estado também precisa agir contra os acúmulos de água no manejo de lixo e de esgoto. Apenas 53% dos municípios do Brasil têm um Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos ? que leva em conta aspectos sociais, ambientais e econômicos ?, 50% das cidades não têm saneamento básico e em 35,7% são utilizadas soluções alternativas individuais, como fossa séptica, fossa rudimentar, valões e o lançamento de esgoto nos rios, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Todos esses fatores favorecem o surgimento de grandes criadouros de mosquitos da dengue.

O professor Carlos Alexandre Pereira, do Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (Nides) da UFRJ, destaca que essas medidas em maior escala também precisam ser levadas em conta na hora de combater os focos da doença.

“Numa comparação de escala, o que é maior: a soma dos vasinhos com planta e

caixas d’água ou a extensão de valões, poças e resíduos mal destinados? A questão é

que é mais fácil, neste momento, agir sobre caixas d’água e pratinhos do que agir

sobre o saneamento”, defende Carlos.

Prevenção

Em abril deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova vacina para proteção contra a dengue. O imunizante Qdenga, produzido pela farmacêutica japonesa Takeda, previne 80% dos casos de dengue sintomática e 90% das hospitalizações. Uma vacina do Instituto Butantan, ainda em desenvolvimento, demonstrou eficácia de 79,6%. Além desses, a vacina Dengvaxia, que também oferece imunidade à doença, está disponível no Brasil desde 2015. Os imunizantes são recomendados apenas para as pessoas que já tiveram dengue e não estão disponíveis no SUS, pois não fazem parte do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Os sintomas da dengue podem ser amenizados com medicamentos contra febre e dor e com a ingestão de líquidos, para evitar desidratação.

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