Uma equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI), liderada por Ana Corbacho, manteve discussões no âmbito das consultas do Artigo IV de 2023 com as autoridades brasileiras e outras partes interessadas durante o período de 2 a 16 de maio de 2023. No fim da visita, Corbacho emitiu a seguinte declaração:
“O crescimento da economia está moderando, mas espera-se que ganhe força a partir do próximo ano. As projeções indicam uma moderação do crescimento, de 2,9% em 2022 para 1,2% em 2023. Projetamos uma melhora do crescimento para 1,4% em 2024 e 2% no médio prazo. A inflação diminuiu rapidamente em relação ao pico atingido no ano passado, mas o núcleo de inflação continua alto e as expectativas de inflação passaram a subir gradativamente. A inflação deve convergir para a meta até meados de 2025. As perspectivas econômicas estão sujeitas a riscos de deterioração da conjuntura. No entanto, os fortes amortecedores, como a solidez do sistema financeiro, elevadas disponibilidades de caixa e um nível adequado de reservas internacionais, ajudam a resiliência da economia.”
“Apoiamos fortemente o compromisso das autoridades em melhorar a posição fiscal brasileira. Reconhecendo a necessidade de preservar a sustentabilidade da dívida, as autoridades almejam um superávit primário de 1% do PIB até 2026. O corpo técnico recomenda um esforço fiscal mais ambicioso que continue além de 2026 para posicionar a dívida numa trajetória firmemente descendente e, ao mesmo tempo, proteger os gastos sociais e de investimento, com o apoio de um arcabouço fiscal reforçado, uma maior ampliação da base tributária e reformas que enfrentem a rigidez dos gastos. A aprovação do projeto de reforma tributária das autoridades simplificaria consideravelmente o regime tributário e poderia aumentar o produto potencial.”
“Baixar a inflação é crucial para proteger as famílias vulneráveis, que são as mais prejudicadas pela inflação alta. A política monetária é consistente com a redução da inflação para a meta, em linha com o regime de metas para a inflação, que tem servido bem ao Brasil. Para aumentar a clareza em torno da flexibilidade quando choques atingirem a economia e reduzir a incerteza, a possibilidade de definir uma meta fixa de médio prazo poderia ser avaliada, à semelhança de outros países da região. Em contraposição, estabelecer anualmente metas para inflação futura é uma maneira menos eficiente de obter flexibilidade. Um nível adequado de reservas cambiais e a taxa de câmbio flexível continuam a ser importantes amortecedores de choques.”
“O sistema bancário é sólido, o setor financeiro permanece resiliente e os riscos sistêmicos estão contidos. Medidas de política específicas e iniciativas de educação financeira para enfrentar bolsões de vulnerabilidades da dívida das famílias e proteger os consumidores são bem-vindas. Uma participação maior dos bancos públicos deve ser administrada com cuidado para mitigar os riscos para a sustentabilidade fiscal e a transmissão da política monetária.”
“O Banco Central do Brasil está na vanguarda da inovação financeira. Entre as iniciativas notáveis, destacam-se o Pix, o sistema de pagamento instantâneo de grande sucesso lançado no fim de 2020, e o sistema financeiro aberto (Open Finance), adotado em 2021. Essas iniciativas aumentaram a inclusão, a eficiência e a concorrência financeira. O plano para o Real Digital irá apoiar uma infraestrutura pública de blockchain , promovendo a inovação financeira em um ambiente regulamentado.”
“As autoridades estão iniciando uma agenda ambiciosa para fomentar uma economia sustentável, inclusiva e verde. As oportunidades para um crescimento ambientalmente sustentável são consideráveis, em especial alavancando a vantagem competitiva do Brasil em energias renováveis. Apoiamos os planos das autoridades para reforçar a resiliência climática, interromper o desmatamento ilegal e descarbonizar a economia.”
“A equipe gostaria de agradecer às autoridades e aos representantes do setor privado o apoio, a hospitalidade e o diálogo construtivo.”