Na manhã desta terça-feira (5), uma análise sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, realizada pela Fiocruz, foi apresentada pela entidade. O estudo avaliou os impactos do desastre da mineradora Vale e também alertou para a possibilidade de surtos de doenças infecciosas, paras as mudanças no bioma da região e ainda pelo agravamento de problemas crônicos de saúde, como hipertensão, diabetes e doenças mentais.
Os mapas construídos pela Instituição identificaram residências, unidades de saúde afetadas, comunidades potencialmente isoladas, além das áreas atingidas pela lama.
O trabalho vem sendo realizado pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - Icict/Fiocruz. Ele foi baseado nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Agência Nacional das Águas - ANA e Datasus.
O Centro de Estudos e Pesquisas em Emergência de Desastres em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP/Fiocruz, teve como referência o Marco de Sendai da ONU (2015-2030). Essa norma vem analisando os desafios colocados para a gestão dos riscos ambientais e à saúde provocados pelos desastres em barragens de mineração.
Por meio da sistematização de estudos internacionais sobre causas e consequências de desastres com barragens de mineração e da experiência sobre os impactos do desastre da Samarco sobre a saúde das populações, a Fiocruz pretende apresentar os desafios e as propostas para prevenção de outros desastrrs, o enfrentamento dos riscos atuais existentes e as políticas e estratégias de planos de preparação e respostas. Isso inclui os sistemas de alerta e alarme, bem como, de recuperação e reconstrução das condições de vida e saúde no médio e longo prazos.
Agravamento de doenças crônicas
Ainda segundo a Fiocruz, a pesquisa chama a atenção para a perda de condições de acesso a serviços de saúde na área. Um fator que pode agravar doenças crônicas já existentes na população afetada, assim como provocar novas situações de saúde como, por exemplo, doenças mentais , crises hipertensivas, doenças respiratórias e acidentes domésticos, além de surtos de doenças infecciosas.
"Um aumento de casos de acidentes vascular-cerebrais foi observado após as enchentes de Santa Catarina em 2008 e do acidente de Fukujima, Japão, mesmo depois de meses dos eventos disparadores. Estes casos podem ser consequência tanto de situações de estresse e transtornos pós-traumáticos, quanto da perda de vínculo com os sistemas de atenção básica de saúde. Neste sentido, as doenças mentais decorrentes de grandes desastres ambientais podem ser sentidas alguns anos após o evento traumático, como relatado em Mariana", informou Christovam Barcellos, pesquisador titular do Lis/Icict da Fiocruz e integrante da equipe que realizou o estudo.
Segundo Barcellos, a contaminação do rio pelos rejeitos da mina pode ser percebida facilmente pelo aumento da turbidez das águas.
"A presença de uma grande quantidade de material em suspensão nas águas dos rios afetados causou a imediata mortandade de peixes e inviabiliza a captação e tratamento da água para consumo humano", disse o especialista.
No entanto, afirmou o pesquisador, outros componentes químicos da água podem estar presentes na lama do rejeito e serem transportados a longas distâncias pelo rio Paraopeba e, posteriormente, o rio São Francisco.
"Por isso, é necessário o exame da presença de metais pesados nos rejeitos e seu monitoramento ao longo destes rios para evitar o consumo e uso de águas contaminadas nos próximos anos. O sedimento enriquecido por metais pesados pode ser remobilizado para os rios com as chuvas intensas, ações de dragagem e operação de barragens hidrelétricas ao longo dos próximos anos", alertou.