O Laboratório de Variante Genômica da Fiocruz confirmou o primeiro caso da subvariante da Ômicros EG.5 na cidade do Rio de Janeiro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa linhagem da doença foi classificada como uma variante de interesse (VOI) no início do mês de agosto. A OMS tem acompanhado sua evolução em países como EUA, Canadá, Colômbia e Costa Rica.
Variante mais nova do vírus sars-cov-2, causador da covid-19, a EG5.1, chamada de éris, gerou dúvidas após ter sido confirmada no Brasil em meados deste mês. Embora seja altamente contagiosa, a mutação não demonstrou sinais de grande risco para a maior parte da população. Quem já teve a doença ou está vacinado, contudo, está parcialmente protegido, como explica o virologista Benedito Lopes da Fonseca, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
O especialista cita que houve um aumento no número de casos e internações desde a chegada da éris, embora a gravidade não seja diferente da de outras variantes. Além disso, os sintomas são, nas palavras de Fonseca, “muito parecidos com os que são causados pela ômicron original: febre, dor de cabeça, dor no corpo, dor de garganta e nariz escorrendo. Então não tem uma gravidade maior. Há um aumento no número de casos e internações, mas, até esse momento, não há uma gravidade muito grande em relação a essa nova variante”.
O aumento no número de casos e o maior risco de contágio são consequências de uma nova mutação na proteína que liga o vírus às células humanas, o que deixa o organismo mais exposto, uma vez que a vacina ou a infecção anterior tenham preparado os anticorpos para uma defesa específica. “Por causa dessa mutação, ela tem uma transmissibilidade muito grande. Há evidências de que ela é mais transmissível do que as variantes que estão ocorrendo no momento, e ela, por causa dessa mutação, não é completamente neutralizada pelo sistema imune que nós temos”, explica o professor.
Vacina ainda é importante
Embora a éris não tenha chamado a atenção dos cientistas por conta de sua gravidade, ainda se trata de um vírus que pode gerar maiores complicações caso haja um descuido na prevenção. Isso pode se transformar em um retrocesso em relação ao que foi conquistado desde o início da pandemia. “Neste momento não existe ainda uma evidência de uma gravidade muito maior, mas, no futuro, se não controlarmos essa infecção, é possível que estejamos enfrentando casos de maior gravidade causados por essa variante. Se houver um aumento muito grande na transmissão, é possível que a gente tenha de recomendar novamente o uso de máscaras, principalmente em locais fechados. Mas o importante é que a gente se vacine para aumentar a proteção de todo mundo contra a circulação dessa nova variante”, alerta Fonseca.
O médico lembra, ainda, que a nova variante representa um risco dobrado para parcelas vulneráveis da população, pois pode deixar gravemente doentes pessoas idosas ou até mesmo os imunocomprometidos – pessoas mais jovens que têm algum problema na imunidade. Por isso, essas pessoas precisam de proteção. “Se a gente não diminuir a circulação dessa variante na nossa população, certamente essas pessoas serão infectadas, o que pode, ocasionalmente, levar ao aumento da mortalidade nesse grupo específico de pessoas.”
Para evitar que esse grupo seja comprometido por uma nova variante, cerca de três meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar o fim da emergência global, é fundamental, nas palavras do professor, contar com um antigo aliado na luta contra a covid-19. “O mais importante de tudo é que as pessoas se vacinem, e aquelas que não estão completamente vacinadas, que completem sua vacinação. Ainda não temos uma vacina específica contra essa nova variante, mas, muito proximamente, talvez a gente tenha uma vacina contra a variante que deu origem a ela. Então, no momento em que sair a vacina, a população tem de entender que precisamos ser vacinados, porque, com isso, podemos diminuir a circulação da doença, os casos mais graves e o aumento da mortalidade”, completa.
USP/Fiocruz