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Meningite: dos sintomas ao tratamento

Casos da doença voltaram a chamar a atenção no país

Por Jonas Feliciano em 09/03/2019 às 15:48:00

Foto: Divulgação

Na primeira semana de março, duas mortes chamaram a atenção dos brasileiros. No sábado (2), o neto do ex-presidente Lula, com apenas sete anos, morreu em Santo André na grande São Paulo, vítima de meningite meningocócica. Na última terça-feira (5), João Pedro Ferrari, 16, morador de Pérola d'Oeste, no estado do Paraná, estava internado há quatro dias desde que apresentou os primeiros sintomas. Ele também acabou falecendo devido às complicações da doença. 

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, foram registradas 1.100 ocorrências da doença meningocócica no país. Desse total,  222 pessoas vieram a falecer. Em 2017,  os números alcançaram 1.138 registros e 266 mortes.

Já nos casos de meningite pneumocócica, também em 2017, foram registrados 1.030 casos e 321 vítimas fatais. No ano passado, os índices chegaram a 934 ocorrências e 282 mortes. Ainda em 2017, as notificações por outras bactérias somaram 2.687 registros e 339 óbitos. Em 2018, foram 2.568 e 316, respectivamente. Os números da meningite viral notificados pelo governo atingiram 7.924 casos e 107 mortes no ano de 2017. Já em 2018, foram 7.873 e 93 falecimentos.

Tipos

Cientificamente, as meninges são tipos de membranas que envolvem o encéfalo. Ele é formado pelo cérebro, o bulbo e o cerebelo, além da medula espinhal que circula no interior da coluna vertebral. Essas estruturas são constituídas por três camadas chamadas de dura-máter, aracnoide e pia-máter. 

Desse modo, quando ocorre uma invasão de alguma bactéria ou vírus e esses microrganismos conseguem driblar as defesas chegando até as meninges, elas acabam se inflamando. O processo de inflamação pode produzir secreção putulenta e, consequentemente, a infecção se espalha pelo sistema nervoso central.

Dor de cabeça, vômitos, rigidez da nuca, prostração e febre alta são considerados alguns dos sintomas mais comuns dos quadros clínicos relacionados à meningite. Por tal razão, eles também nunca devem ser ignorados. Principalmente, nos primeiros anos de vida e na terceira idade. Além disso, o diagnóstico realizado de maneira rápido e com tratamento imediato são essenciais para garantir o controle e a evolução da patologia.

É importante destacar que a maioria dos microorganismos que causam infecções nos humanos podem causar meningite
Contudo, entre os principais, destacam-se as bactérias, os vírus e os germes.

No caso das virais, quadro pode ser mais brando. Os sintomas podem parecer com  os da gripe e resfriados, por exemplo. Elas acometem muitas crianças e seus sintomas são irritação, moleza, febre e dor de cabeça. No ato do exame clínico, o médico pode observar a nuca está um pouco rígida.  E isso causa dor, quando se tenta movimentá-la. Depois de fechado o diagnóstico, a conduta médica consiste em aguardar a evolução do quadro por ele mesmo, assim como acontece com os resfriados.

Já as causadas por bactérias são mais graves e precisam ser tratadas com antibióticos rapidamente. A transmissão pelo meningococo ocorre pelas vias respiratórias. Isso signifca que o convívio entre as pessoas e sem a devida proteção favorece o contágio da bactéria. Ela passa pelas narinas e para a corrente sanguínea sendo levada para as meninges.

Os sintomas da meningite bacteriana aparecem em pouco tempo. Logo, os mais importantes são febre alta, mal-estar, vômitos, dor de cabeça e no pescoço. Em algumas situações, quando ligada à infecção por outros tipos de bactéria, esse tipo meningite pode ser fatal e matar rapidamente. 

Ministério da Saúde adverte

O Ministério da Saúde informa que a doença meningocócica é um dos tipos de meningite bacteriana. Ela é considerada uma doença endêmica, deste modo, casos são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais.


O órgão também alerta que, devido à gravidade do quadro clínico, a recomendação para os casos suspeitos de meningite sempre é a internação em unidades hospitalares para realização de exames que confirmem a suspeita. 

Para tratamento das meningites bacterianas, faz-se o uso de antibioticoterapia, com drogas de escolha e dosagens terapêuticas prescritas pelos médicos assistentes do caso o mais precocemente possível. No caso das meningites virais, geralmente o tratamento é sintomático e, em alguns casos, pode-se fazer uso de medicamento antivirais.

Na profilaxia, a vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da doença meningocócica. No país, o sorogrupo C ainda é o principal agente causador da doença meningocócica (75%), cuja prevenção é feita pela administração da vacina meningocócica C, já incorporada no Calendário Nacional de Vacinação para crianças menores de cinco anos e adolescentes de 11 a 14 anos de idade.

Vale destacar que o Ministério da Saúde oferta quatro tipos de vacina na rotina do Calendário Nacional de Vacinação, que protegem contra as principais causas de meningite bacteriana. Em 2017, a cobertura vacinal foi de 86,58% (vacina meningocócica C conjugada). Em 2018, de acordo com dados preliminares, a cobertura vacinal está em 79,04%.

As vacinas contra meningites ofertadas no SUS são a BCG que protege contra a meningite turberculosa e é dada uma dose ao nascer. Ainda existe a Pentavalente que protege contra as infecções invasivas, entre elas a meningite causada pelo Haemophilus influenzae sorotipo b, com doses que devem ser aplicadas aos dois, quatro e seis meses de vida.

A Meningocócica C que previne a doença meningocócica causada pela Neisseria meningitidis sorogrupo C, com doses aos três e cinco meses e um reforço aos 12 meses de idade. Os adolescentes de 11 a 14 anos também devem ser vacinados, com dose única que serve como reforço. 

Outra oferecida pela entidade governamental é a vacina Pneumocócica 10 que protege contra as infecções invasivas, entre elas a meningite causada por dez sorotipos do Streptococcus pneumoniae, com doses aos dois e quatro meses de idade e um reforço aos 12 meses.

ABRASCO

Pouco tempo depois da morte do neto do ex-presidente Lula, começaram a circular informações sobre um suposto veto na introdução de vacinas contra a meningite no calendário vacinal do SUS. As "fake news" relacionaram a morte da criança ao ato do próprio avô. Por isso, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva  (ABRASCO) emitiu uma nota oficial esclarecendo os fatos. Confira um trecho do comunicado:

"Ao contrário do que foi ventilado, não há relação entre o óbito e o veto ao projeto de lei. A decisão para incorporar a vacina em questão no calendário vacinal obrigatório já havia sido tomada com base em critérios de custo-efetividade. 

No sítio do Ministério da Saúde, é possível verificar o portfólio de vacinas para crianças e adolescentes, disponível na rede pública e respaldado por fundamentos científicos e epidemiológicos no âmbito do Programa Nacional de Imunizações, entre elas a Meningocócica C e a Pentavalente, que previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e meningite e infecções por Haemóphilus influenzae tipo B.

Os efeitos da introdução destas vacinas foram medidos em pesquisas recentes, como a de França et al. (Revista Brasileira de Epidemiologia, 2017) e de Bierrenbach et al (Human Vaccines & Immunotherapeutics, 2018), mostrando a diminuição dos óbitos por meningite entre menores de 5 anos no país. Isso demonstra resultados concretos dos investimentos em medidas de saúde pública para problemas de relevância para a sociedade brasileira.

Políticas públicas de saúde exigem constante aporte de recursos, compatível com a sua complexidade, e aprimoramento dos instrumentos e coordenação com as demais políticas. No caso das meningites, concerne ao poder público vigiar, permanentemente, a evolução dos sorogrupos na população, uma vez que a incidência de meningites tipo B, C e outras pode mudar ao longo do tempo, de acordo com a faixa etária, o que demanda atualização do cardápio de vacinas para evitar mortes por doenças preveníveis. 

Além disso, a oferta tecnológica de vacinas em nível mundial e que podem ser incorporadas ao calendário brasileiro da rede pública também se aperfeiçoa.

É responsabilidade do Estado, amparada na Constituição Federal, tomar as medidas de controle e prevenção cabíveis, incorporando novas vacinas sempre que justificado e viabilizando a vacinação em massa.

Entre as políticas, é importante destacar o papel da Comissão de Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (CONITEC), criada em 2011, que, com base em análise de evidências, assessora o SUS nas tarefas de incorporação, exclusão ou alteração de tecnologias no SUS. Trata-se de processo que permite a melhor tomada de decisão e alocação de recursos técnicos, humanos e financeiros, livre de conflitos de interesse, privilegiando, sempre, o interesse público.

Desta forma, a Abrasco reafirma o seu apoio ao SUS e defende que a oferta pública de vacinas seja fortalecida e ampliada, acompanhando a evolução tecnológica e as evidências epidemiológicas, entendendo que mais e melhores recursos são imprescindíveis para um sistema de saúde público de alta qualidade.

Alertamos ainda que a disseminação das chamadas “fake news” pode trazer sérios prejuízos ao processo de fortalecimento do SUS e à saúde da população brasileira, devendo ser vigorosamente combatida por todos.

Aproveitamos para expressar ao ex-presidente e a seus familiares, nossa solidariedade e os nossos mais profundos sentimentos pelo falecimento de seu neto Arthur Lula da Silva, de 7 anos e, ao mesmo tempo, repudiar toda e qualquer manifestação sórdida e desumana nesse momento de dor ao qual todos nós somos passíveis."


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