No dia 21 de março de 1960, em Sharpeville, na África do Sul, a polícia sul-africana abriu fogo contra manifestantes que protestavam pacificamente contra o regime Apartheid, causando a morte de 69 pessoas. O fato originou, no âmbito do estado do Rio de Janeiro, a campanha "21 dias de ativismo contra o racismo", que logo se estruturou por outras partes do país. Em São Gonçalo, as atividades deste ano tiveram início nesta quarta-feira (13), com a abertura das exposições "Quem Somos" e "Livres para Sempre", que estão em exibição na sede da Prefeitura, no Centro. A campanha irá promover diversos eventos, com o fechamento no dia 29.
"Uma exposição completa a outra, pois juntas abordam toda a trajetória dos negros no país, desde os tempos da escravidão até as lutas enfrentadas pelos movimentos sociais atuais. Além disso, buscamos mostrar importantes personalidades negras que desenvolvem trabalhos relevantes socialmente em São Gonçalo", explica Daniele Gonçalves, presidente do grupo Dandaras para Sempre, um dos realizadores da mostra "Quem Somos".
Apesar da barbárie ocorrida à época, na África do Sul, os números de violência contra a população negra são alarmantes até hoje, principalmente no Brasil, o que amplia a importância dos 21 dias de ativismo. O Atlas da Violência de 2017 mostra que a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. A pesquisa ainda afirma que 80% das mortes de pessoas negras possuem o mesmo fator estrutural: o racismo.
"O Brasil é um país composto por maioria negra e, mesmo assim, o racismo, que é crime, continua provocando tanta destruição nas famílias brasileiras. Foram 400 anos de escravidão e isso reflete na vida dos negros na sociedade hoje em dia. É uma realidade que estamos lutando para mudar", afirma o prefeito José Luiz Nanci, presente à abertura da exposição.
Parte da história da população negra no Brasil, e mais especificamente em São Gonçalo, pode ser vista através das exposições, que ficam abertas até o final do mês (sem data definida ainda), das 9h às 16h, na sede da Prefeitura, no Centro. A campanha é uma realização da Dandaras para Sempre e Centro de Estudos Brasil África (Ceba), com apoio do grupo Cardume, Unegro, Comird, OAB-SG e Prefeitura. A mostra "Livres para Sempre" é uma parceria da ONU e Tribunal de Justiça.
Legislação
Para além de um xingamento ou opinião, o racismo é crime previsto por lei (7.716/1989), inafiançável e imprescritível, com pena de um a três anos e multa, conhecida como Lei Caó, em homenagem ao jornalista e militante do movimento negro, Carlos Alberto Caó Oliveira.
Agenda dos "21 dias"
- 18/03, às 18h: Palestra "Saúde e direitos da população negra e LGBTQ+", no Partage Shopping, no Centro;
- 19/03, às 19h: Lançamento do livro "Unegro 30 anos" e palestra "A importância dos móveis sociais na educação", OAB-SG, Zé Garoto;
- 20/03, às 19h: Palestra "Violência e racismo, novas faces de uma afinidade retirada", no Partage Shopping, Centro;
- 25/03, às 19h: Palestra "Um olhar sobre o movimento social e políticas públicas no Brasil", no Partage Shopping, no Centro;
- 27/03, às 19h: Moção Pérola Negra, na OAB-SG, no Zé Garoto;
- 29/03, às 10h: Moção de Aplausos - Tia Marcolina, na Umei Tia Marcolina, em Monjolos.