Quando um paciente recebe o diagnóstico de câncer, muitas vezes tem dificuldades para aceitar a notícia. É comum que surjam medos e inseguranças quanto ao futuro, mas, em meio ao tratamento oncológico, muita gente deixa esses sentimentos de lado, comprometendo a saúde mental. Para evitar isso e passar pelo período com mais tranquilidade, o acompanhamento psicológico é fundamental.
De acordo com Natalia Gil, psicóloga da Oncoclínicas Rio de Janeiro, o ideal é que o apoio comece logo após a descoberta da neoplasia. Este cuidado pode ajudar a evitar que o paciente desenvolva algum transtorno psiquiátrico. Uma pesquisa japonesa, que analisou 393 pacientes com câncer tratados em quatro hospitais do país, revelou que 289 sofriam algum tipo de depressão, de leve a moderadamente grave. Os resultados foram publicados em maio de 2022 pela revista Nature – um dos mais importantes periódicos científicos do mundo.
Os números mostram a importância de um olhar cuidadoso para a saúde mental das pessoas diagnosticadas com a doença. Ao contrário do que muitos familiares e amigos pensam, diz Natalia, nem sempre é benéfico dizer a um paciente com câncer que ele precisa manter o pensamento positivo. Essa pressão por se mostrar feliz e animado acaba invalidando os medos e dúvidas que são naturais durante o tratamento.
“Saúde mental não tem a ver com felicidade, mas com a forma com a qual lidamos com as nossas emoções. É sobre como conseguimos nos organizar e nos sentir bem depois que determinadas situações nos modificam”, explica a especialista, enfatizando que cada paciente tem suas necessidades e reações únicas, o que reforça a importância de um acompanhamento psicológico personalizado.
A coordenadora do serviço de psicologia oncológica da Oncoclínicas Rio de Janeiro deu algumas dicas aos leitores do Portal Eu, Rio! para quem está vivendo esse momento.
- Qual o momento ideal para iniciar o tratamento psicológico? Quem deve fazê-lo?
De acordo com a especialista, quanto antes, melhor. Esse apoio é importante para que o paciente aprenda a lidar com as emoções que começarão a surgir. Ao fim do tratamento médico, a terapia também é fundamental, pois novos sentimentos podem aflorar, como o medo de recidiva.
A especialista também defende que o acompanhamento psicológico seja estendido aos familiares do paciente oncológico, que podem aprender a lidar melhor com as transformações da rotina decorrentes do início do tratamento de um parente.
- Existem práticas que melhorem a saúde mental?
Segundo Natalia Gil, a alimentação saudável e a atividade física estão entre as práticas recomendadas. Estar ao lado de quem amamos também é importante. “É descobrir qual é o nosso próprio SOS emocional e fazer uso dele quando precisamos”, resume.
Ela recomenda ainda conhecer a si mesmo e reconhecer as suas emoções; manter uma rotina; priorizar o sono; reforçar laços afetivos benéficos; ficar temporariamente offline; realizar atividades prazerosas e estar em contato com a natureza.