As más condições de conservação das passarelas da Avenida Brasil estão deixando os pedestres assustados. De acordo com alguns moradores que utilizam as estruturas para atravessarem as pistas da principal via da capital carioca, a falta de manutenção tem deixado os pisos metálicos cheios de buracos e é cada vez mais arriscado passar pelos locais.
Segundo Fernanda Melo, que reside próximo a passarela três que fica na altura do bairro do Caju na Zona Portuária da cidade, alguns funcionários da Prefeitura do Rio chegaram a fazer emendas nas partes abertas que já estavam precárias. Contudo, o problema não foi totalmente resolvido. Ainda há buracos e a travessia continua perigosa.
"Por esse motivo, eu procurei a imprensa. Mandei imagens para diversos veículos, pois o descaso está demais. Acho uma falta de respeito e um risco a vida de todos nós. Pagamos impostos e o mínimo que queremos é segurança", lamentou a moradora.
Ela também lembrou que diversos posts nas redes sociais circulam denunciando o problema. Nestas publicações, em diversas páginas no Facebook, usuários publicaram imagens que identificam os pontos mais críticos e que a qualquer momento podem ser a causa de um acidente mais grave. Nos comentários, os internautas ainda citam a mesma situação na passarela quatro.
Na página oficial da Superintendência do Centro, há uma publicação do dia 19 de fevereiro deste ano, onde o superintendente da região, Pablo Mello, visita a passarela quatro juntamente com técnicos da prefeitura. Na ocasião, o órgão informou que após receber solicitações de moradores, uma equipe da Secretaria Municipal de Obras ficaria responsável pelos reparos até o fim da mesma semana. Contudo, parece que as ações não foram satisfatórias.
Problemas antigos
Não é de hoje que a população carioca reclama das péssimas condições de muitas passarelas da capital e de outros municípios do estado do Rio. Uma rápida pesquisa no Google revela que o assunto há bastante tempo preocupa quem precisa usar as vias suspensas para atravessar grandes avenidas.
Em contrapartida, nos últimos anos, o gasto público municipal com obras e conservação diminuiu. Dados da Controladoria Geral do Município, disponíveis no site Rio Transparente, apontam que houve redução nas despesas relacionadas à pasta.
Em 2015, o orçamento inicial foi de R$ 373.653 e as despesas pagas atingiram R$ 41.474,60. Em 2016, o inicial chegou a R$ 325.083 e os gastos pagos a R$ 30.210,10. Já no ano seguinte, em 2017, o orçamento inicial caiu para R$ 75.846 e as despesas pagas para R$ 27.225,82. Em 2018, houve uma redução do inicial para R$ 57.159 e R$ 24.247,37 dos gastos quitados.
Ainda assim, em nota ao Portal Eu,Rio!, a Secretaria de Infraestrutura e Habitação informou que estão sendo realizadas ações de reparo nas passarelas ao longo da Avenida Brasil desde o dia 27 de novembro do ano passado. Segundo a instituição, as ações iniciaram pela passarela 12 e as reformas ocorrem de forma constante e obedecendo um cronograma elaborado pelos técnicos da secretaria.
Segundo o comunicado, as passarelas provisórias são seguras e não apresentam risco de queda, apesar da grande depredação sofrida. A secretaria ainda esclareceu que quando as primeiras estações do BRT Transbrasil estiverem prontas, as atuais serão substituídas pelas estruturas permanentes que devem ser integradas às futuras estações.
Vestígios de negligência
Para Jorge Mattos, Coordenador da Comissão de Análise e Prevenção de Acidentes do Crea-RJ, as imagens repassadas ao portal revelam a falta de manutenção dos órgãos responsáveis.
"Normalmente, essas estruturas metálicas possuem não somente a parte visível ao pedestres, mas também um reforço estrutural que evita maiores riscos. Neste caso, seria preciso uma avaliação técnica mais detalhada. À primeira vista, fica clara a falta de manutenção e o descaso com a preservação. Se o reforço estiver no mesmo padrão que as placas de metal, podemos considerar que existe sim um risco iminente", destacou Jorge.
Para o engenheiro civil Carlos Henrique Siqueira, sócio proprietário da empresa RIOCON Consultoria e Engenharia e doutor em Patologia das Estruturas, a questão acerca do estado precário de passarelas remete a NBR 9452. Carlos fez parte da comissão técnica que elaborou a norma que trata da Inspeção de Pontes, Viadutos e Passarelas de Concreto. Segundo ele, o documento sugere que antes ou imediatamente à obra ser entregue à sociedade deve passar por uma vistoria cadastral.
"Essa inspeção é aquela que serve de referência para todas as demais que se sucederão a cada ano, e que são consideradas vistorias rotineiras, servindo para manter o cadastro da obra atualizado. Complementarmente, a cada 5 anos toda estrutura deve ser averiguada por uma inspeção especial, onde pormenores de avaliação devem ser usados, inclusive com a presença de um engenheiro especialista em patologia das estruturas", destacou o especialista.
Desse modo, ele ainda relembrou que ao não proceder dessa forma, os responsáveis pelas pontes, viadutos e passarelas estão totalmente descobertos pelo que diz a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.