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Curso de inglês afrocentrado é exemplo de empreendedorismo preto no Brasil

curso é gerido por duas empreendedoras que têm consciência do que é ser uma mulher negra no país

Por Portal Eu, Rio! em 29/08/2024 às 13:45:32

Alunos do curso na Pedra do Sal, no Centro do Rio. Foto: Divulgação

A partir de um grupo de estudo de inglês, fundado em 2016, o Ifé English Course surgiu no ano de 2018 com o objetivo de ser uma ferramenta de ascensão e fomento à uma comunidade racializada. Pautado na história do povo negro, o curso se utiliza de elementos de culturas negras diversas, sendo um curso afrocentrado e voltado para a comunidade preta de qualquer parte do mundo. O curso já alcançou mais de 600 pessoas ao longo desses anos.

Voltado para pessoas negras e liderado por duas mulheres pretas, o curso se destaca por transformar a vida de tantas pessoas, o que é um grande marco, tendo em vista que, no Brasil, existem 28,6 milhões de empreendedores e apenas 4,7 milhões são mulheres negras, segundo pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2020, realizada no Brasil pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ).

Pensado a partir de experiências e dificuldades semelhantes, enfrentadas por pessoas que vivem a dificuldade de conciliar o investimento na língua inglesa com os estudos e trabalho, o Ifé acumula partições em casos de superação e vitórias. Uma dessas histórias foi vivida pela Guia de turismo, Luana Ferreira, de 35 anos, que faz parte desse grupo de pessoas que não contam com privilégios para alcançar os objetivos. A moradora da Barra da Tijuca relembra a trajetória de superação e retorno para sua área de atuação, que só foi possível a partir do Ifé English Course.

“Hoje eu trabalho com turismo afro referenciado e quando entrei no Ifé, estava nessa busca de me recolocar no mercado de trabalho do Turismo. Sou formada desde 2014, trabalhei no ano de 2015, mas saí do mercado, pois não consegui me encaixar no Turismo, porque eu não falava inglês, então eu ganhava muito pouco só com os grupos em português. Cheguei a fazer um curso convencional por um ano, mas não deu certo. Pelas redes sociais vi a divulgação de um grupo de estudos em inglês. Na época não existia a ideia de curso, não tinha nem professor ainda, era um grupo de estudos, de bate-papo em inglês. Passei o ano de 2017 estudando e me preparando, conhecendo pessoas pretas e histórias de viajantes, me empoderei e em 2018 retornei para o mercado de trabalho. Se não fosse o Ifé, a rede de empoderamento que fiz lá e o conteúdo que a gente discutia em sala de aula, eu não sei como teria sido. Além do vocabulário, que foi fundamental para trabalhar com turismo afro referenciado, por exemplo. Então estou muito feliz, porque a metodologia do curso casa com o meu trabalho e se não fosse o Ifé, hoje eu não estaria no mercado de trabalho ou o processo teria sido muito mais difícil”, contou Luana.

Motivação para o Ifé

Em 2016, Mabi Elu era uma jovem negra que, após ter perdido uma oportunidade profissional única por falta de fluência na língua inglesa, fundou um grupo de estudos de inglês, composto por pessoas negras que estavam em situações semelhantes a ela: precisavam do inglês para acesso ou promoção profissional ou acadêmica.

Algum tempo depois do início do grupo, voluntários apoiaram a iniciativa da aluna e, em 2018, já com uma estrutura de curso, o projeto chegou ao conhecimento da professora Monique Carvalho, que inevitavelmente se conectou de forma profunda com os valores de acesso à língua inglesa que o curso oferece para pessoas negras. A professora percebeu que o projeto atua como ferramenta de ascensão e fomento a uma comunidade racializada. Desta forma, ela se juntou ao time Ifé e deu continuidade ao trabalho pedagógico iniciado anteriormente.

Juntas, as duas lideranças instituíram e fortaleceram os valores, cultura e diretrizes da instituição e desde então, trabalham arduamente, com suporte apenas da comunidade do curso, para fazê-lo funcionar.

Passado algum tempo, o Ifé enfrenta mais obstáculos, desta vez a pandemia de COVID-19, estabelecida no Brasil em março de 2019, que obrigou o projeto a se reinventar para continuar existindo em um tempo de incertezas, proporcionado por uma doença desconhecida e que assolava o mundo. A professora, Monique Carvalho, relembrou essa fase e destacou o empenho da direção do curso em oferecer o melhor para os alunos do projeto.

“Durante a pandemia, foi difícil nos adaptar à nova realidade online porque o curso funcionava exclusivamente presencialmente antes. Com o passar dos semestres, não só nos adaptamos a essa modalidade, como também nos especializamos cada vez mais com ferramentas e metodologias online para oferecer o melhor pros alunos” disse Monique.


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