Moradores do Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio, relataram uma série de violações de direitos supostamente cometidas por policiais militares durante operação nas comunidades na última segunda-feira (10). Entre os casos publicados na página Maré Online da Redes da Maré, há invasões de domicílios, estabelecimentos comerciais e até assédios.
Segundo os moradores, não foi apresentado mandado para essas ações. Em todos os relatos foram identificadas violências físicas e psicológicas: “Você sabe que a gente não leva ninguém preso. Se tiver que tirar a gente tira em um lençol”, foi uma das frases ouvidas por moradores supostamente ditas pelos policiais.
Numa outra casa, uma senhora e uma jovem grávida, pediram acolhimento na sede da Redes da Maré, depois de terem sua casa invadida e celulares vasculhados, com informações apagadas pelos policiais. A gestante passou mal e foi levada para atendimento de emergência.
Entre os relatos recebidos, dois casos de assédio. Policiais teriam submetido duas jovens a ficarem de roupas íntimas para serem revistadas. Segundo a página, pela lei, a abordagem policial à mulheres pode ser realizada apenas por mulheres.
Incêndio em casa
Uma casa, que supostamente seria utilizada por membros de um grupo armado, foi incendiada na região conhecida como Tijolinho, na Nova Holanda. A região do “Tijolinho” é fruto de um processo coletivo de moradores que organizou de forma orgânica a construção de pequenos prédios e casas, muito próxima umas às outras. Esta região apresenta precariedade em sua estrutura física e saneamento básico, onde vem sendo identificado elevado número de violações de direitos.
Por volta das 7h moradores desta localidade procuraram a Redes da Maré informando sobre o incêndio que aconteceu no primeiro andar de um prédio de quatro andares. Outras três famílias que moram no mesmo prédio, acordaram com o calor e a fumaça. Uma das moradoras do prédio relatou que teve que sair às pressas com seu filho de casa: “Fiquei com medo do fogo lamber o prédio todo”. Os moradores relataram, ainda, que o incêndio causou danos estruturais ao imóvel. O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas quando chegou o incêndio já havia sido controlado pelos moradores.
Comerciantes da região também denunciaram a invasão de estabelecimentos comerciais e a quebra de equipamentos. Um morador relatou ainda que uma bomba caseira foi lançada para dentro da Escola Municipal Osmar Paiva Camelo.
As escolas da Maré em quatro favelas ficaram fechadas. As clínicas da família Adib Jatene, Jeremias Moraes da Silva e Diniz Batista também tiveram atendimento suspenso devido a operação.
Outro lado
A Secretaria de Estado de Polícia Militar, através do Comando de Operações Especiais (COE), realiza operação no Complexo da Maré nesta segunda-feira (10/06). Equipes policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), do Batalhão de Ações com Cães (BAC) e do Grupamento Aeromóvel (GAM) atuaram na região. Na ação, 24 carros e seis patinetes elétricos foram recuperados, além da apreensão de três rádios transmissores, dois coletes balísticos, uma granada, 200 pinos de cocaína e 50 tabletes de maconha.
"Ressaltamos que, como tem demonstrado ao longo de sua história, a corporação não coaduna e pune com o máximo rigor qualquer desvio de conduta em seus quadros, conduzindo os processos apuratórios com base na legislação vigente", diz a nota
Vale ressaltar que a Corregedoria da Polícia Militar disponibiliza canais para receber denúncias de ações ilícitas envolvendo policiais militares, garantindo o anonimato do denunciante. As denúncias podem ser encaminhadas pelo WhatsApp através do número (21) 97598-4593; pelo telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail [email protected].