Na noite deste sábado (7),, um grupo de manifestantes caminharam pelos estandes da Bienal do Livro, no Rio Centro, na Barra da Tijuca. Com livros nas mão e aos gritos de "Fora,Crivella!!" e "Não vai ter censura" dezenas de pessoas participaram do ato. Pelo Twitter, as imagens foram compartilhadas no perfil do youtuber carioca Felipe Neto. Ele foi o responsável pela compra dos mais de dez mil exemplares da obra censurada pelo prefeito Marcelo Crivella.
"Estou completamente arrepiado. Público saindo da Bienal com o livro LGBT em mãos e protestando contra os agentes da censura que estão lá nesse momento. Isso é resistir!!!", escreveu o youtuber.
Em um segundo post, Felipe Neto também compartilhou imagens de manifestantes lendo um discurso contra a decisão do prefeito e a favor da liberdade de expressão.
A obra contém a imagem de um beijo homoafetivo. Entretanto, os livros já estavam sendo vendidos lacrados e com uma capa sem conteúdo erótico. Diante do episódio, a organização da Bienal afirmou que iria retirar os livros. No mesmo dia, todos os exemplares se esgotaram rapidamente. No período da tarde, os agentes voltaram à Bienal dispostos a identificar e lacrar os livros considerados inadequados. Porém, não foi encontrado nenhum conteúdo que estivesse descumprindo a legislação.
A Bienal recorreu à Justiça para preservar o funcionamento do evento e uma medida judicial impediu o recolhimento dos livros. Novamente, a prefeitura recorreu e conseguiu derrubar a decisão anterior. No sábado (7), os fiscais retornaram ao local do evento, mas não encontraram irregularidades.
"Um novo e sombrio tempo se anuncia"
Também na noite do último sábado (7), em nota à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, comentou o fato. Para o ministro, "um novo e sombrio tempo se anuncia: o tempo da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático", afirmou.
Ele ainda ressaltou que "mentes retrógradas e cultoras do obscurantismo e apologistas de uma sociedade distópica erigem-se, por ilegítima autoproclamação, à inaceitável condição de sumos sacerdotes da ética e dos padrões morais e culturais que pretendem impor, com o apoio de seus acólitos, aos cidadãos da república".