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Caso Marielle: A prisão dos Brazão é o fim da linha ou pode ser um novo início?

Política & Sociedade, Por Rudolph Hasan, Cientista Social (UERJ) e Mestre em Sociologia (UFF)

Em 26/03/2024 às 19:32:07

O Brasil acordou surpreso no dia 24 de março, não tanto pela prisão preventiva dos irmãos Brazão, já conhecidos por frequentar o submundo da política fluminense, mas pelo suposto e decisivo envolvimento de Rivaldo Barbosa, ex-delegado da Delegacia de Homicídios e chefe da Polícia Civil à época do assassinato de Marielle Franco.

Antes de mais nada, é importante deixar claro que, diferente da impressão passada pela imprensa e até pelo Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, de que o caso estaria “encerrando”, criando a sensação coletiva de que os presos seriam definitivamente culpados, nada está definido, uma vez que os Brazão e Rivaldo Barbosa foram detidos preventivamente e ainda serão julgados, tendo direito a ampla defesa. Até o momento, que fique claro e como preconiza nosso direito, os personagens dessa história são inocentes.

Feitas essas considerações iniciais, convido o leitor e refletir sobre essas prisões preventivas a partir de um outro aspecto, saindo do vislumbre por justiça quanto a barbárie cometida contra Marielle e Anderson, e caminhando na direção de uma oportunidade única de passar o Rio à limpo. Sim, utilizo o termo “passar à limpo” porque é exatamente essa a possibilidade que se apresenta agora, com esse cavalo encilhado passando em nossa porteira.

Para que se promova um julgamento dos acusados, o Ministério Público Federal deverá apresentar provas e constituir um conjunto indiciário robusto contra os acusados. A delação de Ronnie Lessa, determinante para as prisões preventivas, apresenta riqueza de informações, mas ainda é insuficiente para comprovar culpa, uma vez que provas são indispensáveis. Obviamente que, a participação de agentes públicos no processo pode ter sido desastrosa para a coleta de material comprobatório dos crimes. Uma verdadeira máquina de destruição de provas, ao que tudo indica, se estabeleceu no interior de instituições de Estado para impedir a conclusão do caso. Contudo, nesse exato momento, os suspeitos estão deliberadamente à disposição da justiça, trancafiados em presídio federal e com acusações gravíssimas que recaem sobre seus ombros. Ai reside a grande oportunidade sobre a qual falava no último parágrafo.

A experiência da Operação Lava-Jato, mesmo com todos os seus deslizes e equívocos, mostrou ao Brasil como o devido alinhamento entre Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário, pode, se feito dentro da legalidade, obviamente, ser fundamental para a elucidação de crimes complexos, desbaratando quadrilhas poderosas e influentes. Nesse sentido, ao invés da apresentação dos suspeitos por mandar matar Marielle representar o fim de uma longa espera, pode se apresentar como a oportunidade que o Rio precisava para se livrar de agentes públicos corruptos, malfeitores e toda sorte de criminosos que se encontram entranhados nas várias esferas do poder. A ficha dos irmãos Brazão, que ocupavam cadeira no Tribunal de Contas do Estado e na Câmara Federal, é longa e repleta de obscurantismo. Em um passado não muito distante, outra parlamentar, a ex-deputada Cidinha Campos, já havia sido alvo de ameaças da família Brazão ao denunciar os mesmos por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e relação com o crime organizado. Entendendo a longevidade das acusações que recaem sobre os Brazão e observando que sempre ocuparam espaços estratégicos de poder na vida pública, é inegável a riqueza de informações que possuem sobre o submundo mafioso de um Rio de Janeiro que não se vê nos cartões postais.

Já Rivaldo Barbosa, outro preso preventivamente, além de ter chefiado a divisão de homicídios, foi Chefe da Polícia Civil. Ninguém alcança tal cargo por sorte do destino. Influência e relacionamentos são indispensáveis e, caso se comprove o vínculo do policial concursado e de carreira ao “Escritório do Crime” – Organização de matadores de aluguel chefiada por Adriano da Nóbrega e da qual Ronnie Lessa era integrante – se comprovará que o mesmo detém um rico acervo de informações sobre a extensão da corrupção no interior de instituições de Estado, sendo um personagem fundamental para o entendimento da atuação de grupos e quadrilhas.

A oportunidade que se apresenta hoje, com a prisão dessas figuras super influentes no Rio, é única. Elucidar o caso Marielle e Anderson é fundamental, mas podemos muito mais a partir dessas detenções. Caberá agora a toda sociedade, exorcizar os traumas advindos dos equívocos cometidos pela Operação Lava-Jato, se apegando novamente aos frutos positivos de uma operação que, repito novamente, mesmo com todos os deslizes, demonstrou a eficiência de procedimentos investigatórios quando há alinhamento entre órgãos de Estado e sociedade civil mobilizada por mudança.

O Rio de Janeiro não aguenta mais tanta violência, dor e lágrimas. Nesse momento, todos homens e mulheres de bem desse Estado estão apreensivos e atentos. Uma chama de esperança volta a brilhar nos corações de quem só quer um pouco de paz e um Rio do qual se orgulhar, que não figure a todo momento nas páginas policiais.

Cavalo selado não passa duas vezes no mesmo lugar, já diziam os gaúchos.

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