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Entenda: “Oppenheimer” não é só o filme do pai da bomba atômica

Cinestesia, Por Gabi Fischer, Cineasta e Produtora

Em 22/07/2023 às 15:00:34

Prometeu deu o fogo à humanidade, assim como Oppenheimer deu a bomba atômica. Em ambas as narrativas, tudo mudou após a ação, até porque toda ação gera uma reação, certo? Mas, para além da Terceira Lei de Newton, ao costurar esses personagens, o livro “Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano” já contém esse subtexto de peso e duabilidade do protagonista. Seja o físico ou o titã, a história tenta resumi-los por conta de um episódio, um ato, uma ação, mas é sempre muito mais. Com o livro biográfico em mãos, um determinado roteirista e diretor alcançou o resultado, que é a prova de que tudo também mudará após a experiência de assistir ao filme. Christopher Nolan, mais uma vez, levará muitas pessoas ao cinema e conseguiu colocar seu nome na história. E que não haja dúvidas de que, quando digo assistir ao filme, é sim em IMAX. Mas vamos por partes, ou melhor, cada átomo do filme.

Acho muito curioso (ou pode ser loucura da minha cabeça) em ter conectado duas histórias quando imediatamente descobri que Nolan havia ganhado o livro do Oppenheimer de Robert Pattinson como presente após “Tenet”. O diretor saiu de um projeto, tinha nas suas mãos uma distração que virou uma nova obsessão. Logo lembrei de Lin-Manual Miranda que, ao tirar férias após muito tempo em cartaz com seu musical que se tornou um grande sucesso, “In the Heights”, se deparou com um livro no aeroporto, mais uma distração que virou obsessão. Enquanto Lin encontrou Hamilton, Nolan encontrou Oppenheimer, que, além de personagens importantes para a história estadunidense, são figuras rodeadas de controvérsias e que se encontram no meio de embates políticos de pesos históricos. Em ambas as adaptações, do musical e aqui do filme, as narrativas ganham através da ficção um ritmo muito interessante para suas biografias.

Sim, “Oppenheimer” tem três horas de duração e eu já vou contar que o clímax do filme não é o lançamento da bomba atômica. A escolha de Nolan no roteiro é que acompanhamos, na linha narrativa de fotografia colorida, a perspectiva do protagonista, J. Robert Oppenheimer, e não resumi-lo apenas ao pai da bomba atômica. Para os norte-americanos, Oppenheimer também é lembrado como um dos maiores cientistas, um físico-celebridade, mas que tem um legado a ser debatido e essa é a questão.

Assim, o roteiro tem um grande mérito a nos apresentar esse personagem sem maniqueísmo, se é ou não comunista. O filme não vai tomar esse partido, mas sim nos levar pela narrativa da obscuridade dessa mente, tanto do mundo científico como de sua moralidade. E está aí o clímax: questões morais. Só que, algo que eu aprovei no trabalho de Nolan, é em deixar essa resposta para que cada espectador tenha a sua. O diretor apresenta bem a dele, ao mesmo tempo que deixa brecha para que, após três horas imersivas, saiamos do cinema discutindo sobre essa figura que foi Oppenheimer.

No entanto, ao falar de roteiro, preciso pontuar que Nolan ainda não se encontrou ao retratar personagens femininas. Claro, para uma cinebiografia é preciso resumir, escolher e priorizar, mas eu senti falta de maior participação de Jean Tattock (Florence Pugh) porque, depois que li sobre, entendi o quão importante ela foi por apresentar Oppenheimer para a vida política. Ao mesmo tempo, Kitty (Emily Blunt) funciona nos momentos chaves (mas eu gostaria de mais), com destaque para sua cena no interrogatório.

Só que o filme se baseia nisso: momentos chaves. Nolan prioriza as horas de tensão para fazer a história andar, como uma manutenção da ameaça. A cena por exemplo do “quase zero” é sensacional, pois vemos claramente um cientista ao lado de um militar reagindo sobre a mesma informação. Infelizmente, fiquei bem mais do lado do personagem de Matt Damon porque, mesmo a possibilidade ínfima de destruir a atmosfera, eu já estaria em surtos. Aproveitando, vale destacar que todo o elenco é impecável, não só porque você vai reconhecendo grande nomes, mas pelas atuações que são essenciais para o suspense a todo tempo no ar, só que não só por conta da bomba.

Pensando nisso, a escolha pela narrativa não-linear e em duas cores me deixou muito fascinada. Não espere aquele Nolan que pega na sua mão e explica tudo. Aqui é uma biografia densa, na qual irão aparecer diversos coadjuvantes. Você não terá ajuda de letterings na tela informando qual ano é determinado evento. Assim, entendemos que o Aaron Burr aqui (sim, referência de “Hamilton”) é Lewis Strauss (Robert Downey Jr.). É preciso perceber que o peso do debate político muda no filme por conta do momento histórico, o cenário de Segunda Guerra Mundial é outro se comparado à Guerra Fria. Por isso que as discussões e desconfianças sobre Oppenheimer ditam esse clima. Dessa forma, essa colisão de planos para conectar esses momentos é a espinha dorsal do filme. Tudo isso, graças a uma mulher, a montadora Jennifer Lame.

Se “Oppenheimer” não tivesse ritmo, nada aconteceria porque, para a grandiosidade dessa história, é preciso de uma parte técnica grandiosa. Por sua vez, a fórmula impecável do filme é montagem + mixagem de som + captação de imagem. Nolan filmou em película de IMAX (que foi feita exclusivamente para o filme) porque ele sabia que precisava desse tamanho de tela para enquadrar os closes de seus personagens (eu daria um prêmio para o Cillian Murphy só pela suas mudanças apenas no olhar), o ambiente ao redor e a grandiosidade dos eventos. E nessa linha de qualidade de alta potência, a essencialidade do som. Não tem como não ficar arrepiado e imerso em cada cena. É uma preciosidade essa experiência cinematográfica que o filme proporciona. O volumoso da técnica é a cereja do bolo para contar, talvez, o simples, que é a história de alguém, pois são esses elementos que, juntos, prendem a gente na cadeira.

Cillian Murphy brilha durante todo o filme, não teria um Oppenheimer melhor. Saindo do coadjuvante dos filmes do Nolan, aqui ele mostra que conquistou merecidamente o holofote do protagonista. E seu personagem deve muito a grande atuação de Downey Jr., que é responsável pela reviravolta na narrativa. Soltando a mão da ficção científica e agarrando a biografia, Nolan trouxe um grande filme, daqueles que merecem ser descritos como Cinema com letra maiúscula. O peso do pai da bomba atômica está no seu prestígio científico e suas ações para o mundo político. Prepare-se para falar por muito tempo de Oppenheimer! E pelos impressionantes 57 dias (apenas) de filmagem e 18 km de película com um peso de 272kg, você pode tentar fazer o esforço de assistir em IMAX. Pode ir e me agradecer depois...



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