O desafio de colocar as páginas de um livro em uma tela é grande. Enquanto, por um lado, é preciso resumir muitos pontos, por outro as descrições são rapidamente resolvidas só pela imagem. Mesmo com todo sucesso, “Toda a Luz que Não Podemos Ver” não ganhou um projeto audiovisual a sua altura.
A história é de um romance histórico e, segundo o diretor Shawn Levy, virou um filme de quatro horas. Mas a direção dele e o roteiro de Steven Knight colocaram essa ficção em uma adaptação bastante rasa e sem ritmo. Claro, não é nenhum desperdício de tempo. Muitas pessoas podem se envolver e adorar, mas, para mim, a minissérie não atingiu o potencial que merecia.
A ambientação é um ponto alto, não só pelo recorte histórico da Segunda Guerra Mundial, mas pela fotografia e direção de arte. São os detalhes dos ambientes que chamam a atenção e as cores desse mundo que conseguem nos fazer mergulhar. E os objetos de cena, já que as maquetes de madeira e os dedos de Marie percorrendo as ruas são belas sequências.
Apesar de um 1º episódio interessante, os outros três são arrastados e não aproveitam seus personagens, não desenvolvem seus arcos e nós queríamos isso: conhecer sobre cada um deles. Até mesmo Hugh Laurie (que eu amo) está em um personagem incrível, como o tio Etienne, com um oculto interessante, mas não há espaço para o ator se desenvolver. O mesmo acontece com Mark Ruffalo, o pai, e Louis Hofmann, o soldado nazista. Queria destacar que a protagonista Marie é apaixonante porque as atrizes que dão vida a ela, Aria Mia Loberti e Nell Sutton, são as melhores partes. As duas são deficientes visuais que conquistam os holofotes.
Junto a isso, o que mais me chamou a atenção é a ideia do rádio, pois o meio de comunicação foi essencial para o fortalecimento do Terceiro Reich através da propaganda e também peça crucial para a Resistência, como é mostrado nessa história. O rádio é o que liga os personagens, em especial o detalhe do Professor, e utilizam de um fato histórico aqui também: a Rádio Londres realmente transmitiu um trecho do poema “Canção de Outono” como um código para avisar que os Aliados invadiriam a França. Dias depois foi o Dia D, em 6 de junho de 1944, uma cena bastante retratada em filmes sobre a chegada na Normandia.
Acho importante destacar um detalhe que aquece meu coração nesta produção. Em entrevista, Levy contou que muitos dos figurantes que interpretam os parisienses fugindo dos nazistas são refugiados ucranianos. Isto nos coloca ainda mais a entender a importância da memória histórica, já que passado e presente também se encontram aqui nessa produção.
E, bem, o que mais me desagradou foi a forçada do romance dos protagonistas, que realmente não precisava ou poderia ser de outra forma. O que seria um momento romântico pareceu ser um um final feliz forçado, descartável. Assista e tire suas conclusões. A minissérie não ficou memorável para mim, mas fez o bom trabalho de aumentar minha curiosidade pelo livro.