A produção sueca “Uma Família Quase Perfeita”, baseada em um romance de mesmo nome, está disponível na Netflix e atraiu minha curiosidade. Ainda bem! Porque, em seis episódios, podemos assistir um bom suspense sendo construído. Mas, acima de tudo, um bom drama graças ao desenvolvimento dos personagens.
Sinopse: Uma adolescente é acusada de assassinar brutalmente um homem muito mais velho. O crime de Stella, filha de um casal adorado pela comunidade, beira o inacreditável. Só pode ser um terrível engano.
Inicialmente, a gente começa a assistir para entender o crime em si e, claro, saber o veredito do que aconteceu. Entretanto, o drama familiar se mostra como a grande narrativa, especialmente como abre reflexões sobre a sociedade. Stella nos é apresentada quando tinha 15 anos, jovem, animada, atleta e que sofre um estupro. Sem até entender, congelada e sem reação, a jovem sofre toda a violência do abuso por um homem mais velho. A agressão continua em casa ao ser silenciada. O trauma de Stella cria-se, especialmente, porque sua mãe questiona todo o fato, o que ela falou ou como se comportou, mas, acima de tudo, a convence de que a denúncia não é o caminho certo por conta do desgaste da investigação e, principalmente, o medo do que vão dizer.
A minissérie se passa em uma cidade de porte médio, onde todos se conhecem. Logo, abre o questionamento para nós sobre a sociedade frente às agressões e a atitude da família, tão tradicional que o pai de Stella é pastor e a mãe é uma renomada advogada. Nesse ambiente cinza, nos planos fechados dentro da casa e a imudez da residência, toda a fotografia nos faz imergir em uma estética com traços noir que combinam bastante com a narrativa. Agora com 19 anos, Stella é acusada de cometer o assassinato do namorado, Christoffer, e começamos a nos questionar o que aconteceu.
O interessante é a construção do próprio personagem Christoffer, rico, machista e manipulador (o famoso vilão da vida real que, com certeza, todo mundo já conheceu) e como é criada a relação entre eles. Assim, acompanhamos o julgamento enquanto há os flashbacks dos acontecimentos e o que sobressai são as relações, sejam a familiar, a de amizades e a amorosa. O suspense também é bem sustentado até o final, não pelo que aconteceu, mas pela estratégia de defesa arquitetada pela mãe de Stella. Gostei bastante de todas as atuações, especialmente como também podemos observar esse traço até cultural do sueco, pois há reações mais contidas, silenciosas e como o corpo fala bem.
“Uma Família Quase Perfeita” é boa pedida para maratonar e, principalmente, refletir sobre tantos assuntos da nossa sociedade. Sobre o julgamento, é aquela máxima: inocente até que se prove o contrário. Uma produção interessante que cumpre com o que promete.