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BRTs, não!

Política & Vida, Por Paulo Baía, Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ

Em 23/08/2022 às 19:02:03

Os deputados André Ceciliano, Clarissa Garotinho, Conte Bittencourt, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, Waldeck Carneiro, Noel de Carvalho e Martha Rocha me fizeram o mesmo desafio: como analista político, lançar uma pauta que gere desenvolvimento, empregos, renda, proteção social, qualidade de vida e sustentabilidade.

Uma conversa com o professor da universidade de Columbia, em Nova York, Leonardo Petronilha, que aposta tudo em Romário, reforçou o desafio.

Pensei eu: o estado do Rio de Janeiro vive uma crise permanente, aguda, dramática de mobilidade urbana, crise que está presente em todos os 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Sendo que no Grande Rio, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que concentra aproximadamente 75% da população, eu diria sem pestanejar, recuperando discursos perdidos lá no início da década de 1970 do século 20, que essa pauta é a transporte de pessoas, o ir e vir.

Temos o projeto da linha 3 do metrô em direção a São Gonçalo/Itaboraí presente nos planos de todas as candidaturas ao governo do Rio de Janeiro. Sem dúvida é uma "urgência de presente" e uma necessidade crescente.

Qual projeto é a grande incógnita? Torço para que a ideia de um BRT não prospere, embora o lobby a seu favor, bem articulado, flexível e lubrificado em trânsitos interpessoais e Institucionais, seja muito eficiente e sedutor.

Na minha nostalgia de gestor público urbano faço reviver a ideia de linhas de barcas, de catamarãs, saindo de Duque de Caxias, Magé e São Gonçalo em direção a Praça XV, no centro velho da cidade do Rio de Janeiro, integradas ao sistema do VLT e ao metrô já existente.

Existem vários estudos de viabilidade técnica, financeira e de sustentabilidade em transportes para um número grande de usuários. Os planos existem, é necessário desengavetá-los e dar a eles novas perspectivas tecnológicas. A decisão é eminentemente política, de substituir o uso do transporte de "massa" através de ônibus e vans, como é feito hoje.

Nessa crise aguda de mobilidade de pessoas, o uso quase exclusivo de ônibus para transportar milhões de pessoas/dia não é só um erro técnico, mas pode ser caracterizado, com o meu exagero de sempre, como uma "improbidade administrativa deliberada": efetivamente não resolve a questão da mobilidade urbana, pelo contrário, a agrava.

Existem planos e projetos para a ampliação das linhas 1, 2 e 4 do metrô interligando vários pontos e bairros da cidade do Rio de Janeiro e em direção a Baixada Fluminense, projetos factíveis e rentáveis, com novíssimas tecnologias para metrô, e temos o protótipo do trem de levitação magnética da COPPE/UFRJ, com uma tecnologia avançada, eficiente, econômica e sustentável.

Se não quiserem o projeto da COPPE/UFRJ, que usem o projeto trem-monotrilho dos chineses: lá, eles estão interligando suas localidades, cidades e regiões com trens de tecnologia nova em monotrilhos.

A crise da mobilidade urbana de pessoas vai aumentar, e muito, juntamente com a crise dos combustíveis fósseis, com fonte no petróleo.

Sei que ainda temos pelo menos uns 70 anos de perspectiva de combustível fóssil como gás, gasolina e diesel, com base no petróleo do estado do Rio de Janeiro. Essa base de energia custa caro, como vemos nos últimos anos, com os preços dos combustíveis cada vez mais altos.

As indústrias automobilística e de motocicletas já estão avançando na produção e barateamemto de carros híbridos, elétricos e com combustíveis fósseis/etanol.

Os veículos eletrônicos já não são uma novidade, as motos em profusão nas cidades são sintomas disso. As motos já estão à frente com seus modelos exclusivamente elétricos. Creio que, em pouco tempo, aproximadamente cinco anos, teremos uma frota de veículos elétricos bastante elevada. Precisaremos de infraestrutura de abastecimento elétrico, redes de transmissão, usinas termoelétricas com uso ainda de gás natural, mas de energia solar e eólica, para abastecimento de uma imensa frota de transportes individuais.

Isso é uma lógica que tem que ser enfrentada nas cidades agora. Como eu digo, parafraseando Israel Klabin, "uma urgência do presente", não de futuro.

Nas cidades, a prioridade tem de ser do pedestre. Para tal, é necessário desengavetar os estudos intermodais, de transbordo de pessoas e estacionamentos para carros, ônibus, vans e motos, criar integração entre ônibus, vans, carros, motos e bicicletas com os sistemas metroviários e ferroviários urbanos. Volto a insistir que esses estudos já existem, e não foram usados na calamitosa decisão de construção e implantação de vias de BRT na cidade do Rio de Janeiro.

Os BRTs não apenas não deram certo, como agravaram de maneira terrível a situação do transporte coletivo e da mobilidade de pessoas nos territórios cariocas. Voltar a insistir em BRTs será inevitavelmente criminoso!

Assim meu recado para os deputados citados no primeiro parágrafo e para o professor Leonardo Petronilha é que, talvez, tenhamos que ser nostálgicos e pensar em soluções de várias modalidades de transportes, pensar sobre aquilo que nos anos 1970 do século 20 já se falava, em transporte intermodal e variações, BRTs NÃO!


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