A dependência tecnológica (uma condição ou transtorno psicológico que se manifesta pela dificuldade, por parte de um indivíduo de se desconectar de aparelhos – Gaming Disorder) vem sendo abordada na novela das 21 horas da Rede Globo, escrita pela autora Glória Perez. No folhetim, o personagem Theo sofre emocionalmente com o vício em games, adoecendo a si e também sua família que está aprendendo a lidar com o problema. Mas o que vem a ser essa doença e como saber quando um simples lazer se transforma em um problema que deve ser levado a sério?
A intensidade, frequência e duração do tempo de utilização dos games são fatores determinantes para fechar um diagnóstico. O indivíduo se sente incapaz de controlar ou de colocar um limite no tempo em que realiza a atividade. Além disso, o jogo passa a ser sua prioridade em detrimento dos interesses vitais, como comer, dormir, descansar, higienizar, socializar, trabalhar e estudar, dentre outras rotinas cotidianas. Por fim, é muito comum perceber que, à medida que o vício se torna incontrolável, a pessoa começa a ter uma escalada de tempo crescente para os jogos.
Pensando nas causas deste problema, ainda não temos uma causa específica e determinada, podendo ser um somatório de fatores. Claro que a questão se torna muito subjetiva, pois pode ser por fuga da realidade, carência afetiva, necessidade de se desafiar a todo instante, procrastinação, baixa autoestima, dificuldades de autocontrole, impulsividade, deficiência comunicativa, déficit do manejo emocional, timidez em excesso, depressão, ansiedade, prejuízos cognitivos e dificuldade no gerenciamento das emoções, entre outros. Mas, assim como todo tipo de vício (drogas, alcoolismo, tabagismo, sexo, compras...) existe o fator recompensa cerebral. Um mecanismo biológico que provoca motivações para permanecer no vício. Isso acontece porque ao jogar, o neurotransmissor dopamina é liberado, provocando prazer imediato, favorecendo a permanência na atividade. O vício provoca abstinência quando o indivíduo é impossibilitado de continuar no game, provocando a manifestação de sintomas como agressividade, ansiedade ou irritabilidade.
E qual seria o melhor tratamento? Busque ajuda de um profissional de saúde mental, que poderá, através de técnicas e instrumentos específicos, realizar uma avaliação neuropsicológica e psicológica para a constatação do prejuízo social em razão do abuso ou dependência de games e, desta forma, fechar um diagnóstico e definir a melhor conduta. Normalmente, o mais comum é aliar um tratamento para transtornos de impulso. Ou seja, tanto crianças, quanto adultos podem apresentar sinais de recuperação, basta que o contato com os jogos seja monitorado. Isso não significa impedir a pessoa de jogar, mas determinar regras e definir horários, tomando o cuidado para que a exposição ao game não ultrapasse o total de uma hora por dia.
Enfim, tanto para o personagem Theo da novela de Gloria Perez quanto para qualquer outro indivíduo, a cura desta condição de sofrimento é possível. A eficácia se dá de forma gradual, uma vez que a intensidade da prática de jogos for diminuindo, sem dor emocional identificada. Portanto, a terapia, o autocuidado, o desenvolvimento pessoal, a clareza de informação e o acolhimento de uma rede de apoio, são muito eficazes no combate ao vício.