Os indestrutíveis

Em poucos minutos, na velocidade de um rastilho de pólvora, meu celular foi metralhado por centenas de zaps. Eram notícias sobre a saúde de Roberto Dinamite, meu maior ídolo no futebol, aquele que incontáveis vezes me fez sair de casa, sob temporal ou sol escaldante, para assisti-lo, admirá-lo, reverenciá-lo. Mirava naquele camisa 10 e nada mais me importava. Esse cara já me fez gastar uns bons níqueis em pastilhas Valda de tanto gritar o seu nome. Rasgava o peito, explodia os pulmões, ninguém berrava mais alto do que eu, posso apostar. Numa dinamite, o pavio é um rastilho. E a junção desse craque com a torcida era como unir as pontas de fios embebidos de pólvora: explosiva!!!! Já tive a oportunidade de lhe falar que eu era um daqueles fiéis pontinhos coloridos nas arquibancadas, que o acompanhava estádios afora, como um de seus guarda-costas anônimos. Poucos dias antes de receber essas notícias, certamente fakenews, sobre o tratamento a que será submetido o indestrutível DINAMITE, também me falaram umas baboseiras sobre a atuação de outro gigante do futebol, Zico, no Jogo das Estrelas. Com sérios problemas no quadril, o Galinho atuou poucos minutos, saiu mancando e talvez não consiga jogar mais suas peladas. Esquece, não merecemos isso. Apaguei todas as mensagens, desliguei a tevê, pedi licença ao mundo e me isolei. Abri a gaveta onde guardo meus sonhos e folheei os álbuns de figurinhas, manuseei os cards, centenas deles, e desembrulhei meus times de botão. Caraca, e essa capa da Manchete Esportiva com Zico e Dinamite novinhos! Estou com 58 anos, mas vocês sabem que nossa mente estacionou nos 17 e pensamos bobagens 24 horas. Quando Dinamite estava prestes a bater uma falta, observado por Zico, um grito perfurou a minha bolha: “O iFood chegou!”. Saco! Quando passo pela sala ouço que o ator Sidney Poitier morreu e as novas cepas avançam. Tapo os ouvidos, deixo a refeição na mesa e volto correndo para o meu bunker encantado, justamente no momento em que Dinamite mete a bola no ângulo e comemora abraçado com Zico. Qual o problema, o time é meu e os dois jogam juntos! “A comida está na mesa, vem!”. Estádio lotado, pulsante, milhares de pessoas aglomeradas, mas tenho que ir embora. Do lado de fora, escuto a torcida gritando os nomes de Zico e Dinamite e agradeço aos céus por eles continuarem comandando a massa e colorindo nossos corações!