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Amor incondicional

Menina Aleatória, Por Anna Domingues, Escritora

Em 18/11/2024 às 07:56:26

Sempre ouvi dizer que o amor incondicional é o ápice do sentimento humano. Parece bonito na teoria, não é? Amar sem restrições, sem exigências, sem colocar o outro à prova. Um amor que tudo aceita, tudo suporta, que acolhe, que se faz sem questionar. Mas, no mundo real, essa ideia pode ser tão perigosa quanto atraente, afinal, o que acontece com quem se doa demais?

É fácil reconhecer no meio da multidão aquele que cuida de todo mundo. São aqueles que estão sempre por perto, de prontidão, com um conselho na ponta da língua e a mão paralela. Eles estão lá quando alguém precisa, seja para dar consolo ou direção. São os que salvam os outros de seus próprios buracos, os que acendem a luz quando tudo parece escuro.

Mas, se você olhar com mais atenção, vai perceber que, atrás desse gesto constante de cuidar, há uma pessoa que também precisa ser cuidada. Alguém que, por trás da força, carrega seu próprio fardo silencioso. Esse que está sempre disposto a ouvir, a apoiar, a salvar, também tem suas angústias, seus medos e suas dores, mas raramente compartilha. Porque, quando se é quem cuida de todo mundo, fica difícil permitir-se ser frágil e vulnerável. A necessidade de ser forte, de dar suporte, de nunca vacilar, acaba criando um muro invisível. Mas tudo parece valer a pena em nome do amor incondicional...

Amar incondicionalmente é abrir mão das barreiras que nos protegem. É vestir uma capa de super-herói, é dizer “sim” quando o peito grita “não”, é sacrificar seus limites e abrir mão dos próprios sonhos. E, assim, o amor se torna doentio. Não porque ele deixa de existir, mas porque existe da maneira errada. Ele gruda, sufoca, transforma carinho em obsessão, entrega em cobrança. É o tipo de amor que te leva a fazer o impossível para agradar o outro. É a ordinária situação em que você guarda falas e pensamentos para não magoar alguém e não percebe que o peso de guardá-las te fere muito mais.

O amor doentio pode surgir em uma criança que se esforça para ser perfeita, acreditando que, com boas notas e comportamento impecável, finalmente ouvirá um “eu te amo”, sem o “mas”. Ou o adulto que trabalha até a exaustão para provar seu valor, esperando o reconhecimento que nunca chega. É a esposa que molda sua vida ao desejo do outro, acreditando que isso bastará para não ser abandonada. É o amigo que aceita determinados desrespeitos porque “é o jeitinho” do outro, e permanece ao lado de quem o trata com descaso para não ficar sozinho. Em uma relação parental, questiono até que ponto se trata de medo ou de respeito. Ser submisso ao pavor de não agradar, não ser o suficiente, não ser o filho que os pais idealizaram, não dar conta de sair como o planejado… Amor ou temor?

O amor doentio transforma gestos de carinho em moedas de troca. O esforço por outra pessoa se torna um ato de desespero: “veja o quanto eu faço por você! Veja o quanto eu te amo!” O problema é que o amor não se mede pelo tamanho do esforço, o afeto genuíno não se ganha com conquistas.

E afinal, quais são as condições finais do amor incondicional?

Porque vamos combinar: ninguém vive sem condições. Não somos santos, tampouco entidades espirituais elevadas. Somos humanos, cobertos de falhas, desejos e, sim, expectativas. E isso é natural. O problema do amor incondicional é que ele ignora essa realidade e coloca o peso de um ideal impossível nos ombros de quem o pratica. A quem estamos tentando enganar quando afirmamos que não esperamos nada em troca pelos nossos atos se a decepção - quando ocorre uma falta de consideração - nos entrega?

O amor incondicional, quando real, não pede nada além do que já se é. Ele existe no silêncio das imperfeições, na facilidade dos erros, no conforto da verdade, na presença que não exige espetáculo. E, no fim, amar alguém incondicionalmente, sem questionar, sem exigir nada, não é prova de força ou superioridade. É um sinal de que você esqueceu de colocar a mesma intensidade no amor mais importante de todos: o próprio. Outra vez...

Até o próximo texto!

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