A tecnologia tem essa capacidade fascinante de nos conectar com quem está longe, mas, ironicamente, por vezes nos distancia de quem está ao lado. Hoje em dia, dizer “eu te amo” por mensagem de texto é mais comum do que um olhar prolongado. Viramos mestres em emojis, mas analfabetos em expressar o que realmente sentimos cara a cara. É como se estivéssemos ensaiando uma peça onde a placa é virtual e os diálogos não têm entonação, apenas caracteres em uma tela.
Parece que as relações são tão frágeis quanto a bateria do celular ao final do dia. Uma briga que antes era resolvida com um jantar e uma conversa sincera, agora se estende por mensagens lidas e ignoradas. Vira um jogo de estratégias: quem responde mais rápido, quem visualiza e não reage. Até a ausência de um coração na mensagem pode virar sinal absoluto de desinteresse.
E o que dizer dos relacionamentos que começam e terminam com um swipe? A promessa de infinitas possibilidades virou um peso: se aquela pessoa não é perfeita, basta deslizar o dedo para o próximo perfil. No meio disso, esquecemos que o amor é feito de imperfeições, que as conexões reais desativam a paciência e a presença – coisas que nenhum aplicativo pode oferecer. Porque, no fundo, o amor é artesanal, feito à mão, e não algo que se pode baixar em alta velocidade.
Naquele café, enquanto o casal trocava atenção por Wi-Fi, me peguei refletindo sobre os momentos em que eu mesma fiz o mesmo. Quantas vezes enfrentei agendas cheias, compromissos inadiáveis e aquele clássico “vamos ver, e eu te aviso” para reunir um grupo de amigos, e no “grande dia” lá estávamos todos sentados ao redor da mesa, e o que deveria ser um momento de conexão vira um cenário peculiar: metade do grupo está rindo de memes no Instagram, outro está respondendo mensagens do trabalho, e o restante desliza o dedo na tela, sem rumor, apenas por hábito. De vez em quando alguém levanta os olhos e diz: “Nossa, preciso te contar uma coisa!” — mas é interrompido pelo som de notificação no telefone. Aquilo parece realemente muito mais importante...
Terminei o meu café e, antes de ir embora, guardei o celular na bolsa como quem sela um pacto silencioso com o presente. Decidi que no lugar da próxima mensagem, eu enviaria um olhar, sem intermediários. Afinal, há algo que nenhuma tecnologia pode substituir: a conexão que nasce no calor do momento, na espontaneidade de um sorriso, no peso e na leveza de estar realmente presente. Caminhei pela rua sentindo uma espécie de liberdade que há tempos não experimentava, como se tivesse reconquistado um pedaço de mim que andava perdido entre notificações e redes sociais.
Decidi que, naquele dia, priorizaria os toques sobre os cliques, os olhares sobre as mensagens. Afinal, as melhores histórias não são escritas em teclados, mas vividas em encontros, em conversas que se estendem sem pressa. E, enquanto o mundo continuava girando em seu ritmo acelerado, eu escolhi desacelerar, respirar fundo e me lembrar de que, no fundo, o que mais desejamos não é um coração de pixel, mas um que pulsa de verdade, cheio de imperfeições, cheio de vida. Um coração que não precisa de filtros ou atualizações, mas de presença, de atenção, de calor humano.
Até o próximo texto!
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